11. Snakes of LBC

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Levanto o rosto quando uma brisa fria bate em mim. Muito fria. Queria que esse vento pudesse levar embora os meus problemas, minhas angústias e todo que me incomoda desde que me mudei.

— Pensar demais traz dor de cabeça.

Viro meu rosto na direção da voz que fala comigo. Ethan.
Não sei o que ele faz aqui, mas também não me importo muito, só quero ficar sozinha, se ele deixar.

— O que faz aqui? — apoio os braços nos joelhos flexionados. — Por que não está lá dentro aproveitando a festa como todos os outros?

— Esqueceu isso lá — ergue o objeto de cabelo que deixei para trás.

— O que faz aqui? — repito a pergunta. Até parece que um acessório é a melhor desculpa que ele tem para me dar.

— Bom — se aproxima. — Eu vi o que aconteceu e se quer saber, sei bem como se sente.

— Ah, sabe? — ergo as sobrancelhas com uma expressão tranquila.

— Sei.

Ethan balança a cabeça e seu semblante fica mais sério. Ele dá alguns passos, sobe algums degraus e logo está no topo da arquibancada, sentado ao meu lado.
Ele olha-me discretamente enquanto encaro o campo, mas logo começa a observar meu panorama.

— Só quero ficar sozinha. Eu gosto — olho para ele. — Por favor.

— Você gosta? — arqueia as sobrancelhas. — Ou simplesmente se convence que é melhor assim?

Limpo a garganta e volto a desviar a atenção do garoto. De alguma forma seu questionamento me deixou reflexiva, mas ainda assim, não saberia responder sua pergunta.

— Eu não sei — suspiro, olhando para baixo. Ele ri.

— Você prefere o silêncio do que pessoas te criticando ou dizendo o que você deve fazer — coça a nuca.

— Também gosta de ficar sozinho?

— Para ser bem sincero, não. Mas há momentos em que é necessário.

Balanço a cabeça levemente, concordando com o que ele diz.
Há alguns anos, se estivéssemos tendo esta conversa, certamente eu diria que ter amigos e permanecer rodeada de pessoas é a melhor coisa que existe. Era no que eu acreditava, até perceber que não importava quantas pessoas estivessem ao meu redor, eu sempre me sentiria vazia.
Não era a ausência das pessoas que me corroía, e sim, o que elas me passavam; nada, a propósito.
Ser amigo de alguém ou ter qualquer tipo existente de relação, requer no mínimo, confiança. E confiança era algo que a relação com a minha mãe, não tinha.

Nunca tivemos liberdade suficiente — ou ela não me passou isso — para que eu dissesse o que me aflingia. Nunca disse das vezes em que os garotos me assediavam na escola, nunca contei as inúmeras suspensões que eu levei, sempre procurava um jeito de driblar meus problemas escolares. E da primeira e última vez que eu criei coragem para me abrir com ela, o que recebi foi: você é mal agradecida.
Será que todas as coisas ruins que enfrentei até agora, são o resultado dos meus atos rebeldes? Não sei o que de tão péssimo fiz na minha vida passada, mas pelo carma que estou recebendo, deve ser algo imperdoável.

— Temos duas opções sobrando depois da de ficar aqui, e observar esse gramado pelo resto da noite — Ethan quebra o silêncio.

— E quais são elas? — sorrio, virando o rosto para ele, que se levanta.

— Nós podemos entrar, ou... — tira o celular e fones do bolso. — Dançar. — balança os ombros.

Comprimo os lábios e solto um riso, mas não demoro muito a me render, sorrindo e levantando também.
Descemos até parte do gramado e depois que ele conecta o fone ao aparelho, faz um gesto para eu me aproximar.
Sem jeito, coloco as mãos em seus ombros e concedo-lhe permissão para pousar as suas em minha cintura. Ethan ajeita um dos fones em meu ouvido, assim como faz no seu.
Estamos nos movimentando bem devagar ao som de Broken”, do Jake Bugg, e eu, faço de tudo para não encarar suas íris castanhas, porque é provável que se isso acontecer, me arrependerei imediatamente do que estou fazendo.

— Cenourinha?

— Hum? — sou obrigada a levantar o rosto para encará-lo.

— Você é uma menina legal — sorri.

— Você... Você também, Ethan — umedeço os lábios. — Agora vamos focar na música antes que eu me arrependa do que disse e do que estamos fazendo.

Minha noite foi mais curta do que o esperado, mas posso dizer que foi bem agradável a parte em que Ethan me fez companhia, apesar de eu não estar tão disposta a ter uma naquele momento

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Minha noite foi mais curta do que o esperado, mas posso dizer que foi bem agradável a parte em que Ethan me fez companhia, apesar de eu não estar tão disposta a ter uma naquele momento.
Poupei meu vestígio de paciência e não voltei para o baile, apenas mandei uma mensagem no Snakes of LBC” — grupo no WhatsApp criado por ninguém menos que Taylor Wilson. Me desculpei com as meninas por não ter ficado e aproveitado com elas, um pouco impossível estar no clima de diversão depois do que Joe fez.

O mesmo não estava em casa quando cheguei, mas o carro permanecia na garagem. Victor já tinha ido embora e eu estava sozinha, o que me deu um pouco de medo pelo tamanho da casa.
Não demorei muito para tomar um banho quente e me deitar, pronta para dormir, depois, claro, de uma boa fatia de pizza. Pelo menos consegui pedir algo para comer, apensar dos obstáculos de locomoção.

Quando estava prestes a dormir, pude ouvir uma porta do corredor dos quartos, abrir. Não nego o frio na barriga que senti, já que por um minuto, achei que pudesse não ser Joe. Enganei-me graças à voz que me chamou e só então, consegui dormir, apesar de não ser a pessoa que eu gostaria que estivesse aqui comigo.
Sinto alguém balançar meu corpo freneticamente até que eu desperte e olhe a figura, assustada.

— Não me toca! — percebo que Joe está perto de mim. Encolho as pernas rapidamente e me sento na cama.

— Você está bem? — analisa-me.

— Isso importa para você? Por que está no meu quarto? — agarro meus braços e os mantenho perto do meu peito, passando a flexionar os joelhos.

— Você estava gritando. Agonizando, eu diria — apoia uma mão no colchão.

— Gritando? — indago, com o tom de voz mais calmo.

— Sim. Foi horrível e agora não se lembra — continua me fitando.

Fico cética durante alguns segundos enquanto encaro o colchão, esperando entender por conta própria o que ele quis dizer com isso. Ou estou enlouquecendo, ou ele ainda está bêbado demais para conversar.

— Você está bêbado.

— Não, não estou. São três da manhã.

— E isso muda em alguma coisa o que você fez no baile? — levanto a cabeça para olhá-lo. — Não peça mais desculpas, não as invente. Não procure justificativas para os seus erros.

— Não vou. Não tenho esse direito, e entendo isso — está sério.

— Ótimo — volto a observar a cama. — Agora pode ir, bom resto de madrugada.

— Se precisar, pode me chamar.

Não, mesmo. Prefiro morrer.
Devagar, ele se levanta.

Tá.

O ruivo vai se afastando, ainda relutante e logo, não está mais no cômodo.
A única coisa que faço antes de voltar para debaixo do lençol é respirar fundo, engolir seco e logo em seguida, afundar o rosto no travesseiro, enchendo-o de lágrimas e torcendo para que elas me sufoquem.

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