19 | Teixos

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— Oi, querido — disse a mãe dele, levantando-se um pouco na cama quando Conor entrou.
Ele percebeu como ela sofreu para fazer isso.
— Vou ficar ali fora — falou a avó, levantando-se da poltrona e passando sem olhar para o neto.
— Vou pegar algo para beber, companheiro — disse seu pai da porta. — Quer algo?
— Quero que pare de me chamar de companheiro — disse Conor, sem tirar os olhos da mãe.
Ela riu.
— Volto daqui a pouco — avisou o pai, deixando-o sozinho com ela.
— Venha cá — disse a mãe, batendo na cama ao lado do seu corpo. Ele foi e se sentou ao lado dela,
tomando o cuidado para não tocar no tubo que tinham lhe colocado no braço ou no tubo que soprava ar
por suas narinas ou no tubo que, sabia ele, às vezes colocavam em seu peito, quando os produtos
químicos alaranjados eram bombeados para dentro dela durante os tratamentos. — Como está o meu
Conor, hein? — perguntou ela, estendendo a mão magra para acariciar-lhe os cabelos. Ele viu uma
mancha amarelada num dos braços dela, onde entrava o tubo, e manchas arroxeadas na parte de dentro do
braço.
Mas ela estava sorrindo. Era algo cansado, exausto, mas era um sorriso.
— Sei que devo parecer frágil — disse ela.
— Não, não parece — emendou Conor.
Ela acariciou novamente os cabelos dele com os dedos.
— Acho que posso perdoar uma mentirinha gentil.
— Você está bem? — perguntou Conor e, apesar de a pergunta em certo sentido ser completamente
ridícula, ela entendeu o que ele queria dizer.
— Bom, querido — disse ela. — Algumas coisas diferentes que eles tentaram não deram certo como
queriam. E não deram certo muito antes do que esperavam. Se é que isso faz sentido.
Conor fez que não com a cabeça.
— Não, para mim também não — disse ela. Ele viu o sorriso da mãe se contrair, difícil demais para ela
segurar. Ela respirou fundo e o ar entrou com dificuldade, como se houvesse algo pesado em seu peito.
— As coisas vão ser um pouco mais rápidas do que eu esperava, querido — anunciou
ela, e sua voz estava embargada de uma forma que fez o estômago de Conor se revirar ainda mais. Ele de
repente ficou feliz por não ter tomado café da manhã. — Mas —
continuou a mãe, a voz ainda rouca, mas sorrindo novamente. — Tem mais uma coisa que
eles vão tentar, um remédio que teve alguns bons resultados.
— Por que eles não tentaram isso antes? — perguntou Conor.
— Você se lembra de todos os meus tratamentos? — perguntou ela. — Da perda de cabelos e de todos os
vômitos?
— Claro.
— Bom, isso é algo que se toma quando esses tratamentos não deram certo como eles
queriam — explicou ela. — Era sempre uma possibilidade, mas eles esperavam não ter de usar isso. —
Ela baixou a cabeça. — E eles esperavam não ter de usar isso tão cedo.
— Isso significa que é tarde demais? — perguntou Conor, falando antes mesmo de se
dar conta do que estava dizendo.
— Não, Conor — respondeu ela rapidamente. — Não pense assim. Não é tarde demais.
Nunca é tarde demais.
— Tem certeza?
Ela sorriu novamente.
— Acredito no que estou dizendo — disse ela, a voz um pouco mais forte.
Conor se lembrou do que o monstro tinha dito. A crença é metade da cura.
Ele ainda se sentia incapaz de respirar direito, mas a tensão começou a se dissipar um pouco, acalmando-
lhe o estômago. Vendo-o relaxar, a mãe começou a acariciar a pele do braço do filho.
— E eis aqui algo muito interessante — continuou ela, a voz parecendo um pouco mais feliz. — Você se
lembra daquela árvore na colina atrás da nossa casa?
Conor arregalou os olhos.
— Bom, você não vai acreditar — continuou a mãe, sem perceber a reação dele. —
Esse remédio é na verdade feito com folhas de teixo.
— Teixo? — perguntou Conor, baixinho.
— Sim — respondeu ela. — Li sobre isso há algum tempo, quando tudo isso começou.
— Ela tossiu na mão, e então tossiu novamente. — Digo, esperava que nada disso chegasse a este ponto,
mas parece incrível que o tempo todo pudéssemos ver um teixo da nossa própria casa. E que aquela
árvore pudesse ser justamente o que me curasse.
A mente de Conor girava tão rápido que ele quase ficou tonto.
— As coisas naturais deste mundo são maravilhosas, não são? — continuou a mãe. —
Nós nos esforçamos tanto para nos livrarmos delas e às vezes elas são aquilo que nos salva.
— Isso vai salvá-la? — perguntou Conor, quase sem conseguir dizer.
Sua mãe sorriu novamente.
— Espero que sim — respondeu. — Acredito que sim.

Sete Minutos Depois Da Meia-Noite [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora