34. Idiota com "I" maiúsculo

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Gostosuras ou travessuras?

Ah, o Halloween! Muitas pessoas julgam ser a melhor comemoração do ano, alguns preferem o Natal... Para mim, o feriado mais clichê dos Estados Unidos é, sem dúvida, o Dia de Ação de Graças. Não que eu não goste, mas o americano, além de estereotipado pelas fast foods, é também muito rotulado por seus feriados e hábitos. É quase como dizer que os franceses se resumem a cigarro e croissant. Que os suíços vivem para o chocolate. Ou que a Holanda é só maconha e prostituição. As nações são muito mais que seus costumes.

Os meses passaram-se como areia numa ampulheta, não houve nada que me entusiasmasse ao extremo. Houve um momento em que Ethan parou de ir para a escola, fiquei preocupada, mas também não senti-me confortável para ir visitá-lo. Liguei algumas vezes para a casa dele e era sempre Apollo ou Amanda que atendia, esta questionou-me diversas vezes do motivo pelo qual não havia mais ido até lá. Precisei dizer que estava ocupada demais com a família que eu não tenho. Foi estranho, mas quando o garoto voltou a frequentar a escola, falamo-nos pouco, só o suficiente.

Neste momento, termino de passar um batom cintilante na cor chocolate  no lábio superior, finalizando minha maquiagem composta por rímel, corretivo e blush coral. Vesti uma calça cargo verde musgo com cinto, cropped preto com gola e mangas compridas, coturnos e luvas. Mantive o cabelo solto, me perfumei com uma fragrância suave e recolhi meu celular, descendo para a sala e checando a hora.
Joe e eu passamos o mês arrumando a fachada da casa, decoramos com abóboras, morcegos de papel, luzinhas, galhos e as folhas secas do outono ajudaram-nos a entrar no clima tenebroso. Vou até a cozinha e pego um pirulito num dos três vasilhames repletos de doces, Joe fez questão de comprar para entregar às crianças da vizinhança. Achei fofo. E falando nele...

— Quem é você? — sorrio, mexendo o doce dentro da boca. — Lúcifer Morningstar?

— Você é boa nesse lance de adivinhação — sorri tanto quanto diabólico, ajeitando o terno.

— Esse... — sinalizo para minha cabeça, mas fazendo referência à dele. — Essa tinta spray preta... — comprimo os lábios. — Isso não combinou com você.

— Não precisa combinar. A intenção é assustar e entregar doces para as crianças — caminha pela sala. — Tem até chifres — aponta para sua testa.

— Estou vendo — dou risada. — Taylor vem me buscar. Vai ficar aqui sozinho?

— Não — Victor aparece.

— Olá, Edna Moda — aceno.

— Não é Edna, é Willy Wonka — recompõe-se.

— Ok, mas vão passar a noite em casa?

— Não. Mais tarde nós vamos à uma festa no Downtown.

— Beleza — checo a caixa de mensagens no celular. — Minha carona chegou, tchau para vocês.

— Juízo! — Joe ressalta.

No carro, Taylor estava caracterizada como Mia Wallace, do filme Pulp Fiction do Tarantino, se não fosse pela ausência de franja, nem precisaria de uma peruca. Isaac veio de Harry Potter, falou o caminho inteiro que gostaria de entrar numa câmara secreta esta noite. Lilly virou uma perfeita Velma Dinkley e Liam surpreendeu-me com uma fantasia e maquiagem assustadoramente bem feita de espantalho.
Vamos curtir a noite no Short North, há diversas comemorações badaladas e ótimas por aqui, sem contar que as festas vão até às quatro da manhã. Amanhã é sexta, mas metade da escola vai estar de ressaca, a direção simplesmente deveria emendar. No Lincoln Bay College também está ocorrendo um evento, muitas pessoas o frequentam, Taylor disse-me que nos anos anteriores, antes do diretor Framks, não havia esse tipo de coisa lá, o que era bem decepcionante para os alunos. Principalmente para os do último ano.

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