Bons modos

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Era de manhã bem cedo e todos estavam no térreo saboreando o café da manhã típico do local. Karsi consumia com avidez tudo do bom e do melhor, pois nunca tivera acesso antes a tanta variedade de alimentos. Aquele seria um de seus dias mais felizes. Cintilante e Arqueiro, após uma longa noite de descanso, estavam entusiasmados com o que seria descoberto no dia, pois ontem chamaram Entrapta para uma inspeção e análise de todos os materiais dos Primeiros que tinham encontrado. Sabia-se que seus conhecimentos tecnológicos fariam diferença no entendimento do que foi achado, portanto, as expectativas estavam bem altas. O bom humor do casal não estava presente, contudo, em Felina, que durante todo o desjejum não tocou ou sequer olhou a comida. Mesmo com a tentativa de deboche e provocação de seus amigos, chamando-a sarcasticamente de princesa e brincando com a ironia que o destino gerou em sua vida, Felina, que normalmente responderia à zombaria com piadas debochadas, não conseguiu reagir de forma costumeira. Adora estava preocupadíssima com sua namorada, principalmente considerando que ambas não tiveram um diálogo satisfatório após o episódio da noite anterior. Após o término da refeição a gata foi chamada para conversar no jardim dos fundos do estabelecimento, onde poderiam discutir com maior privacidade.

- Felina, me explica o que aconteceu ontem. - Iniciou a loira, com tom de aflição. - Você não se alimentou direito hoje e está diferente. Você não me explicou o porquê de estar chorando.

- Adora... - respondeu Felina, com uma voz melancólica. - Não estou a fim de conversar hoje. Quero ficar sozinha.

- Felina, por que você não se abre pra mim? - indagou enquanto colocava suas mãos sobre os ombros da gata. - Eu não tenho como adivinhar o que você está sentido!

- Por favor, só me deixa em paz. - respondeu Felina enquanto se desvencilhava dos braços de Adora e entrava no interior da estalagem. - Não estou de bom humor, apenas não dormi bem.

Desde então as duas não conversaram ao longo do dia. Adora sabia que algo incomodava Felina, mas não conseguia entender o que era. Tudo que ela queria era poder ler a mente de sua namorada e compreender o que se passava ali dentro.

O grupo aguardou a chegada de Entrapta para que pudesse se dirigir novamente ao encontro de Gridan. Chegando novamente no museu, a princesa da tecnologia se exaltou no momento em que fixou os olhos nos itens dos Primeiros. Já se sabia que seriam necessárias horas para averiguar o tipo de material que tinham em mãos. Percebendo o desânimo de Felina, Gridan deu a ideia de dividir o grupo em duas salas diferentes: Adora, Arqueiro e Entrapta ficariam analisando os artefatos por terem melhor conhecimento sobre o assunto, enquanto ele e Cintilante, em outro aposento, dariam para Felina lições de postura e comportamento ideal de uma princesa, com auxílio de uma professora especialista em etiqueta e boas maneiras. Cintilante se voluntariou para ajudar nas aulas, pois durante a infância também teve o mesmo tipo de treinamento, logo ela sabia como lidar com as dificuldades que uma iniciante passaria nos exercícios. Karsi acompanhou o segundo grupo, com a insistência de Felina.

A parte inicial das aulas consistia em Gridan apresentando um panorama geral da história, cultura, geografia e política dos Magicats, tentando descrever de forma breve, sucinta e clara os pontos mais relevantes de cada tema. O ancião também indicou um livro chamado "História da Fundação de Lua Minguante", o qual esclarecia com maior profundidade o surgimento e desenvolvimento do reino dos Magicats.

- Que curioso - observou Cintilante. - Esse não parece ser um nome típico do dialeto local.

- Não. - respondeu Gridan. - Esse nome surgiu na época em que nos relacionávamos bem com toda Ehteria, eram tempos em que nos preocupávamos em dar uma boa imagem para os estrangeiros, mas foi a milênios atrás, infelizmente hoje já não é mais assim. - conclui com ar de tristeza.

The Tale of the Cat PrincessOnde histórias criam vida. Descubra agora