Stuck Together

Prólogo

Felina

Como descrever a Adora? Nem sei por onde começar, ela era meu tudo. Desde eu me lembre nós éramos amigas, nem sei em que momento eu comecei a vê-la com outros olhos.

O primeiro amor é algo estranho, por causa dela quando eu tinha 12 anos me entendi como lésbica. A reação dela foi me dar um selinho e falar que estava tudo bem. Isso só fez eu amar ela mais ainda. Esse foi o único sinal que Adora me deu que pudesse gostar até aquela noite.

Desde que eu saí do armário eu sempre cantava ela, acho que ela via tudo como um brincadeira, afinal amigas brincam assim vezes, né?

Eu nunca tive muito carinho ou amor dentro de casa, eu era adotada, no caso minha tia cuidava de mim. Quando Sombria não estava trabalhando, estava bêbada no quarto, chorando pela morte do filho. Eu não a culpo, perder seu filho de 13 anos para um câncer deve ter sido difícil, isso foi antes da minha mãe falecer, não cheguei a conhecer meu primo. Como ela tinha dinheiro, nós tínhamos uma empregada, então as tarefas da casa não recaiam sobre mim, e por mais que a vida fosse boa, poderia ser melhor.

Por causa disso, eu sempre tive dificuldade de fazer amigos e demonstrar carinho. Já a Adora sempre viveu em um ambiente cercado de amor, a família Grayskull sempre foi muito aberta até comigo.

Eu me perguntava muito, por que ela andava comigo. A Adora era popular desde a infância, tinha uma capacidade de liderança incrível e era ótima em tudo, desenhar, cantar, esportes, até tirava notas boas.

Eu sentia um misto de admiração e inveja por ela. Ao mesmo tempo que todas essas qualidades faziam eu gostar cada dia mais dela, também faziam eu odiá-la, sempre nos comparavam, a Adora consegue fazer isso, por que você não consegue? Eu sempre ficava puta. Mas, no fim nunca foi culpa dela, os outros que botavam essa pressão ridícula em mim.

Tudo começou a dar errado na noite do meu aniversário, 28 de outubro de 2016. Como eu não tinha mais ninguém, passávamos datas comemorativas juntas.

Algumas pessoas fazem grandes festas de 15 anos, eu só queria passar um tempo com a Adora vendo algum desenho animado, nós duas gostávamos muito de desenhos, as vezes fingiamos que éramos os personagens e nos chamávamos pelos nomes deles. Adora me convenceu a ver She-ra com ela, era meio que nossa coisa.

Ela era She-ra, loira e poderosa. Eu era Catra, não sei por que, talvez o estilo dela combinasse comigo? Só sei que me identifiquei com aquele personagem sem graça de uma série dos anos 80.

Já eram 20:00 quando subimos para meu quarto.

— Então, como está sendo sua festa de 15? — Adora falou com aquele sorriso capaz de iluminar o mundo.

— Ótima, estou aqui com você. — Ela fez a cara convencida. Joguei minhas mãos por cima do seu rosto. — Não assim idiota.

— Então, eu vou por she-ra, Catra. — Estava tirando onda comigo por causa do apelido.

— Só bota logo. — Me apoiei em seu ombro, envolvendo a coberta em nossos corpos.

Depois de um episódio ela me encarou com aqueles olhos azuis, fiquei hipnotizada.

— Seu aniversário já está acabando, né? — Acenei com a cabeça confirmando. — Você não dançou valsa.

Encarei-a com minha melhor expressão de que aleatório, vei.

— É uma tradição, né? Na minha festa eu dancei com meu pai e irmão. — Adora, como a boa famosinha que era, fez uma festa, não foi muito grande ou muito chamativa, mas ainda sim foi uma festa.