Capítulo 9

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Felina

Acordei com a Adora ainda adormecida em meus braços. Não iria me levantar, poderia acorda-la, ela realmente precisava dormir. Pelo o que passara durante todos esses anos que ficamos separadas?

Eu perdi a noção do tempo vendo-a dormir. Não era perfeita, seu cabelo estava bagunçado e respirava alto. Aproveitei cada instante guardando aquela imagem na minha mente. Quanto mais eu olhava, mais me apaixonava.

Passei o que poderiam ter sido segundos, minutos ou horas encarando Adora, até ela começar a piscar.

Primeiro, sua reação foi surpresa, acho que por me ver tão perto dela. Depois, sorriu sonolenta. Entretanto esse minuto fofo durou pouco.

Adora botou a mão na cabeça, provalvemente de ressaca.

— O que aconteceu- Antes que terminasse a frase se encolheu. — A gente precisa conversar, né? — Se sentou na cama.

— A gente não precisa conversar agora. Vou buscar um remédio para sua ressaca.

Sai do quarto, mas fui rápida para não deixá-la sozinha por muito tempo. Quando voltei ela encarava a parede com uma feição um melancólica.

— O remédio. — Ofereci. Tentou esboçar um sorriso, mas falhou. Tomou a medicação junto d'água.

— Fica aqui mais tempo comigo? — Adora sussurou. Me sentei ao seu lado, deixando ela pousar a cabeça em meu ombro. — Pelo menos você está aqui agora, não estou mais sozinha.

Passamos a manhã, assim juntinhas. Em alguns momentos os olhos da Adora lacrimejaram, tendo um choro baixinho contra meu corpo, em reação eu a apertava bem forte. Pedimos comida, para eu não precisar sair de perto dela. Não arrumamos a casa da bagunça de ontem a noite, então comemos no quarto.

No fim da tarde, ela parecia ter superado a ressaca. Fiz carinho em seus cabelos loiros, de repente a Adora saltou do meu abraço, segurando minhas mãos.

— Acho que está na hora de eu te contar. — Ela inspirou forte antes de continuar. — Hoje seria o aniversário da minha mãe, três de Maio. — Parecia prestes a chorar, apertei suas mãos. — Você se lembra daquela noite? No seu aniversário?

Essa me pegou de surpresa, óbvio que eu me lembrava de quando ela me abandonara, como todo mundo fazia. No meu mundo idealizado ela seria tipo um Sebastião que sumiu, mas que quando voltasse me conduziria a grandeza. Já pensei muito no que a levara a me largar, mas nunca cheguei uma resposta satisfatória, eu não esperava que essa conversa chegasse nesse território inexplorado da nossa amizade.

— Naquela noite, eu recebi várias ligações do hospital no meio da madrugada... — Suas lágrimas caíram, levei uma mão até seu rosto, limpando-as. — Eles disseram que meus pais tinham sofrido um acidente. Não quis te acordar, por isso te deixei dormindo lá.

Colocou sua mão em cima da minha em seu rosto.

— Eu estava passando por turbilhão de emoções, me desculpa por não ter falado nada. — Lágrimas escorreram pela minha face, nunca pensei que ouviria ela falar assim, tão acabada. Eu achava que ela não tinha sentindo nada ao me abandonar. A Adora estava tão quebrada quanto eu.

— Não importa mais. Estamos juntas agora. — Entrelacei nossos dedos, essa ação fez ela se endireitar um pouco e continuar a história.

— Eu fui ao hospital, eu me lembro de me sentir sozinha naquele corredor, sentada em uma cadeira de plástico. Meu pai e minha mãe estavam na cirurgia. Passei horas sentadas no escuro e frio banco sem conseguir fazer nada, estática. Algumas horas depois meu irmão mais velho apareceu no hospital, ele pegou o primeiro voo, que conseguiu. Ficamos um do lado do outro, me lembro de sentir sua mão quente contra a minha nas horas seguintes. Devia ser umas seis da manhã quando um médico apareceu, me lembro de sentir um enjoo, algo muito ruim iria acontecer.

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