— Todos nós somos iguais, temos o direito a um lar e de pertencermos a algum lugar, e vocês acabaram de tirar o mundo de um ser. — Ao finalizar sua fala, Nicholas transformou-se e voou atrás de Sorah.
O festival estava completamente paralisado com os recentes acontecimentos, o público presente discutia sobre a intrusa e o sermão de Nicholas. Depois de alguns minutos, Ilse tomou a palavra, com o intuito de finalizar e dispersar os rumores, a matriarca falou:
— As apresentações estão encerradas, aproveitem o festival!
O globo lunar transcendia uma forte luz, gerando uma noite clara por todo o mundo mágico, e ao longe na imensidão, Sorah tentava distanciar-se o máximo possível do festival, sobrevoando uma floresta quando a sua inexperiência em voar a fez cometer um deslize e suas asas falharam. Por alguns instantes a garota caiu em queda livre, a colisão com os galhos das arvores a lançou no interior da densa floresta.
Fragilizada psicologicamente, a dor da queda desencadeou um desespero que a fazia chorar. Caída sobre a terra úmida da floresta, sem reação para prosseguir, ela entregou-se a tristeza e permaneceu na escuridão entre as raízes das arvores.
Uma luz vagava pelo interior da floresta, Sorah seguia aquela movimentação com os olhos e devido a longa distância não conseguia identificar do que se tratava. Aproximando-se lentamente agora no interior da luz se via uma pequena criatura verde, suas asas pontiagudas batiam aceleradamente, suas patas balançavam com o vento, seus olhos fixos na garota, e a pequena criatura ficou à frente dela encarando-a.
Estendendo as mãos para que a criatura pousasse, Sorah reconheceu pelas feições tratar-se de seu guardião, era minúsculo, mas mesmo assim sentia grande orgulho do que invocou. Aquele ser comprovava a sua essência, e com tal prova mesmo que fosse necessário usar a força, ela traria à tona sua verdadeira origem.
Disposta a enfrentar toda aquela multidão novamente, Sorah estava obstinada a mostrar a todos o seu guardião e assim afastar os rumores de que era uma intrusa na família Esperança. Olhando fixamente seu guardião nos olhos, ela levantou voo e refez o caminho para o festival, sendo seguida de perto pelo pequeno ser.
Ao voltar de cabeça erguida ao lugar onde a humilharam, com capacidade de enfrentar e mostrar a todos que a subjugaram que eles estavam errados, Sorah sentia-se forte com poder mais que o suficiente para defrontar todas as adversidades que surgissem. Depois de voar por alguns minutos, no horizonte se via as luzes do festival.
O público estava disperso, mas a atenção de todos se voltou a Sorah, seu pouso no centro do palanque iniciou um alvoroço por todos os cantos do festival. Sob o olhar de todos os presentes, ela estendeu suas mãos e seu guardião apresentou-se emitindo uma forte luz verde vibrante, mesmo sendo pequeno, o ser era visto por todos ali que ficaram pasmos e tiveram que voltar a atrás quanto ao julgamento anterior, depois de exibir seu guardião, Sorah desafiou:
— Eu sempre fui membro da família Esperança e com o meu guardião comprovo minha origem, quem me julgou como uma intrusa terá de aceitar que estava errado, pois eu permanecerei aqui com o meu pai no meu verdadeiro lar!
O público calou-se por alguns instantes e apenas observavam o desfecho de toda aquela trama familiar. Sentindo-se ofuscada por sua prima, Lirin fez cara de birra e afastou-se pisando firme no solo, antes que a garota saísse da área do festival, Ilse a abordou:
— Não adianta se frustrar com esses acontecimentos, você deve ignorar e se sobressair diante de tais fatos, essa noite é sua Lirin, se abandonar o festival vai apenas ocultar a sua vergonha, mas ela permanecerá aqui.
— Ah! Eu sei, mas essa garota me tira do sério! — Depois de mais alguns gritos histéricos, Lirin cruzou os braços e mesmo frustrada permaneceu no festival.
Depois do desencontro, Nicholas retornou sem respostas do paradeiro de sua filha, mas assim que se aproximou a viu no centro do palanque, imediatamente pousou e a abraçou. No conforto daqueles braços, Sorah chorou, suas lagrimas eram diferentes elas não emitiam tristeza, apenas a certeza de que independente de sua origem sempre o amou como um pai.
Pegando sua filha no colo, Nicholas impulsionou com as pernas e decolou ao alto. Fugindo dos ataques e acusações de pessoas sem sentimentos, na imensidão do céu sentiam-se seguros, com uma voz rouca e baixa, ele ressaltou ao olhar o pequeno guardião que os seguia:
— Sempre ouvi falar que quanto maior sua esperança, maior o seu guardião será. Eu sei que no seu interior tem uma garota forte, só tente liberar seus sentimentos.
— Mas eu nem sei o que eu sinto! — Falou Sorah inundada em emoções.
— Desde bem pequena você sempre gostou de cortar os céus comigo. — Ao lembrar-se do passado, Nicholas demonstrou afeto, e então continuou. — Eu adorava ver seu sorriso e as gargalhadas sempre que brisa tocava seu rosto. Sinto muito que o sorriso se fechou.
— Mas ele permanece aqui! — Mesmo com o rosto cheio de lagrimas, Sorah sorriu.
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Há Magia
FantasyUm céu real e uma terra servil dividiram uma sociedade em mundo onde há magia. Em meio a conflitos o mundo mágico moldou-se em sua imensidão, cheio de histórias e tradições, seres mágicos convivem entre ordens e leis, ramificados por classes e famíl...