20. Avó gostosa

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Hoje faz três dias que saí do hospital e desde então, não fui para a escola

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Hoje faz três dias que saí do hospital e desde então, não fui para a escola. Não sei o que aconteceu comigo, simplesmente não me senti confortável para estudar depois do evento traumático. Mais um para a lista. Joe vem demonstrando uma preocupação assustadora, de tão sincera que parece ser. Nos últimos dias fiz do meu quarto, minha casa; a vantagem de ter um banheiro aqui nunca foi tão útil e as refeições estão sendo trazidas ou por Victor, ou meu progenitor.
Fiquei surpresa que ele respeitou minha vontade de permanecer aqui, já que não teria forças para enfrentar os questionamentos das pessoas e muito menos os de Ethan; questionamentos estes que vieram por meio das quarenta e sete mensagens não respondidas em meu WhatsApp.

Antes de me mudar para cá, o médico que me atendeu depois do acidente receitou fluoxetina, um ISRS. No começo os efeitos colaterais me matavam, eu passava o dia enjoada, me sentia fraca e mal comia, tudo isso enquanto Pete precisava aguentar minhas reclamações e crises existenciais e durante a noite, eu era praticamente um vampiro: sequer dormia. Com o tempo isso mudou, mas depois de quase morrer afogada, voltei a sofrer com os episódios de terror noturno, que não só me atormentam, mas vêm tirando o sono de Joe também. Era frequente uma semana depois da morte da minha mãe, e com as receitas de antidepressivos, meu organismo parecia ter se acostumado com os efeitos colaterais de se estar quase morrendo.

Eu não acredito que a depressão seja um desses efeitos, na verdade só tenho em mente a ideia de que devemos aceitar nossos destinos — se é que posso chamar assim —, por mais infelizes que eles sejam e hipoteticamente falando, talvez este seja o meu.
Como de costume, estou deitada na cama, com metade do corpo enrolado numa manta e observando sem vontade alguma, um filme dramático que passa em um canal qualquer na televisão. Me estico para pegar o celular em cima do móvel ao meu lado e tento, pela centésima vez, ignorar sem ler a mais recente mensagem do Hensley.

— Dá um tempo, Ethan — checo o horário. Não é nem cinco da tarde ainda, mas decido deixar minha melancolia de lado e finalmente descobrir o que aconteceu além do meu quarto, nas últimas setenta e duas horas.

Deixo o aparelho na mobília e junto as forças que me restam para levantar de uma vez, e ajeitar os lençóis. A decoração ainda é a mesma de quando cheguei, pois não tive disposição para tirar tantas memórias da velha caixa de papelão que está guardada em meu armário. Aproveito para abrir as persianas que ficaram fechadas durante a semana inteira, apenas ajudando na proliferação de ácaros em todo cômodo, o que já faz com que meu nariz comece a arder.
Respiro fundo, visto um cardigã e desço pelas escadas, encontrando Joe na cozinha, analisando uma garrafa de Jack Daniels.

— Tennessee Honey? — solto um riso me aproximando.

— Você está aí — ele abre um sorriso enfadonho. — Como sabe?

— Era o preferido dela também — um sorriso infeliz aparece em meus lábios.

— Eu estava com ela quando bebi esse pela primeira vez — dou alguns passos até parar perto da ilha.

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