18 | Invisível

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Conor ficou esperando no terreno da escola.
Mais cedo, viu Lily. Ela estava com um grupo de meninas que não gostavam realmente
dela, sabia Conor, e de quem Lily tampouco realmente gostava; mas lá estava ela, em silêncio, com as
amigas tagarelas. Ele percebeu que tentara atrair o olhar dela, mas Lily não olhou para ele.
Quase como se ela já não o visse mais.
E então ele esperou sozinho, encostado na parede, diante das outras crianças que gritavam e riam e
consultavam os telefones como se não houvesse nada de errado no mundo, como se nada em todo o
Universo lhes pudesse acontecer.
Então ele os viu. Harry, Sully e Anton, vindo na direção dele pela diagonal do jardim, Harry encarando-
o, sem sorrir, mas alerta, seus comparsas parecendo antecipadamente felizes.
Aqui vêm eles.
E eles vieram.
Conor sentiu-se fraquejar, aliviado.
Ele dormiu pouco naquela manhã, o suficiente apenas para ter o pesadelo, como se as coisas já não
estivessem péssimas. Ali estava ele de novo, com o horror e a queda, com a coisa horrível que acontecia
no fim. Acordou gritando. Para um dia que não parecia nada melhor.
Quando ele finalmente arranjou coragem de descer, seu pai estava na cozinha da avó, fazendo o café da
manhã.
A avó não estava por perto.
— Ovos mexidos? — perguntou o pai, segurando uma frigideira com ovos.
Conor fez que sim, por mais que não estivesse com fome, e se sentou à mesa. Seu pai terminou de
preparar os ovos e os serviu com um pouco de torrada com manteiga, colocando dois pratos, um para
Conor e outro para si mesmo. Eles se sentaram e comeram.
O silêncio ficou tão pesado que Conor começou a ter dificuldade para respirar.
— Você fez uma bagunça e tanto — disse o pai, finalmente.
Conor continuou comendo, pegando os menores pedaços possíveis de ovo.
— Ela me ligou hoje pela manhã. Muito, muito cedo.
Conor deu outra garfada microscópica.
— Sua mãe piorou, Con — falou o pai. Conor levantou a cabeça rapidamente. — Sua
avó foi agora ao hospital para conversar com os médicos — continuou. — Vou deixá-lo na escola e…
— Escola? — disse Conor. — Quero ver a mamãe!
Mas seu pai já fazia que não com a cabeça.
— Não é lugar para uma criança neste momento. Vou deixá-lo na escola e ir ao hospital, mas vou pegá-lo
logo depois para você vê-la. — Seu pai ficou olhando para o próprio prato. — Vou pegá-lo antes se… se
for preciso.
Conor pôs a faca e o garfo na mesa. Ele não queria mais comer. E jamais iria querer novamente.
— Ei — disse seu pai. — Lembra o que eu disse sobre precisarmos que você seja corajoso? Bom, agora
é a hora, filho. — Ele apontou com a cabeça para a sala. — Dá para ver quanto isso está mexendo com
você. — Abriu um sorriso triste que rapidamente desapareceu. — Sua avó também vê isso.
— Eu não pretendia — disse Conor, o coração batendo forte. — Não sei o que aconteceu.
— Tudo bem — falou o pai.
Conor franziu a testa.
— Tudo bem?
— Não se preocupe com isso — acrescentou o pai, voltando a tomar o café da manhã.
— Não é tão ruim quanto parece.
— O que isso quer dizer?
— Quer dizer que vamos fingir que nada aconteceu — esclareceu o pai, firmemente. —
Porque há outras coisas acontecendo no momento.
— Outras coisas como a mamãe?
Seu pai suspirou.
— Termine seu café.
— Você não vai nem mesmo me castigar?
— Qual é o sentido, Con? — retrucou, fazendo que não com a cabeça. — Qual seria o
sentido, afinal?
Conor não ouviu nada em suas aulas na escola, mas os professores não o repreenderam por sua falta de
atenção, ignorando-o quando faziam perguntas à turma. A sra. Marl nem mesmo o obrigou a entregar sua
redação sobre histórias de vida, mesmo sendo aquele o prazo. Conor não tinha escrito uma única frase.
Não que isso parecesse importar.
Seus colegas mantinham distância dele, também, como se Conor estivesse fedendo. Ele tentou lembrar se
tinha conversado com alguém desde que chegara à escola pela manhã.
Ele achava que não. O que significava que não tinha falado com ninguém desde a conversa com o pai
pela manhã.
Como algo assim podia acontecer?
Mas finalmente ali estava Harry. E isso ao menos parecia normal.
— Conor O’Malley — falou Harry, parando a um passo dele. Sully e Anton ficaram mais atrás, abafando
o riso.
Conor se afastou da parede, as mãos pendendo ao lado do corpo, preparando-se para onde quer que fosse
o golpe.
Mas nada aconteceu.
Harry só ficou ali. Sully e Anton ficaram ali também, o sorriso deles lentamente murchando.
— O que você está esperando? — perguntou Conor.
— É — disse Sully para Harry. — O que você está esperando?
— Bata nele — disse Anton.
Harry não se mexeu, os olhos ainda fixos em Conor, que só conseguiu retribuir a encarada até sentir que
não havia mais nada no mundo além dele e Harry. Suas mãos suavam. Seu coração disparava.
Faça isso de uma vez, pensou ele, e então percebeu que falava em voz alta.
— Faça isso de uma vez!
— Fazer o quê? — perguntou Harry calmamente. — O que você quer que eu faça, O’Malley?
— Ele quer que você bata nele até cair — disse Sully.
— Ele quer que você chute o traseiro dele — falou Anton.
— É isso mesmo? — perguntou Harry, parecendo realmente curioso. — É mesmo isso
que você quer?
Conor não disse nada; só ficou ali, os punhos cerrados.
Esperando.
E então o sinal tocou alto e a srta. Kwan começou a atravessar o pátio naquele instante também,
conversando com outro professor, mas vendo os alunos ao redor, observando com cuidado Conor e
Harry.
— Acho que jamais saberemos — disse Harry — o que O’Malley quer.
Anton e Sully riram, apesar de estar claro que não tinham entendido a piada, e os três começaram a voltar
para dentro da escola.
Mas Harry observava Conor à medida que se afastavam, sem nunca tirar os olhos dele.
À medida que deixava Conor ali sozinho.
Como se ele fosse completamente invisível ao resto do mundo.

Sete Minutos Depois Da Meia-Noite [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora