05 | Três histórias

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Ele ficou deitado na cama naquela noite, totalmente desperto, observando o relógio no criado-mudo.

Foi um anoitecer muito lento. Preparar a lasanha congelada tinha deixado sua mãe tão cansada que ela adormeceu cinco minutos depois de começar a assistir a EastEnders.

Conor odiava o programa, mas teve o cuidado de gravá-lo; depois, jogou um edredom sobre ela e foi lavar a louça.

O celular de sua mãe tocou, sem acordá-la. Conor viu que era a mãe de Lily ligando e deixou cair na caixa-postal. Ele fez a lição de casa na mesa da cozinha, parando antes de chegar à tarefa das Histórias de Vida da srta. Marl. Em seguida, no quarto, navegou na internet por um tempo antes de escovar os dentes e ir se deitar. Mal tinha apagado a luz quando sua mãe entrou pedindo desculpas — muito grogue — e lhe deu um beijo de boa-noite.

Poucos minutos mais tarde, ele a ouviu no banheiro, vomitando.

— Precisa de ajuda? — perguntou ele da cama.

— Não, querido — respondeu a mãe, fraca. — Já estou meio acostumada com isso agora.

Aí é que está. Conor também já estava acostumado. Sempre o segundo ou terceiro dia depois do início do tratamento era o pior, sempre os dias em que ela se sentia mais cansada, em que mais vomitava. Isso quase tinha se tornado normal.

Depois de um tempo, o vômito cessou. Ele ouviu a luz do banheiro sendo desligada e a porta do quarto dela se fechando.

Isso foi há duas horas. Ele não pregou os olhos desde então, deitado, esperando.

Mas pelo quê?

No relógio ao lado da cama via-se 00h05. Depois, 00h06. Ele olhou para a janela do quarto, que estava bem fechada apesar da noite quente. O relógio marcou 00h07.

Conor se levantou, foi até a janela e olhou para fora.

O monstro estava no seu jardim, encarando-o.

— Abra — disse o monstro, a voz clara como se a janela não os separasse. — Quero falar com você.

— Ah, sim, claro — disse Conor, falando baixinho. — Porque é o que monstros sempre querem. Conversar.

O monstro sorriu. Era uma noite horrível. — Se eu tiver de entrar à força — continuou ele —, eu o farei de bom grado.

Ele ergueu o punho nodoso para abrir caminho pela parede do quarto de Conor.

— Não! — exclamou o garoto. — Não quero que você acorde minha mãe.

— Então saia, disse o monstro, e, até mesmo no seu quarto, Conor sentiu o cheiro forte e úmido de terra, madeira e seiva.

— O que você quer de mim? —perguntou Conor.

O monstro colocou o rosto contra a janela.

— Não se trata do que quero de você, Conor O’Malley — disse. — É o que você quer de mim.

— Não quero nada de você — falou Conor.

— Ainda não — emendou o monstro. — Mas vai querer.

— É só um sonho — disse Conor para si mesmo no jardim, olhando para a silhueta do monstro contra o luar no céu escuro. Ele cruzou os braços, não porque estivesse com frio, e sim porque realmente não acreditava que descera as escadas na ponta dos pés, abrira a porta dos fundos e saíra para a noite.

Ele ainda se sentia calmo. O que era estranho. Este pesadelo — porque claramente era um pesadelo — era muito diferente do outro.

Nada de terror, nada de pânico, nada de escuridão.

Sete Minutos Depois Da Meia-Noite [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora