Apenas corte a garganta XXVII

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Meu mundo é fantástico, tem assassinos, crianças, mas o meu próprio mundo sou eu.

Marcos Lima

                 O dia amanheceu cinza,  nuvens negras cobrem o céu deixando o refeitório escuro ,quase fantasmagórico

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                 O dia amanheceu cinza,  nuvens negras cobrem o céu deixando o refeitório escuro ,quase fantasmagórico. O contraste de corpos magros ,sujos e descabelados com um ambiente frio e escuro,lembra as almas amontoadas no purgatório, como nesses filmes que almejam  o horror. 

       Mas isso aqui é real !

             Observo uma mulher ,raquítica balançar sua saia esfarrapada e suja enquanto dança sob o céu negro,ela anseia pela chuva ! Um trovão ecoa ,assustada a pobre se joga ao chão, cobrindo os ouvidos ,como fazem as pessoas normais em meio a um tiroteio. Quando finalmente um pingo d'agua cai sobre o braço da mulher,um enfermeiro a puxa pelos cabelos oleosos,e continua arrastando o corpo frágil pela cerâmica fria ,a" débil mental "como é chamada pelo homem, grita e implora ,mas não temos voz aqui . A porta do corredor norte se fecha com um estrondo,e aos poucos os gritos ficam mais longínquos, até o silêncio reinar novamente.

        Seguro o garfo ,o alumínio brilha,mesmo não havendo sol

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        Seguro o garfo ,o alumínio brilha,mesmo não havendo sol .Lembro do interno que se matou usando um desses,sua cela ficou inundada de sangue,uma morte horrível.

     Ele cortou a garganta!
 
      "Apenas corte a garganta."  A mulher dos meus sonhos ,agora me persegue quando estou acordada,sua proposta é realmente tentadora .
Mas devo estar ciente que outro assassinato me leva direto para a sala úmida, e talvez eu não saia de lá, viva !
      Em silêncio observo tudo a minha volta,há um rosto novo aqui hoje .Um homem de uns trinta e poucos anos, magro e com o olhar cansado está na mesma mesa que eu ,não o vi dizer uma palavra sequer, nem ouvi comentários sobre o crime que o trouxe até aqui . Assisti o homem levantar e caminhar quase em câmera lenta até a outra mesa, parecia  reconhecer outro interno,um barulho me tirou do transe ,o novato bateu a cabeça do outro conta a madeira da mesa,dando início ao caos .                        Algumas mulheres encolheram em baixo das mesas, gritando , alguns internos correram para fora,outros pelos corredores,uma bela distração.

      "Apenas corte a garganta."

     Saul sentado do meu lado,continua distraído lendo "Os miseráveis " .Saio discretamente pelo corredor norte,algumas pessoas correm sem rumo,sigo pelo corredor escuro,há muitas salas,depois o outro corredor, onde ficam as celas,e estava vazio como imaginei.
     Sigo pelo beco escuro,frio ,e fétido, a unica cela fechada é 111 ,bato na porta,demora um pouco até ela ser aberta.O enfermeiro usa luvas de látex, sujas de sangue ,sobre uma cama deplorável, a mulher raquítica repousa desacordada e nua . Há um pequeno corte em sua garganta, pouco acima da clavícula, ela está sendo cobaia em uma operação bizarra .

    Castigada por gritar !

    Quando acordar ,a pobre mulher não dirá mais nenhuma palavra!  O homem danificou suas pregas vocais,ao operar sua laringe.
Ele estranha minha presença, mas não me arrasta como fez com a outra .
     -Está um caos lá fora,mandaram te chamar!
Digo a primeira coisa que me vem a cabeça, mas de certa forma não é mentira .
      -Diz que estou indo .
O enfermeiro vira de costas,indo até seus objetos. Entro na cela,ele está distraido concertando o corpo da mulher, e para minha sorte há um bisturi bem no meu alcance.
        -Quer ajuda?
O assustei.
         -Some daqui garota!
Diz sem ao menos olhar para mim,ou para minhas mãos.  Ele está curvado sobre a cama,seu pescoço bem exposto,ao meu alcance.  Rápida, cravo o objeto e sua jugular, o sangue espirra sobre os lençóis, se misturando ao sangue da mulher. Ainda vivo,anda com dificuldade tentando sair da cela,com a mão tenta estancar o sangue,em vão. No corredor fétido e deserto,cai finalmente, se rendendo aos braços da escuridão. 
          -Pegue anjo da morte,lhe entrego essa alma podre !
Deslizo o objeto pela garganta do jovem ,o deixando sobre o chão sujo .

      Ele também nunca mais irá falar!

      Coloco o objeto de volta no lugar,depois de limpa lo com álcool

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      Coloco o objeto de volta no lugar,depois de limpa lo com álcool. Lavo minhas mãos, e volto pelo mesmo corredor,ainda há internos deitados de bruços pelo caminho, próximo ao refeitório sigo em direção ao jardim ,ainda há barulhos de grito
     
            Mas a chuva passou.

Dou a volta,e chego ao refeitório pelo lugar contrário ao corredor norte.Mas todo cuidado,foi desnecessário, eles não notaram minha chegada,estão ocupados demais tento conter o tumulto.
      -Sei o que estava fazendo! Saul diz baixinho ,ainda concetrado no livro .
        -O que eu estava fazendo?
         -Matou o homem usando o que?Não levou o garfo .
Não deixo de sorrir.
          -Fui tão óbvia assim?
           -Pelo contrário, hoje você matou como pessoas inteligentes matam .Sem levantar suspeitas.
           -Fiz como a mulher dos meus sonhos pediu ,acho que já podemos tentar sair desse lugar!
            -Tenho o dia perfeito, vamos conseguir minha doce!
              -Vamos conseguir!
         Tento não demonstrar nenhuma expressão de alegria,mas a simples hipótese da liberdade, me deixa em êxtase!

☑️ Revisado
A DANADA DA CHALLA QUE JA MATOU DE NOVO ....SERÁ QUE ELA SUPERA O ABERRAÇÃO ALGUM DIA ??? 🍃🍃
BEIJOS FANTASMINHAS 😍

Sol das Almas (Livro II) CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora