Bar do Khatar

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Alguns dias se passaram desde a recuperação de Adora e Felina e ambas retornaram à Lua Minguante com o objetivo de conversar novamente com Gridan sobre os caminhos que a gata deveria tomar. Karsi permaneceu em Lua Clara aos cuidados de Cintilante e Arqueiro para que a menina ficasse temporariamente em um ambiente calmo e tranquilo, e quando fosse o momento certo, os dois retornariam com a garotinha para poder dar continuidade aos estudos dos artefatos místicos e tecnológicos. Apesar do efeito da mente compartilhada ainda ocorrer em alguns casos com Adora e Felina, como por exemplo na conexão de pensamentos, sonhos e emoções, a dupla já conseguia realizar suas atividades normalmente, sem grandes prejuízos. O foco naquele momento era apresentar Felina à alta sociedade como filha da Rainha Mahara e herdeira legítima do trono, provando que era digna e merecedora do mesmo. A forma de provar esse merecimento seria por meio de um grande baile que receberia os membros mais influentes dos Magicats, pois esse era o estilo da nobreza de Lua Minguante. Obviamente Felina detestou a ideia de imediato, pois seriam necessárias várias aulas de boas maneiras, e seu contato com a última professora a desanimou, mas Gridan prometeu que trocaria a instrutora e Adora a convenceu que valeria a pena seguir em frente. Relutante, a gata aceitou, mesmo sem estar realmente confiante sobre sua decisão. Passaram-se algumas semanas de treinamento e planejamento da festa e o casal percebeu que seria uma boa ideia conhecer melhor a população local, não apenas para se integrar melhor com o reino, mas também para relaxar e ter um momento de lazer. Para isso decidiram utilizar disfarces para não chamar atenção, como capuzes e mantos que cobriam seus cabelos e parte de seus rostos.

Perambularam pelas ruas da cidade livremente, observando as lojas e as moradias, afastando-se cada vez mais do centro da capital. Os prédios estavam mudando de aspecto e não mais eram tão enfeitados e belos como costumam ser aqueles do centro comercial. Algumas casas eram mais simples e as estradas se tornavam cada vez mais irregulares, com buracos e desníveis que poderiam ser um perigo para qualquer desavisado que andasse ali. Continuaram sua caminhada até chegar em um estabelecimento particularmente agitado, com uma grande aglomeração em sua volta, o que destoava do resto do ambiente, pois ao redor não havia qualquer alma viva circulando, todos estavam concentrados naquele local específico. Leram a fachada que enunciava "Bar do Khatar" com letras garrafais e porcamente escritas, sem qualquer cuidado com a legibilidade ou a diagramação. O lugar era simples, assim como as construções ao redor, cujos materiais eram principalmente madeira e pedra, mas a grande diferença era que aquele estabelecimento estava decorado com luzes piscantes no exterior.

"Você não quer entrar nesse lugar suspeito, né?" - indagou Adora mentalmente para Felina. "Olha pra essa gente, parece até os bandidos que encontramos na Terra Vermelha."

"Já lidei bem com as pessoas de lá, vou conseguir lidar com esses caras numa boa". - respondeu Felina, confiante.

"Felina, não é hora de ser imprudente, e se alguém te reconhecer?"

"Não vão me reconhecer, ninguém aqui me conhece ainda, não fui apresentada oficialmente para o reino, esqueceu?"

As duas seguiram em frente e adentraram o ambiente quente, sujo e claustrofóbico. Além do barulho altíssimo e da parca iluminação, limitada a luzes coloridas que rodopiavam pelo recinto, a sala de recepção era também pouco aconchegante devido aos seus frequentadores, visto que quase todos ali trajavam roupas rasgadas, puídas e desgastadas. O que mais marcava o estilo ali era a presença de jaquetas e botas de couro, de resto, cada um se vestia de formas distintas e variadas, não havia um padrão. Adentrando mais para o interior do bar, onde a movimentação era maior, via-se ao fundo uma banda tocando, pequenas bancadas onde o público bebia, jogava e apostava, além de uma grande mesa de sinuca ao lado direito. Olhando mais atentamente, via-se alguns grupos mais isolados, cada um com uma atividade peculiar. Alguns por exemplo apostavam queda de braço, outros trocavam socos entre si e os demais apenas conversavam e riam, portando em suas mãos um saquinho transparente com um conteúdo verde desconhecido. Não seria possível medir quantas pessoas estavam no local, pois o salão era cheio de corredores e portas escondidas, de onde sempre saia e entrava alguém novo. Ambas foram caminhando em direção ao balcão principal, localizado no centro do estabelecimento e pediram duas bebias.

The Tale of the Cat PrincessOnde histórias criam vida. Descubra agora