03. Pobre Regina George

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Biologia. Não é uma das piores nem das melhores aulas. O professor se virou entusiasmado para mim e encheu a boca para perguntar algo que eu não sabia responder, mas por sorte, o sinal para o intervalo tocou antes que eu pudesse abrir a boca para arriscar uma resposta. Salva pelo gongo.
Claro que ele não esqueceu de deixar claro que da próxima vez eu não escapo, pelo menos assim consigo sentir o peso daquela fala e tratar de estudar mais sobre citoplasma. Deixo alguns livros dentro do meu armário e observo curiosa duas garotas próximas à mim.

Elas estão conversando, mas não conseguem esconder as olhadas que lançam na minha direção a cada cinco segundos. Balanço a cabeça e desvio a atenção, procurando seguir algumas pessoas para encontrar o refeitório.
Não demoro muito para pegar meu almoço e sentar-me numa mesa vazia, no fundo do local, mas no momento, foi burrice demais achar que ninguém sentaria ou falaria comigo. Talvez tenha acontecido porque eu realmente não queria companhia.

— Oi — A garota sorri, colocando as mãos sobre a mesa.

— Olá — abro um sorriso tentando ser amigável, mesmo depois de ela ter atrapalhado a minha refeição.

— Desculpa incomodar, é que eu percebi que é novata. Eu sou do grêmio estudantil e gostaria que você votasse para o baile de inverno — coloca um panfleto sobre a mesa.

— Claro, pode deixar — sorrio.

— Valeu. A urna está perto da direção.

Encaro meu prato enquanto ainda escuto-a falar e apoio os antebraços na mesa, beliscando uma batata-frita.

— Você está aí! — Um rapaz magro e alto aparece atrás dela, segurando uma bandeja.

— Eu nem me apresentei, que falta de educação — reflete. — Sou Taylor, esse é Isaac.

— Meu nome é Heaven — tento não demonstrar meu incômodo com aproximações tão repentinas. Nunca soube bem como reagir à pessoas extrovertidas, eu sou totalmente o oposto.

— Se incomoda se a gente sentar aqui?

— Claro que não — sequer hesito.

Consigo ficar menos travada quando Isaac se acomoda ao lado de Taylor e ambas as pessoas parecem gostar de estarem aqui, mesmo com a companhia de uma garota que quase não fala.
Bebo um pouco da minha Coca-Cola de cereja e encaro algumas pessoas olhando para uma garota que entra no refeitório, completamente bem vestida e o ego bem inflado. Tanto que eu poderia enxergar se fosse algo sólido. Isaac percebe onde meu foco está e olha para trás, esboçando uma expressão debochada ao olhar para frente de novo.

— A abelha-rainha está na área — Isaac morde seu sanduíche.

— Que o santo dos estudantes tenha dó de nós — A garota revira os olhos, pegando a maçã da bandeja do amigo.

— Ela é tão irritante assim? — solto um riso, encarando a loira do outro lado.

— Não queira saber. Sortudas são as pessoas que têm o prazer de não conhecer aquela cobra — Isaac abaixa o tom de voz.

— A Olivia com certeza deve ser a aluna mais rica do colégio. A conta dela é grande.

— Mas o cérebro deve ser minúsculo — interrompo a morena, franzindo as sobrancelhas em sinal de desprezo. — Pobre Regina George.

— Ela de fato é uma personificação da Regina George, mas um pouco mais pretensiosa e popular. Melhor nem mencionar o porquê.

A garota sentada na minha frente olha para trás e bufa, me encarando depois de perder segundos observando a "reverência" das pessoas à Olivia.

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