Antes que eu pudesse me dar conta, o babaca do Bruno, eu e a professora chegamos ao escritório da diretora da escola.
A mulher mais velha soltou o meu braço e bateu duas vezes na porta.
Um segundo depois uma voz veio lá de dentro ordenando que entrasse.
Agarrei o tecido da minha camiseta com força entre os dedos que tremiam ligeiramente e ergui o queixo antes de entrar, soltando uma expiração pesada.
O ambiente em tons de preto e cinza não tinha nada de pessoal, nada de fotos da família enfeites, era um ambiente prático e minimalista que não dava espaço para divagações ou imaginação.
A mulher por volta dos cinquenta com os cabelos castanhos começando a raiar de prateado mal ergueu os olhos da tela do seu computador antes de suspirar.
— Angélica, de novo? — questionou tirando os óculos de leitura e apoiando-o na mesa metodicamente organizada. — É a primeira semana de aulas e você já me fez duas visitas, pelo amor de Deus.
Dei de ombros com o olhar fixo nos meus pés, nos tênis esportivos. Ela suspirou e passou os dedos finos pelo cabelo perfeitamente em ordem, preso em um coque severo que a fazia parecer a professora McGonagall de Harry Potter. Às vezes eu me perguntava se ela seria capaz de se transformar de gato enquanto ninguém olhava. Com aqueles olhos escuros e penetrantes, eu não duvidava de nada.
Ela virou o olhar na direção do idiota ao meu lado e seu queixo caiu. Claro, eu era figurinha repetida naquele lugar, mas o sr. Perfeitinho não tinha esse costume.
Ela limpou a garganta com um pigarro.
— Bruno, explique-se — a diretora ordenou com a voz imperiosa como a de uma rainha, cruzando as mãos nodosas sob o queixo.
— Não foi nada, professora. — Ele sorriu na direção dela de um jeito que era quase um flerte descarado. — Cabeça quente por causa do jogo, sabe como é, né?
Meu coração acelerou com o seu tom despreocupado.
— Seu babaca mentiroso — rosnei me virando na direção e agarrei a frente da sua camiseta azul.
A professora Regina me segurou com mais força, se colocando entre eu e o imbecil e prendendo meus braços nas costas como se eu fosse uma criminosa prestes a ser algemada.
— Ele fez piada com a morte do Rafa! — contei rapidamente o que tinha acontecido diante do olhar chocado das suas mulheres mais velhas.
Lá pelo meio da história a professora de Educação Física soltou os meus braços. Seu rosto dourado estava pálido e ela sequer percebeu que tinha me soltado.
A sala da diretora estava tão silenciosa que o único som era o das nossas respirações, do computador e do ar-condicionado ligados. Sons mecânicos.
— Hum — a mulher atrás da mesa fez assentindo seriamente depois do que poderia ter sido uma vida toda em silêncio. Seu coque firme sequer se moveu na cabeça. — Vocês dois estão suspensos até quarta-feira.
— Mas, professora...! — quase gritei erguendo as mãos na direção dela em uma súplica. — A culpa é toda dele!
— Professora — o babaca do Bruno disse com a voz gentil. — Por favor, não foi nada demais, não precisamos chegar a extremos.
A mulher mais velha arriou os ombros lançando olhares tão penetrantes que eu podia jurar que ela era capaz de ver a minha alma.
— Extremos? — repetiu com a voz gelada, fixando os olhos brilhantes no rosto dele sem bondade, apenas uma frieza capaz de congelar. — E por acaso o senhor se importou com extremos quando ofendeu um colega que não está mais entre nós para se defender?
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Química Imperfeita [CONCLUÍDA]
Teen FictionElisa Bernardi é a filha perfeita: ela tem boas notas, dança ballet, ajuda em um abrigo de animais e tem um exército de pretendentes atrás de si. Mas essa não é a história de Elisa. Angélica Bernardi cresceu sendo comparada com a irmã mais nova e, d...