22. Progenitor negligente

190 28 103
                                    

— Como ele descobriu que eu estou aqui? — esfrego as mãos nas coxas.

— Não faço ideia. Ele parecia conformado quando eu disse que não falaria onde você estava.

— Por que ele está fazendo isso? — minha pergunta é retórica, mas expressa minha indignação. — Não se satisfez com o inferno que fez na minha vida? — abaixo o tom de voz, percebendo que Joe está na cozinha, muito perto de Pete e eu.

— Eu não sei, mas acho melhor você tomar cuidado. Fala com seu pai e pede um segurança porque nós sabemos do que aquele homem é capaz.

— Não vou andar por aí como uma detenta na condicional — digo exasperada.

— Não é o que eu estou querendo dizer, mas precisa ficar mais atenta do que nunca — seu tato toca o meu.

— Ok — suspiro. — Pode deixar.

Pete e eu conversamos o suficiente até ele ir embora. Comemos algo numa lanchonete próxima à escola e logo em seguida ele foi para o hotel onde está hospedado. Joe ofereceu a casa dele, mas Pete recusou o convite gentilmente. Como ele disse que queria ter tempo para comprar lembranças para Celeste e visitar alguns lugares, combinamos de ir ao shopping amanhã depois da aula e aproveitar ao máximo os poucos dias que teremos juntos.

Apesar de estar feliz com a vista surpresa, não consigo tirar da cabeça o que ele me contou sobre Brett. Pete tinha seis anos quando minha mãe conheceu Joe, por isso não recorda-se muito da convivência com ele. Eu nasci um ano depois e com três, minha mãe conheceu Brett, com quem namorou dois anos antes de se casar.
Claro que não é a melhor notícia que eu poderia receber e está bem longe de ser, mas também não posso viver escondida dele ou achando que nunca mais o veria. Tenho uma vida insossa para viver e não pode ser ele quem vai estragar isso.

Segunda-feira, 6:15am.
Por mais milagroso que possa parecer, dormi como um anjo. Não houve nada nem ninguém que pudesse interromper a utopia que estava sendo ter uma incrível e a não tanto tempo vivida, noite de sono. Isso até alguém invadir meu quarto sem o mínimo de educação.

— O que está fazendo aqui?! — berro, puxando o edredom para cobrir minhas pernas e esconder o mini short do pijama.

— Vim te ver.

— Agora? Que horas são? Cinco da manhã? — me acalmo aos poucos, virando de bruços na cama e colocando um travesseiro na cabeça.

— Na verdade, são... Seis e vinte. — tira o cobertor de mim. — Vamos lá, Cenourinha, sem procrastinação.

Resmungo baixo e relutando, me viro e sento na cama, encarando-o com ódio.

— O que faz aqui, Ethan?

— Eu já disse, vim ver você.

— E se eu estivesse nua? — ergo uma sobrancelha enquanto olho para ele, cruzando os braços.

— Não seria a primeira mulher nua que eu veria — senta na beirada da cama.

— Claro que não — sussurro.

— Chega de conversa, vai tomar um banho e se arruma rápido, vamos tomar café juntos.

Franzo as sobrancelhas e cerro os olhos, levantando em um pulo.

— Tem certeza que a pessoa que abriu a porta para você foi meu pai? É um pouco estranho tudo isso.

Ethan solta um riso e levanta, ficando atrás de mim, colocando as mãos em meus ombros e me guiando para o banheiro.

— Por acaso vocês têm algum tipo de pacto? — me viro para ele depois de pegar minha escova de dentes.

— Claro que não! — bufa. — Ele só foi gentil. Agora se arruma, e desce.

Joe sendo gentil? Ethan invadindo minha casa e ele não o colocando para fora a pontapés? Estranho. Tudo isso é bem estranho.

— Por que está fazendo isso? — questiono depois de deixar minha xícara com café em cima da mesa.

— Imaginei que estivesse chateada depois do dia no gelo — balança os ombros, dando uma garfada das panquecas.

— Eu sei, eu lembro. Só não acredito em você. — umedeço os lábios. — Fica perguntando como foi meu dia, como me sinto, aparece na minha casa ou de noite, ou cedo demais... — suspiro. — Victor me contou que foi lá depois que eu saí do hospital. Também falou que Joe não deixou você subir.

— Pois é e sinceramente, não sei qual o problema do seu pai — franze a testa, confuso.

— Nem eu sei — dou risada.

— Quando eu fui te ver no hospital ele disse que não estava apta a receber visitas, e quando fui até a casa de vocês, ele alega que você não estava lá.

Não acredito que ele fez isso.

— Sei que deve estar se perguntando o motivo dele ser tão volúvel, deixando você subir hoje e te despachando das outras vezes, mas nem eu sei te responder isso. — balanço os ombros, comendo do meus ovos.

— Deveria, ele é seu pai — apoia um antebraço na mesa.

— Se soubesse da nossa complexa história, com certeza retiraria o que acabou de dizer.

— Tudo bem, eu retiro, mas só porque seu olhar está me dando medo — aponta para mim.

— E então? Vai me contar porque me trouxe aqui?

Ethan solta um suspiro arrastado e faz uma cara de "eu me rendo", pronto para falar algo.

— Fazia muito tempo que eu não tinha uma amizade assim com uma garota. Você me escuta e, bom, você me atura. Acho que é o suficiente — neste momento, há um sorriso charmoso em seus lábios.

— Depois disso, realmente acho que gosta da minha companhia. Mas só até que se prove o contrário — Ethan dá risada e lança um mirtilo em mim. Resmungo por ter o deixado cair no chão e perdido 0,01% da parte mais gostosa das panquecas.

O café da manhã com Ethan foi bom, tanto que fez o caminho para a escola ser mais agradável ainda. Aproveitei o clima descontraído para contar sobre o que aconteceu no meu final de semana, mesmo não sendo algo incrivelmente incrível.

— Conheci a mãe do Joe — sorrio.

— E como foi? — olha para mim.

— Não sei como uma pessoa que nem ele nasceu de uma mulher como ela — balanço a cabeça.

— Então isso significa que ela é legal?

— Muito — respondo entusiasmada. — E gostosa.

— Quê? — arregala os olhos.

— Tenho uma avó gostosa.

Ethan balança a cabeça parecendo não entender, mas se rende ao riso junto comigo, riso este que desaparece quando encontramos Chloe e Lilly acompanhadas de Isaac, que carrega uma contusão arroxeada envolta em seu olho esquerdo, também acompanhada por ferimentos na comissura labial e pômulo.

— Isaac, o que aconteceu? — Ethan pergunta.

— O que foi isso? — indago logo em seguida.

— O progenitor negligente dele — Taylor aparece, batendo forte na porta de seu armário. — Foi isso que aconteceu.

Heaven Onde histórias criam vida. Descubra agora