32 | A verdade

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Sua avó entrou correndo no quarto da sua mãe, na frente dele, com uma dúvida terrível no rosto. Mas
havia uma enfermeira lá dentro que respondeu imediatamente.
— Está tudo bem — disse. — Você chegou a tempo.
Sua avó levou as mãos à boca e soltou um gritinho de alívio.
— Vejo que você o encontrou — comentou a enfermeira, olhando para Conor.
— Sim — foi tudo o que sua avó conseguiu dizer.
Ela e Conor estavam olhando para a mãe dele. O quarto estava quase escuro, só uma luz sobre a cama
onde ela se deitava. Seus olhos estavam fechados e ela respirava como se houvesse um peso sobre o
peito. A enfermeira os deixou sozinhos e a avó se sentou na cadeira ao lado da cama da mãe, inclinando-
se para a frente para segurar uma das mãos dela. Ela a segurou com força, beijando-a e embalando-a.
— Mãe? — ouviu ele. Era sua própria mãe falando, a voz tão baixa e embargada que
era quase impossível entender.
— Estou aqui, querida — disse sua avó, ainda segurando a mão da filha. — Conor está aqui também.
— Está? — disse sua mãe, sem abrir os olhos.
Sua avó olhou para ele de um jeito que lhe dizia para falar algo.
— Estou aqui, mamãe — disse ele.
Sua mãe não disse nada, só estendeu a mão o mais perto possível dele.
Pedindo a ele que a segurasse.
Segurasse e não soltasse.
— Eis aqui o fim da história — disse o monstro por trás dele.
— O que faço? — sussurrou Conor.
Ele sentiu o monstro colocar as mãos sobre os ombros dele. De certa forma, mãos tão suaves que parecia
que o monstro apenas o sustentava.
— Tudo o que você tem de fazer é dizer a verdade — disse o monstro.
— Tenho medo — disse Conor. Ele via a avó na luz fraca, dobrando-se sobre a filha.
Ele via a mão da mãe, ainda esticada, os olhos ainda fechados.
— Claro que você está com medo — disse o monstro, empurrando-o com cuidado. — E
ainda assim você tem de fazer isso.
Enquanto as mãos do monstro, cuidadosas mas firmes, o guiavam em direção à mãe, Conor viu o relógio
na parede sobre a cama. De alguma forma, já eram 23h46.
Vinte e um minutos para a 00h07.
Ele quis perguntar ao monstro o que iria acontecer, mas não teve coragem.
Porque sentia que sabia.
— Se você disser a verdade — sussurrou o monstro num de seus ouvidos —, conseguirá enfrentar o que
vai acontecer.
E assim Conor olhou para a mãe, para a mão estendida dela. Ele sentia novamente um
nó na garganta e os olhos se enchendo de lágrimas.
Mas não era o afogamento do pesadelo. Era algo mais simples e claro.
Ainda assim, igualmente difícil.
Ele segurou a mão da mãe.
Ela abriu os olhos rapidamente, percebendo a presença dele ali. Depois os fechou novamente.
Mas ela o vira.
E ele soube. Soube que realmente não havia retorno. Aquilo aconteceria,
independentemente do que quisesse, independentemente do que sentisse.
E ele também sabia que sobreviveria àquilo.
E seria horrível. E seria mais do que horrível.
Mas ele sobreviveria.
E foi por isso que o monstro veio. Deve ter sido. Conor precisava, e isso de alguma forma tinha chamado
o monstro. E ele saíra andando. Só por causa deste momento.
— Você vai ficar? — sussurrou Conor para o monstro, quase sem conseguir falar. —
Você vai ficar até que…
— Vou ficar — disse o monstro, as mãos ainda nos ombros de Conor. — Agora tudo o que você tem de
fazer é falar a verdade.
E foi o que Conor fez.
Ele respirou fundo.
E, finalmente, falou a verdade completa e derradeira.
— Não quero que você se vá — disse, as lágrimas saindo dos olhos primeiro lentamente e depois aos
montes.
— Eu sei, meu amor — falou sua mãe, a voz pesada. — Eu sei.
Ele sentia o monstro segurando-o e sustentando-o ali.
— Não quero que você se vá — repetiu.
E era tudo o que ele precisava dizer.
Inclinou-se sobre a cama e passou o braço ao redor dela.
Abraçando-a.
Ele sabia que isso aconteceria, e logo, talvez à 00h07. O momento em que ela se soltaria
dele, por mais que ele a segurasse com força.
— Mas não agora — sussurrou o monstro, ainda perto. — Ainda não.
Conor se segurou com força à sua mãe.
E, ao fazer isso, ele pôde finalmente deixá-la partir.

FIM

Sete Minutos Depois Da Meia-Noite [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora