39. Aprazimento

144 25 153
                                    

Meses depois.
O fim de ano foi agradável. Passamos o Natal na casa de Jennifer, conheci meus tios e até primos descobri que tenho; Jane e Freddie, os gêmeos de 19 anos de um tio chamado Alan. Gostei muito, até senti-me menos solitária no quesito família, todos foram bem receptivos e gentis comigo.
Ethan voltou a frequentar minha casa junto com Amanda, que agora, faz parte da família. Joe e ela começaram a namorar e como consequência, nossas famílias ficaram ainda mais próximas. Não tocamos mais no assunto sobre Olivia, provavelmente discutiríamos outra vez, então poupamo-nos disso, mesmo estando em constante presença um do outro, tanto no colégio, quanto fora dele. E acho que estamos bem com isso, apesar de não entender o que somos um do outro.

Depois da vitória das meninas no campeonato, e a perda dos meninos no jogo de futebol americano, meus amigos e eu organizamos uma viagem para Lorain, a fim de acamparmos. O percurso até lá dura cerca de duas horas e meia, mas com tantas pessoas dentro de uma van, comida, livros e música, é bem provável que o trajeto pareça mais rápido que o estimado.
Desta vez, não é Taylor quem está dirigindo, e sim, Liam, acompanhado de Scott e Isaac no banco da frente. Atrás, Taylor, Ethan... E eu. Procurei não ficar entre os dois, então sentei do lado esquerdo na janela, focando nos assuntos dos demais enquanto beliscava um Doritos, cujo Ethan abusava e enfiava a mão no pacote hora ou outra. Depois de alguns minutos, Taylor esticou a cabeça para encarar-me e fez um sinal para que eu levantasse, como se quisesse dizer-me algo.

— Vem aqui.

Deixo o pacote no lugar onde estava sentada e passo na frente de Ethan, para alcançar Taylor. Um solavanco faz com que eu perca o equilíbrio, caindo por cima do garoto, que segura minha cintura com as duas mãos. Não precisei olhar para o lado para saber que Taylor nos encarava, então, tratei de pedir licença a Ethan e acomodar-me ao lado da garota.

— Quer me falar alguma coisa? — pergunto curiosa.

— Não é nada. Só quero ficar do seu lado.

— Ah... — penso no que dizer, um tanto sem jeito. — E a Chloe? Tem falado com ela?

— Sim — Com as unhas roídas, ela brinca com os fiapos do jeans rasgado. — Nós terminamos o que nem devia ter continuado.

Provavelmente depois de sua consciência pesar sobre ter transado com alguém que não era ela.

— Ah, é? E vocês estão bem com isso?

— Eu acho que sim. Ela me disse que os pais decidiram a mudança de última hora. A família da Chloe sempre foi bem conservadora, não sabiam da sexualidade dela. Quando a mãe descobriu, pensou rápido porque sabia que ela não se afastaria de mim. E então, se mudaram — Taylor balança os ombros deixando a mão que até então brincava com a calça, em minha coxa desnuda.

— Como se essa mudança fosse mudar quem a Chloe é — reviro os olhos discretamente, olhando para o lado e percebendo a atenção de Ethan em nossa conversa. Engulo seco.

— Pois é, tudo muito ridículo e sem nexo.

Ficamos o restante do percurso trocando mais algumas palavras, assim como todos no veículo. Logo, me peguei sonolenta, Ethan já cochilava com a cabeça encostada na janela e fones nos ouvidos, então, encostei minha cabeça em seu ombro enquanto o rádio tocava algo que parecia Shania Twain, e cochilei.

Saímos com a luz do sol nos guiando, mas quando finalmente alcançamos nosso destino, o brilho da lua já banhava a cidade, mesmo que não estivesse escuro por completo. Montamos as barracas, Scott acendeu uma fogueira e logo, reunimo-nos em volta desta para uma cantoria para lá de inusitada. Ethan recolheu o violão dentro da van e juntou-se a nós, brincando com as cordas do instrumento.

— Isso é bom, hein — Taylor balança a cabeça no ritmo da melodia aleatória que Ethan toca.

Beberico um gole do álcool em meu copo e encaro Ethan, distraído. Minha cabeça vai longe e me perco em pensamentos, mais uma vez, para variar. Quando a música para, não envolvo-me no assunto das demais pessoas, apenas saio da roda e caminho para a minha barraca. Afofo o colchonete e sento-me num canto, pegando meu celular e checando uma mensagem de Joe, questionando sobre como me sinto. Respondo-o e levanto a cabeça para encarar a figura que aparecera em minha frente de repente.

— Posso entrar? — Ethan pergunta.

— Claro.

Ele entra e fecha o zíper da barraca, acomodando-se ao meu lado. Seus olhos esquadrinham-me e como sempre, sinto-me intimidada. Não tenho certeza se isso acontece somente com ele, mas acredito que não. Todo e qualquer homem que me olhe mais que o normal, consegue fazer meu corpo falhar, automaticamente. Parece alguma espécie de maldição.

— Você está bem? Perguntei ao Joe sobre você e ele me disse... Ele contou o que aconteceu.

— Eu estou bem, e... Ele não precisava ter dito — encaro minhas mãos. — Aliás, você tem meu número, poderia ter ligado para mim.

— É, poderia. Mas não sabia se você atenderia.

— Por que não atenderia? — levanto o rosto para encará-lo.

— Você sabe — Ethan suspira, usando uma mão para segurar meu rosto. — Eu sinto muito pelas coisas que falei para você, por conta da minha ideia maluca. Olivia agiu da mesma maneira e disse que não aceitaria.

Penso em dizer "eu avisei", mas não o faço. Fico alguns segundos admirando seus traços faciais e perco-me na vontade de beijá-lo que me arrebata. Seguro o impulso, mas quando sua boca fica próxima demais da minha, não consigo resistir. Meu leve hálito alcoólico funde-se ao seu, frutoso, numa mistura envolvente e instigante. Completamente insólito. Percorro meus dedos por suas costas, inclinando meu corpo em sua direção, instantaneamente, enquanto os dedos de Ethan afagam meu cabelo.

— Desculpa.

— Ei — Ethan usa uma mão para segurar meu queixo e erguê-lo em sua direção, forçando-me a encará-lo. — Você não tem que se desculpar por nada. Muito menos por ter medo. Isso não é culpa sua, Heaven — Ele deixa um beijo carinhoso em meu pescoço.

— Eu sei, mas não quero ter medo — deposito minhas mãos em seus ombros.

— Você é linda — seu polegar acaricia meu rosto. — Seu corpo é lindo. Nunca deixe que digam o contrário.

Seus lábios voltam a encontrar os meus num beijo sutil e carinhoso.

Heaven Onde histórias criam vida. Descubra agora