05. Atletas ninfomaníacos

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Poderia fingir que sou invisível aqui, mas de qualquer forma, alguém viria encher o meu saco. Mesmo que não fosse ele. Todos esses atletas ninfomaníacos suados, cheirando a maconha ou qualquer outra coisa que deixe alguém chapado, são tendenciosos, só não percebe aquela que realmente estiver disposta a cair na boa lábia deles.

— Se não quer dançar, me diz qual a graça de ficar aí sentada olhando as outras pessoas se divertirem.

— A graça é que eu não correria o risco de ser assediada por idiotas, mas já vi que minha tática não funciona mais — comprimo os lábios, batendo os dedos no copo de vidro.

— Tudo bem — O garoto se levanta e abre um sorriso presunçoso. — Se prefere ficar entediada no meio de uma boate e não dançar comigo, não vou insistir.

— Olha só, que cavalheiro — ironizo. — Quanta gentileza e respeito.

Ethan passa a língua nos lábios e se vai, passando agora, a praticamente se esfregar com uma morena de cabelos longos. Parece até que ela estava esperando ele selecionar alguém para o ménage deles. Céus.
Saio do meu lugar e me aproximo do balcão outra vez, mas as meninas já não estão mais aqui.
Minha atenção só é desviada do barman bonito quando uma baderna começa, me fazendo virar e franzir a testa, encarando o grande número de pessoas que se acumula ao redor de alguém. Corro até o meio delas quando percebo que Taylor também está lá, mas parece puxar alguém.
Por que sempre tem barraco nesses lugares?

— Taylor!

— Eles estão brigando — é a única coisa que ela diz antes de tentar separar Isaac de outro garoto.

Como ele ficou bêbado tão rápido? Ou então é impulsivo demais.
Enquanto Taylor tenta sem sucesso puxar Isaac, corro para o outro lado, empurro algumas pessoas e agarro o braço do outro sujeito. Ele reluta e se solta do meu tato, acabando por acertar meu rosto.
Imediatamente coloco a mão no lugar atingido e me afasto, um tanto incrédula.

— Façam alguma coisa, porra.

Toda vez que uma briga acontece, as pessoas preferem optar por assistir ao "espetáculo" do que separar as pessoas e evitar uma tragédia. Ethan e um garoto de cabelo castanho claro intervém e finalmente, conseguem separar as duas feras.
Isaac está ofegante, assim como o rapaz de cabelo cumprido, que tem sangue no nariz, diferente do outro, que está com a boca machucada.

— Ei, você está bem? — me afasto quando o acompanhante de Ethan toca meu ombro.

— Eu estou legal — balanço a cabeça positivamente e sigo para o lado de Taylor.

— O que foi isso, hein? — indago-o.

— Ele começou a conversar comigo e quando eu falei dos caras ele começou a provocar — ajeita a roupa.

— Como confia em alguém que não conhece, sabe como as pessoas são intolerantes hoje em dia? — repreendo-o.

— Não tenho sangue de barata — balança os ombros.

— Tudo bem, mas eu levei um soco por sua causa.

— Eu não pedi para me ajudarem — começa a andar para perto do bar.

— De nada, Heaven e Taylor, se não fosse por vocês ou pelo babaca do Ethan, alguém teria morrido — a morena ironiza.

Suspiro e tiro o celular do bolso, me preparando para chamar um carro de aplicativo para me salvar do desastre que foi essa noite. Eu só queria conversar a noite inteira e me divertir, mas percebi que não vai ser possível. Não depois de levar um soco por tentar separar uma briga.

— O que está fazendo?

— Chamando um Uber. Essa noite foi um desastre.

— Ei, não. Desculpa se eu estraguei a noite de vocês, não foi minha intenção — Isaac se redime.

— Não tem problema. Eu vou para casa, pego uma tigela de cereais e assisto Stranger Things — olho para o celular outra vez.

— Eu tenho ideia melhor.

Logo, Lilly e Chloe vêm até nós e começam a perguntar sobre o que aconteceu e como a noite que era para ter sido divertida, acabou em pancadaria.

— Pessoal — Taylor chama nossa atenção. — Como nossa distração acabou nisso, minha ideia é que a gente vá para a minha casa.

— E o que vamos fazer lá? — Lilly cruza os braços.

— Vamos comprar pizzas, assistir filmes de comédia e beber muito.

— Eu curto filme cult — guardo o celular no bolso.

— Tudo bem, podemos assistir de tudo.

— Só tem um problema — Chloe checa o horário. — É tarde e temos aula amanhã.

— Durmam lá e amanhã vamos todos para a aula — balança os ombros sem esboçar preocupação alguma.

Não é bem assim que funciona, mas acho que esse programa pode ser melhor que ficar aqui, já que o clima acabou completamente.
Retiro o celular do bolso outra vez e abro a caixa de mensagens no número de Joe, avisando que não vou dormir em casa. Não que eu considere uma obrigação, mas como estamos morando juntos e ele é quem paga minhas contas a partir de agora, prefiro não deixá-lo preocupado, se é que ele é capaz de sentir isso.
Enquanto caminhamos para fora e esperamos que Taylor busque o carro seja lá onde ela estacionou, Ethan sai do lugar junto com o rapaz de antes e caminha para perto de um Honda Civic acinzentado. Não sei se ele percebeu minha presença, mas provavelmente, já que direciona os olhos na minha direção, me fazendo virar o rosto imediatamente.

Limpo a garganta e cruzo os braços por conta do conta do vento frio, agradecendo mentalmente por Taylor voltar e eu correr para entrar antes que ele volte para falar alguma asneira.

— O que ele falou?

— Hã? — me viro para Lilly.

— O que o Ethan falou para você?

— Nada. Ele não falou nada — dou de ombros.

— Eu vi ele sentando do seu lado lá dentro. Você parece intimidada — coloca uma mecha de cabelo atrás da orelha.

— Ele só... Ele só falou sobre a aula de história. E eu não estou intimidada — empino o nariz.

— Ah, claro. Falando da escola no meio de uma boate, sei.

— Não preciso que acredite em mim — olho pela janela.

— Que bom, pois não acredito mesmo — vira para falar algo com Chloe.

Por que na maioria das vezes eu sinto como se fosse alguém em que ninguém pode confiar? Eu sei que eles são amigos e conhecem uns aos outros, e estão sendo legais em me incluir no meio da amizade deles, sem nem me conhecer.
Já sou esquisita o suficiente para ir dormir na casa de alguém que conheci a menos de vinte e quatro horas, a única coisa que preciso neste momento é alguém para dizer que não gosta de mim, das minhas atitudes ou que não confia na minha pessoa. Para ser sincera, nem eu confiaria em alguém como eu.

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