10 | O acordo

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— Eu perdoo você — disse Lily, alcançando-o a caminho da escola no dia seguinte.

— Pelo quê? — perguntou Conor, sem olhar para ela. Ainda estava irritado com a história do monstro, com a forma como se desenrolou, distorcida e enganadora, nada que servisse de utilidade nenhuma. Para sua surpresa, a mudinha se mostrara muito resistente, e ele passou meia hora para arrancá-la do piso. Sentiu que mal tinha voltado a dormir quando chegou a hora de acordar, e isso só porque a avó começou a gritar com ele por causa do atraso. Ela nem o deixou se despedir da mãe, que, segundo a avó, tinha
passado uma noite difícil e precisava descansar. O que fez com que se sentisse culpado, porque, se sua mãe tinha passado uma noite difícil, era ele quem deveria ter estado lá para ajudar, não esta avó que mal o deixou escovar os dentes antes de enfiar uma maçã em sua mão e empurrá-lo porta afora.

— Eu perdoo você por me causar problemas, seu idiota — disse Lily, mas não com muita raiva.

— Você mesma se encrencou — falou Conor. — Foi você quem empurrou Sully.

— Eu perdoo você por mentir — continuou Lily, suas mechas de poodle penosamente presas num coque.

Conor só continuou caminhando.

— Você não vai pedir desculpas também? — perguntou Lily.

— Não — respondeu Conor.

— Por que não?

— Porque não tenho motivo.

— Conor…

— Não me desculpo — disse Conor, parando. — E não perdoo você.

Eles se entreolharam fixamente sob o sol fresco da manhã, nenhum dos dois querendo ser o primeiro a desviar os olhos.

— Minha mãe disse que precisamos lhe dar um desconto — disse Lily, finalmente. — Por causa do que você está passando.

E, por um instante, o sol pareceu se esconder atrás das nuvens. Por um instante, Conor só conseguia ver as tempestades repentinas a caminho, podia senti-las prestes a explodir no céu, em seu corpo e em seus punhos. Por um instante, ele se sentiu como se pudesse pegar o próprio ar, passá-lo em volta de Lily e dividi-la ao meio…

— Conor? — falou Lily, assustada.

— Sua mãe não sabe de nada — emendou ele. — Nem você.

Afastou-se dela rapidamente, deixando-a para trás.

Foi há pouco mais de um ano que Lily contou a algumas amigas sobre a mãe de Conor, ainda que ele não tivesse dado autorização a ela. Essas amigas contaram a outras, que contaram a outras e, em menos de um dia, era como se um círculo tivesse se aberto ao redor dele, uma área morta com
Conor no meio, cercado por minas terrestres pelas quais todos tinham medo de caminhar. De repente, pessoas que ele considerava amigas paravam de falar quando ele se aproximava, não que houvesse muitos mais além de Lily, mas mesmo assim. Ele pegava pessoas sussurrando ao passar pelo corredor ou
na hora do almoço. Mesmo os professores exibiam uma expressão diferente quando ele levantava a mão
nas aulas.

Então ele acabou por parar de conviver com grupos de amigos, parou de dar atenção a quem sussurrava e até parou de levantar a mão.

Não que alguém tivesse notado. Foi como se de repente ele se tornasse invisível.

Ele nunca teve um ano mais difícil na escola nem se sentiu mais aliviado pelas férias de verão do que no último ano. Sua mãe estava concentrada nos tratamentos que, repetia ela várias vezes, “eram difíceis, mas estavam funcionando”, essa longa programação estava quase chegando ao fim. O plano era que ela terminasse o tratamento, um novo ano escolar se iniciasse e eles conseguissem deixar tudo isso no
passado e recomeçar.

Sete Minutos Depois Da Meia-Noite [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora