37. Delírios

134 23 210
                                    

A semana começou mal. Durante a madrugada da terça-feira, tive uma reação alérgica porque Joe esqueceu da minha restrição quanto à nozes. Aconteceu depois do previsto, mas fui medicada e tudo ficou bem. Amanda e ele continuaram a sair e tive que passar algumas noites sozinha. Não foi agradável, fazia muito tempo que não ficava sem companhia em casa durante a noite e isso desencadeou uma série de pesadelos com Brett. Um pior que o outro.
No dia em que Pete foi embora, jurei ter visto meu padrasto observando-nos em algum lugar do aeroporto. Foi bizarro, comecei a tremer, não conseguia falar e passei uma tremenda vergonha na frente de Celeste, ela nunca tinha presenciado uma crise minha.

Todas as vezes em que fecho os olhos, todas as vezes em que eu acho que finalmente vou ter uma boa noite de sono, imagens do passado invadem meu subconsciente e fazem uma espécie de lavagem cerebral, onde todas as memórias boas se esvaem e as únicas que restam são as que aterrorizam-me desde que Brett colocou os pés na minha casa. É horrível, sou torturada diariamente com estes pensamentos. É ainda mais assustador imaginar que posso deparar-me com ele em qualquer lugar, a qualquer hora.
Fico remoendo tal assunto até o sinal despertar-me do transe. Junto meus livros de qualquer jeito e enfio dentro da mochila, correndo para a porta. Antes que eu tenha a chance de sair, a professora Toshiko chama minha atenção.

— Você está bem, Haven? — aproxima-se, de braços cruzados.

— Sim, estou. Aconteceu algo? — Apesar de ela sempre pronunciar meu nome errado, desisto de corrigir.

— Parecia distraída na aula. Fiquei preocupada.

— Ah, não precisa disso. Só estava pensando num trabalho de álgebra que tenho para fazer.

— Ok. Se precisar de alguma coisa, sabe onde me encontrar — sorri.

— Obrigada, professora.

Rapidamente, retiro-me e vou em direção aos corredores. Parando perto do meu armário, observo Taylor, Lilly e Isaac do outro lado, eles conversam e parecem entusiasmados. Sempre que presencio situações assim sinto-me deslocada. Deslocada por colocar meus problemas acima da minha felicidade, por sentir que sempre estou onde não devia e por pensar que nunca serei amada como mereço.
Depois de guardar minhas coisas, avanço pelo pátio e encontro Ethan nas escadas, na frente do colégio.

— Oi! — Sorrio, estendendo os braços para abraçá-lo. Deixo um beijo demorado em seus lábios e logo que me afasto, percebo sua tensão. — Você está bem?

— Eu conversei com a Olivia.

— E isso é um problema? Como ela está?

— Bem. Ela está bem — Ele coça a nuca.

— E por que você está com essa cara? — ergo as sobrancelhas.

— Na conversa eu... falei que quero assumir o bebê — encara-me sério.

— Você o quê?!

— Tristan não vai fazer, e ela não merece isso.

— Ah, e por isso você vai bancar o pai? — solto um riso sem graça. — Que merda você estava pensando? Ou melhor, que porcaria você tem na cabeça?

— Vou assumir aquela criança. Isso não é uma merda. Olivia precisa de alguém, nós tivemos uma história e agora eu quero assumir aquela criança — age com naturalidade.

— Olha a sua calma! Você só pode estar brincando comigo — balanço a cabeça, passando as mãos no cabelo.

— Por que, Heaven? Porque quero assumir um filho com a minha ex?

— Não, Ethan. Porque você é a porra de um adolescente e assumir um filho não é fácil como pensa. Não é só colocar seu nome na certidão de nascimento dele. Acha que vocês vão conseguir criar um filho sem morar juntos? Não. Ser pai é mais que só um nome, é estar presente.

Heaven Onde histórias criam vida. Descubra agora