10- Aulas

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Alex me levou para a minúscula cozinha da sua casa e logo começou a se mover ao redor, recolhendo o que precisava para fazer o seu almoço com uma a graça de quem sabia exatamente o que estava fazendo enquanto eu continuava parada sob o umbral que separava a cozinha do corredor curto que levava à sala.

— Macarrão? — perguntou com a voz um pouco abafada se abaixando diante do pequeno armário embutido. — Ou arroz, feijão e salada?

Alex pegou um saco fechado de massa e mostrou para mim em uma pergunta silenciosa.

— O que você quiser está ótimo — agradeci em voz baixa me sentindo desajeitada e idiota, parada ali sem fazer nada enquanto ele colocava a água para ferver.— Posso ajudar em alguma coisa?

Alex, que estava terminando de recolher as coisas me olhou com uma sobrancelha erguida.

— Você sabe cozinhar? — duvidou de uma forma muito ofensiva, erguendo as sobrancelhas tanto que os óculos escorregaram para a ponta do nariz.

Cruzei os braços no peito.

— Sei — respondi de forma defensiva erguendo o queixo. — Nossa governanta me ensinou.

Alex deu uma risada baixa e sem humor.

Governanta — repetiu soando quase como se não soubesse o que era isso. Alex suspirou e abriu uma gaveta, tirando dali uma faca grande e afiada.

— Você pode pegar uns sete tomates para mim na geladeira? — pediu, indicando o eletrodoméstico como se eu não soubesse o que era a porcaria de uma geladeira. Peguei alguns frutos bem vermelhos e pensei em jogar nele, mas simplesmente coloquei na banca ao seu lado com um pouco mais de força que deveria.

Alex lavou os tomates e começou a cantarolar baixinho, ligeiramente desafinado, picando-os.

— Posso ajudar em mais alguma coisa? — ofereci.

Ele virou a cabeça um pouco na minha direção e sorriu ligeiramente.

— Não — respondeu erguendo os ombros. — Estou acostumado a cozinhar sozinho e essa cozinha decididamente não tem espaço para nós dois nos mexermos demais. Você pode sentar enquanto eu cozinho.

— Tá — resmunguei me jogando na cadeira, odiando ficar parada e inútil.

Peguei o meu celular e comecei a jogar CandyCrush.

Os ombros de Alex arriaram.

— Ou você pode pegar o manjericão e o sal — acrescentou com a voz mais gentil. — Na prateleira alta — indicou com a mão.

Me levantei, animada, e corri para o lugar onde ele tinha me indicado. Achei o sal com certa facilidade, no entanto outra coisa chamou a minha atenção antes que eu pudesse pegar o manjericão.

Observei o pote de vidro bem fechado e o seu conteúdo. Aquilo decididamente não parecia manjericão. Coloquei o pote sobre o nariz, mas estava bem vedado, de modo que não senti cheiro algum.

— O que é isso? — perguntei observando um pote com o conteúdo verde escuro e sem nenhuma indicação do que era.

— Erva — Alex respondeu sem prestar atenção olhando por cima do ombro rapidamente antes de voltar a cortar os tomates em quatro partes.

Dei uma risada descrente.

Maconha? — quase gritei. Alex, o sr. Certinho com maconha?

A faca do nerdinho caiu com estrépido na sua tábua de cortar e ele se virou para me encarar.

— Erva mate, anjo — explicou como se eu fosse estúpida, mas suas bochechas estava vermelhas como os frutos na bancada. — É para o chimarrão.

Química Imperfeita [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora