Capítulo 17

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Felina

Eu não consegui sentir nada, parecia que eu estava anestesiada, depois da explosão de sentimentos veio o vazio.

Eu não tinha ideia do que fazer, além de vegetar. Provavelmente em toda minha vida eu nunca tinha me sentindo tão mal comigo mesma, dessa vez eu não podia delegar a culpa para ninguém, além de mim.

Melog foi uma das únicas coisas me manteve sã, cuidar dele foi o que me impediu de surtar e fazer qualquer besteira.

Procurei várias vezes alguém para quem eu pudesse ligar, olhar minha lista telefônica só piorava meu sentimento de solidão, óbvio que eu não teria ninguém para ligar, depois de anos afastando todos.

O sábado chegou e a pouca esperança que eu tinha que a Adora pudesse voltar morreu mais um pouco. Mesmo assim, eu não consegui chorar.

Pela primeira vez eu senti a falta de um propósito, eu sempre estava tão preocupada e tão ocupada desde a morte da Sombria. Eu não tive tempo para me preocupar com nada distante. Primeiro, eu precisei me sustentar, me matei de estudar para entrar na faculdade e nos últimos meses a Adora tinha me ajudado a preencher esse nada.

Esse vazio sempre esteve aqui, mas agora eu não sei como preenche-lo. Por isso, fui fazer deveres na faculdade, no automático. A verdade era que eu me havia escolhido um curso qualquer, meus professores falaram que eu poderia ser uma boa advogada, então fiz direito. Nunca realmente quis isso. Nem sei o que eu quero.

Dei uma olhada nas minhas redes sociais, até passar um stories da brilhosinha vendo she-ra escrito na tela, o que a gente não faz por uma amiga.

A Adora estava bem, estava até vendo série com a melhor amiga dela. Enquanto, eu estava sofrendo. Realmente, ninguém se importava, se eu sumisse hoje, alguém se importaria?

Para responder minha pergunta, Melog subiu no meu colo esfregando a cabeça na minha barriga. Sim, o único que se importava comigo era o gato.

— Pelo visto a gente só tem um ao outro, né? — O animal devolveu um miado.

Só percebi que estava há mais de 24 horas sem comer, quando minha cabeça começou a latejar, minha pressão estava baixa. Tentei me levantar, mas no mesmo instante a sensação de vertigem bateu, me fazendo cambalear de voltar para a cama.

Se eu não conseguiria levantar era melhor voltar a dormir. Me enrolei nas cobertas, mesmo sem fazer frio. Cai nas profundezas do meu subconsciente.

Tive vários sonhos estranhos e monocromáticos, envolvendo pessoas que eu amava sumindo e eu ficando sozinha, sendo sufocada por cinzas. Acordei tossindo, coloquei a mão na garganta, não tinha nada, detesto esses sonhos vividos. Freud teria muito a dizer se fosse analisar meus cochilos.

A sensação desconfortável de acordar perdida no tempo me fez levantar e buscar água na cozinha. Tomei três copos seguidos. Minha barriga se embrulhou, me sentei no chão esperando a sensação passar.

Engatinhei até a geladeira, abrindo e pegando uma maçã meio passada, meu estômago roncou, puta que pariu, eu estava com fome.

Dei três mordidas rápidas, antes de parar. Deixei a fruta em cima da mesa, sentando na cadeira.

Eu sabia que comer tão rápido iria fazer mal, nem isso eu conseguia fazer direito.

Melog miou parado do pote de ração, nem para cuidar de mim eu prestava, quem dirá para cuidar do gato. Levantei indo buscar a ração, mesmo com meu estômago revirado.

Me abaixei um pouco indo colocar a comida em seu pote de ração. Senti a vertigem, logo depois corri até o banheiro.

Coloquei os dois copos de água e os três pedaços da maçã para dentro da privada. Meu estômago ainda estava revirado, eu não aguentaria comer nada por enquanto. Dei descarga e peguei meu celular, pedindo um Gatorade em um desses apps que entrega coisa em casa.

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