Taylor não chegou a expender mais nada, Isaac repreendeu-a e não tivemos tempo para conversar com calma depois do toque para o início das aulas. Ethan começou o dia com química e eu fui para economia. Quase no fim do período, encontrei a morena que pareceu apoquentada durante todo treino de educação física.
— O que te aflige, hein? — bato a porta do armário e molho a garganta com água acomodando-me num dos bancos.
— Estou puta.
— Tá, mas com o quê? — ergo as sobrancelhas, sentindo-me confusa.
— Chloe vai se mudar para Toledo daqui uns dias e só me disse hoje. Depois de contar para Lilly e Isaac — lamenta, tomando um lugar ao meu lado.
— Está chateada por ela estar se mudando ou por ter sido a última a saber? — viro meu corpo parcialmente para o lado dela.
— Espera, não está surpresa? — franze o cenho. — Ah... Já sabia?!
Confirmo balançando a cabeça positivamente.
— Achei que deveria saber por ela.
— Mas que droga! — bate as palmas das mãos nas coxas. — Minha namorada vai embora e eu sou a última a saber! — choraminga.
— Ei — puxo suas mãos. — Se coloca no lugar dela, imagina que difícil ter que mudar de cidade à essa altura do ano letivo. Amigos novos, lugar novo...
— Namorada nova.
— Não é bem assim, Taylor — solto seu tato. — Não vai ser fácil toda essa adaptação, e eu tenho certeza que ela ama você e que pensou em milhares de maneiras para te contar isso. Com a melhor das intenções.
— Talvez, mas e os nossos planos? Como ficam?
— Vocês ainda nem acabaram o ensino médio, tenho certeza que terão tempo de sobra para pensar nisso. Depois. — sorrio. — Além do mais, pelo que eu sei Toledo não fica há milhas daqui. Pode visitá-la nos finais de semana.
— Eu não sei. Não sei se quero um relacionamento tão distante, e digo isso em ambos os sentidos. — suspira.
— Bom, só pense bem se é o que quer. Acho que você deseja estar com ela. Independente da distância.
Taylor continuou pensativa e eu decidi seguir para a ducha, que foi rápida por conta do frio adventício que acometeu Lincoln Bay. Não tem muito disso em Journesville, e eu admiro o clima estável de lá, afinal, é muito mais fácil saber quando levar um casaco para a rua.
Pego minha mochila, despeço-me da minha amiga abatida e sigo para o refeitório, acabando por esbarrar em Olivia. Ela se desculpa antes de mim, mas quase no mesmo instante, parece retirar o que disse com apenas um olhar. Como quem acabara de se arrepender.— Você.
— Eu. — meu tom de voz é um tanto quanto indiferente.
— Ele é bom, não é? — a loira passa a cruzar os braços.
— Ele é bom em quê? Por acaso está falando do Ethan?
— Sim, a não ser que você esteja transando com outro garoto.
— Não estou transando com ninguém e mesmo que estivesse, isso não é da sua conta. — observo ela franzir os lábios e mexer no cabelo com as unhas grandes. — Aproveita e limpa o veneno que está escorrendo bem aí. — aponto para sua boca.
— Você é tão... — ela grunhe. — Não sei como Ethan pode ter tanto mal gosto. Primeiro a gótica sapatona, agora uma nerd, esquisita e ainda órfã.
Estou boquiaberta. Como ela ousa? Primeiro, fala mal da garota que anda comigo na minha frente e depois me humilha desta maneira? Alguém precisa ensiná-la bons modos.
— Seus pais não te deram educação? Bom, não sei porque ainda pergunto. Nascer abastada é como uma dádiva para vocês, mimadas, que crescem rodeadas de dinheiro e caprichos. E, quer saber de uma coisa que o seu dinheiro medíocre não compra? — dou um passo na direção dela. — Dignidade.
— Bobinha — rincha. — Além de órfã, ainda é revoltada e rejeitada pelo pai? Como ag... — pá! E o belo rosto de Olivia está marcado com meus dedos.
— Vadia ruiva!
Sou atacada com unhas em meu pômulo, ardentemente sulcando minha pele. Apelo para suas mechas e enrosco os dedos ali, puxando-as com força e, por sorte, conseguindo desequilibrá-la.
Estamos no chão, algumas pessoas aglomeram-se a nossa voltam, mas ao invés de nos separar, elas assistem a tudo como se fosse algum tipo de espetáculo.— Posso até ser o que você disse, mas saiba que também está na lista de péssimas escolhas do Hensley! — aperto sua jugular com os polegares.
— Heaven!
Alguém agarra minha cintura e me arrasta para longe de Olivia, que se levanta e corre na minha direção. Ela só é impedida de me alcançar outra vez quando Liam entra em sua frente e a leva para outro lado.
— Senhoritas Sheppard e Foster, na minha sala, agora! — o diretor vocifera no mesmo instante que aparece.
Me desvencilho dos braços que ainda me seguravam e reconheço o rosto de Scott, que me olha como quem pergunta o que aconteceu. Murmuro um agradecimento e recolho minha mochila, passando longe da loira e pisando forte até a sala do diretor Framks.
— Me tirou do trabalho por isso?
— Diz isso porque não foi com você — resmungo, acomodando o dorso no encosto da cadeira.
— Pode apostar que eu tinha algo mais importante para fazer do que ouvir repreensões do diretor da sua escola, sobre sua educação.
— Qual é, Joe — dou risada, cruzando os braços. — Não foi você quem me criou, não precisa sentir tanto. — afago meu ferimento na maçã do rosto com leves toques.
— Amelia não era tão geniosa assim, isso só pode ser coisa do seu padrasto. — imediatamente, viro-me para ele.
— Não fala daquele babaca.
— Está bem, agora deixe-me ver esse machucado. — me chama com um gesto de mãos.
Desencosto da cadeira e sento na beirada, aproximando meu rosto das mãos de Joe.
— Desde quando entende de ferimentos? — ergo uma sobrancelha.
— Jennifer é enfermeira. Aposentada. Ela me ensinou algumas coisas.
— Interessante — mentira.
Ele apenas observou minha contusão com atenção e logo nosso contato foi interrompido pelo diretor entrando na sala, juntamente com a loira azeda e uma perua de cabelos da mesma cor. Elas sentaram-se bem distante de nós. Agradeci mentalmente por isso, ou eu seria capaz de avançar nela outra vez.
Ouvimos diversas pautas, mas a principal foi sobre autocontrole; como se fosse possível exercer isso nesse colégio de loucos. Jeremiah Framks liberou-nos cerca de uma hora depois de assuntos excedentes e por um triz, não fui suspensa. Ele fez questão de enfatizar o fato de eu ainda estar me adaptando a tudo e pediu para ambas que aquilo não se repetisse.Não posso garantir nada, muito menos se Olivia continuar com esse tipo de provocação imatura, mas minha buda interior pede por paz e amor pelo resto dos meus dias nesse colégio.
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Heaven
Novela JuvenilDepois de um trágico acidente e uma perda abrupta, Heaven é obrigada a ir morar com o pai rico, cujo nunca teve contato. Os desafios começam quando o temperamento difícil da jovem vem à tona, mostrando o quanto será árdua e demorada tal aproximação...