12 | A casa da avó

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A CASA DA AVÓ

Cinco dias. O monstro não veio por cinco dias.

Talvez ele não soubesse onde sua avó morava. Ou talvez só fosse longe demais. Ela não tinha mesmo o

que se pode chamar de jardim, por mais que a casa dela fosse muito maior do que a de Conor e sua mãe.

Ela encheu o jardim dos fundos com casinhas, uma lagoa e um "escritório" de madeira instalado na

última metade, onde fazia a maior parte do seu trabalho como corretora de imóveis, um trabalho tão

entediante que Conor nunca teve paciência de ouvir mais do que a primeira frase da descrição. Tudo o

mais eram apenas calçadinhas pavimentadas e flores em vasos. Sem espaço para uma árvore. Não tinha

nem mesmo grama.

- Não fique aqui olhando feito bobo, meu jovem - disse sua avó, saindo pela porta

dos fundos e prendendo um brinco. - Seu pai estará aqui em breve e vou ver sua mãe.

- Eu não estava olhando feito bobo - retrucou Conor.
- O que isso tem a ver? Entre.

Ela desapareceu na casa e Conor a seguiu lentamente. Era domingo, dia em que seu pai chegaria do

aeroporto. Ele viria pegar Conor, eles iriam visitar sua mãe e, depois, passariam algum tempo juntos

como "pai e filho". Conor tinha quase certeza de que isso era um código para outra rodada de Precisamos

Ter Uma Conversinha.

Sua avó não estaria presente quando seu pai chegasse. O que era bom para todos.

- Pegue sua mochila da sala, por favor - falou ela, passando por ele e apanhando a

bolsa. - Ele não tem motivos para achar que você está morando num chiqueiro.

- Não tem muita chance de isso acontecer - resmungou Conor, enquanto ela ia até o

espelho verificar o batom.

A casa da avó era mais limpa do que o quarto de hospital da sua mãe. A faxineira dela, Marta, vinha às

quartas, mas Conor não entendia por quê. A avó acordava com as galinhas para aspirar a casa, lavar a

roupa quatro vezes por semana, e uma vez limpou a banheira à meia-noite, antes de ir para a cama. Ela

não deixava que as louças ficassem na pia antes de irem para a máquina e certa vez até mesmo pegou o

prato em que Conor ainda comia.

- Uma mulher da minha idade, morando sozinha - comentou ela um dia. - Se não

mantiver as coisas limpas, quem vai?

Ela disse isso como um desafio, como se exigisse uma resposta de Conor.

Ela o levava para a escola, e ele chegava adiantado todos os dias, mesmo sendo um trajeto de quarenta e

cinco minutos. Ela também estava esperando por ele todos os dias depois da aula, indo diretamente para

o hospital visitar a mãe dele. Ficavam por mais ou menos uma hora, menos se sua mãe estivesse cansada

demais para conversar - o que aconteceu duas vezes nos últimos cinco dias -, e depois voltavam para

a casa da avó, onde ela o obrigava a fazer a lição de casa enquanto pedia uma comida que ainda não

tivessem provado.

Sete Minutos Depois Da Meia-Noite [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora