35- Pequenas alegrias

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Mamãe estava bastante distraída depois de ter encontrado o seu antigo amor de juventude logo após não ter conseguido encontrar o ex-marido babaca.

Ela mal parecia respirar, sentada no sofá da sala com um livro nas mãos.

Eu fazia companhia para ela enquanto esperava Alex ter alta do hospital.

Ela me olhou por cima da borda do livro que lia para o seu clube de leitura só para voltar a olhar para o livro com as bochechas vermelhas. Minha mãe parecia mais adolescente que eu!

— Mamãe, mamãe! — Paola veio saltitando com Augusta logo atrás. Os cabelos cacheados da minha irmã estavam soltos das tranças que ela deveria estar usando. — Olha só o que eu fiz pra você!

Minha mãe estendeu a mão de unhas bem feitas para a folha de papel cheia de rabiscos coloridos da filha caçula.

Ela sorriu e seus olhos negros se enterneceram.

— Que lindo! — exclamou.  Ela girou a folha para procurar algum sentido nos rabiscos. —  O que é isso?

Paola a encarou, ofendida por não ter sua obra de arte reconhecida.

— É uma flor, mamãe! — respondeu, ultrajada. — Vem, Augusta! — chamou, irritada batendo o pezinho descalço no chão claro.

A nossa governanta olhou meio amedrontada para a minha mãe, esperando uma repreensão severa à pequena, mas minha mãe não disse nada, de modo que as duas voltaram para o canto da sala onde minha irmã estava pintando.

Mamãe suspirou.

— Os terríveis seis — murmurou baixo o suficiente para que Paola não ouvisse.

Abri um sorriso na sua direção.

— E depois vem os terríveis sete, os terríveis oito, nove, dez... — comentei com malícia.

Mamãe riu meio que contrafeita.

— É verdade — admitiu em voz baixa. Ela me observou outra vez. — Você não deveria estar ao lado do leito do seu namorado?

Eu ri do seu tom. Quem visse poderia até mesmo pensar que minha mãe estava me dispensando.

— Só estou esperando Alex chegar e se instalar no quarto dele — expliquei. — A doutora Anahí acha melhor não ter muita comoção para não deixá-lo agitado.

Mamãe assentiu e voltou a olhar seu livro, no entanto seus olhos sequer se moviam, fixos em um ponto qualquer do papel.

Eu tinha uma boa ideia do que a estava tirando de órbita. O motivo tinha quase dois metros chamava Augusto Dias e era chef-executivo em um restaurante, eu podia apostar.

Meu celular vibrou com uma mensagem de Alex dizendo que estava em casa e que eu poderia ir.

Me despedi da minha família e mandei uma mensagem para Elisa lembrando-a para ficar esperta quando descesse do Uber.

Ela tinha ido para a casa de Miyuki depois do ballet e eu morria de medo sabendo que nosso pai estava desaparecido. Ele poderia se aproveitar da natureza gentil e distraída da minha irmã para pegá-la desprevenida.

Meu Uber chegou poucos minutos depois e quase me joguei dentro do veículo.

Alex monitorou a minha viagem o tempo todo e a doutor Anahí abriu o portão antes mesmo que eu chegasse.

— Boa tarde! — exclamei, feliz, para a minha ex-psicóloga.

Ela me cumprimentou com um beijo na bochecha.

Química Imperfeita [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora