20 | Seria possível?

29 5 0
                                    


Conor saiu para o corredor do hospital, os pensamentos a mil. Remédio feito com folhas de teixo.
Remédio que pode mesmo curar. Remédio como o que o Boticário se recusou a fazer para o pároco. Mas,
para falar a verdade, Conor ainda não sabia direito por que a casa do pároco é que foi destruída.
A não ser que…
A não ser que o monstro estivesse aqui por um motivo. A não ser que ele caminhara para curar a mãe de
Conor.
Ele não ousava ter esperanças. Ele não ousava nem pensar nisso.
Não.
Não, claro que não. Não podia ser verdade, ele estava sendo estúpido. O monstro era um sonho. Tudo
isso era um sonho, um sonho.
Mas as folhas. E as frutinhas. E a mudinha crescendo no chão. E a destruição na sala da avó.
De repente, Conor se sentiu leve, como se estivesse começando a flutuar no ar.
Seria possível? Seria realmente possível?
Ele ouviu vozes e olhou pelo corredor. Seu pai e sua avó estavam brigando.
Ele não conseguia ouvir o que diziam, mas a avó estava furiosa, apontando com o dedo para o peito do
pai.
— Bom, o que você quer que eu faça? — disse o pai, alto o bastante para chamar a atenção de pessoas
que passavam pelo corredor. Conor não conseguiu ouvir a resposta da avó, mas ela veio apressada pelo
corredor, passando sem ainda olhar para ele e entrando no quarto da filha.
O pai se aproximou logo depois, os ombros caídos.
— O que está havendo? — perguntou Conor.
— Ah, sua avó está com raiva de mim — respondeu o pai, abrindo um sorrisinho rápido. — Nada de
novo.
— Por quê?
Seu pai fez uma careta.
— Tenho más notícias, Conor — anunciou ele. — Tenho de voltar para casa hoje à noite.
— Hoje à noite? — perguntou Conor. — Por quê?
— A bebê está doente.
— Ah — disse Conor. — O que há de errado com ela?
— Provavelmente nada sério, mas a Stephanie está louca, levou a menina ao hospital e quer que eu volte
agora mesmo.
— E você vai?
— Vou, mas volto — respondeu o pai. — Sem ser neste domingo, no próximo, então não são nem duas
semanas. Eles vão me dar mais folga do trabalho para vir aqui ver você.
— Duas semanas — repetiu Conor, quase que para si mesmo. — Mas tudo bem. A mamãe entrará em
medicação nova e vai melhorar. Então, quando você voltar…
Ele parou ao ver a cara do pai.
— Por que não damos uma caminhada, filho? — sugeriu.
Havia um parquinho do outro lado do hospital com várias trilhas entre as árvores. À
medida que Conor e seu pai caminhavam em direção a um banco vazio, passavam por pacientes com
trajes hospitalares, caminhando com familiares ou saindo para fumar um cigarro às escondidas. Aquilo
fazia do parque um verdadeiro quarto de hospital ao ar livre.
Ou um lugar para onde fantasmas iam a fim de descansarem.
— Isto é uma conversinha, não é? — perguntou Conor enquanto se sentavam. —
Ultimamente todos querem ter uma conversinha.
— Conor — disse seu pai. — Este novo remédio que sua mãe vai tomar…
— Ele vai fazê-la melhorar — completou Conor firmemente.
Seu pai parou por um instante.
— Não, Conor — emendou ele. — Provavelmente não vai.
— Sim, vai — insistiu Conor.
— É uma última tentativa desesperada. Sinto muito, mas as coisas andaram rápido demais.
— Isso vai curá-la. Sei que vai.
— Conor — falou o pai. — O outro motivo para sua avó estar com raiva de mim é que
ela acha que sua mãe e eu não estamos sendo honestos o bastante com você. Sobre o que está mesmo
acontecendo.
— O que a vovó sabe sobre isso?
O pai de Conor pôs uma das mãos no ombro do filho.
— Conor, sua mãe…
— Ela vai ficar bem — interrompeu Conor, livrando-se do pai e levantando-se. — Este remédio novo é
o segredo. A razão de tudo. Estou lhe dizendo. Eu sei.
Seu pai parecia confuso.
— A razão de tudo o quê?
— Então pode voltar para os Estados Unidos — continuou Conor. — Pode voltar para
sua outra família e vamos ficar bem aqui sem você. Porque isso vai funcionar.
— Conor, não…
— Sim, vai. Vai funcionar.
— Filho — insistiu o pai, aproximando-se. — As histórias nem sempre têm finais felizes.
Isso o fez parar. Porque não tinham mesmo, não é? Isso foi algo que o monstro com certeza lhe ensinou.
As histórias eram animais selvagens e iam em direções inesperadas.
Seu pai estava fazendo que não com a cabeça.
— Não posso pedir demais de você. Eu sei disso. É injusto e cruel, e não é como as coisas deveriam ser.
Conor não respondeu.
— Voltarei daqui a uma semana, no domingo — falou o pai. — Tenha isso em mente,
sim?
Conor piscou na direção do sol. Fazia um calor inacreditável naquele mês de outubro, como se o verão
insistisse para não ir embora.
— Por quanto tempo você vai ficar? — perguntou Conor, finalmente.
— O máximo possível.
— E depois vai voltar.
— Tenho que voltar. Tenho…
— Outra família lá — concluiu Conor.
Seu pai tentou estender a mão novamente, mas Conor já estava voltando para o hospital.
Porque ele estava errado, o remédio daria certo, daria, foi exatamente por essa razão que o monstro
saíra andando. Tinha de ser. Se o monstro era real, então essa tinha de ser a razão.
Antes de entrar novamente, Conor olhou para o relógio na fachada do hospital.
Mais oito horas até à 00h07.

Sete Minutos Depois Da Meia-Noite [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora