31- Feridas antigas

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Foi um pesadelo.

Cada minuto parecia uma eternidade inteira enquanto esperávamos pelo socorro, jogados no gramado da escola.

Alex estava consciente, embora visivelmente agonizando de dor.

Ele tentou se virar para mim, mas arfou e levou a mão que eu não segurava à lateral do corpo.

— O que foi? — sussurrei apertando os seus dedos gelados. — Tá doendo muito?

— Não foi nada, anjo — ofegou, respirando superficialmente. — Estou bem.

Ele obviamente estava mentindo para fazer eu me sentir bem e isso me fez ter vontade de chorar ainda mais, no entanto segurei a emoção, fungando.

Alex era a única pessoa ali que tinha motivos para chorar.

— Sabe — eu disse tentando lembrar de qualquer coisa que pudesse desviar a sua atenção da dor. — Quando eu tinha uns oito anos eu caí de mal jeito de cima de uma árvore e quebrei o braço.

— Ah, é? — Alex questionou, interessado, embora ainda estivesse suando em bicas.

Acariciei seu cabelo úmido, afastando a franja dos olhos dele e tirei seus óculos destrupidos.

Dobrei as perninhas de metal e coloquei o objeto na gola da minha camiseta como se fosse um óculos de sol.

— Arrã — continuei em voz baixa. — Eu não queria que ninguém soubesse porque me machuquei por teimosia, então fingi por quase um dia inteiro que nada tinha acontecido, até a boca aberta da Elisa contar para a minha mãe. Mamãe ficou muito brava porque ela tinha dito uma dúzia de vezes para eu não subir nas árvores.

Alex deu uma risada suave, mas suas sobrancelhas se contraíra de dor.

— Isso é a sua cara... esconder que se machucou — ofegou um pouco sem ar. — Você odeia demonstrar vulnerabilidade, anjo.

Sim, eu odiava.

Acariciei seu cabelo castanho outra vez.

Felizmente a enfermeira escola chegou logo e prestou os primeiros socorros a Alex sob o olhar da diretora, meu e da psicóloga.

A escola tinha tido o bom senso de não permitir que os alunos saíssem das salas, dando espaço para a mulher trabalhar em silêncio.

Cabeças lutavam para ver alguma coisa por entre as árvores e estremeci, odiando a atenção dirigida à Alex.

— Acho que ele fraturou uma costela — a mulher informou e um arrepio gelado correu pela minha coluna.

A doutora Anahí apertou a minha mão na dela com tanta força que parecia querer soldar nossas mãos juntas. Seus dedos estavam gelados contra os meus e eu retribuía com a mesma intensidade.

Qual era a força necessária para quebrar uma costela no chute? O que poderia ter acontecido se eu não tivesse interferido? Ninguém iria encontrar Alex tão cedo. Aquela pessoa covarde poderia tê-lo matado.

Quando eu pegasse o filho da puta que fez aquilo com Alex...

Tremi de raiva.

Alex comentou alguma coisa com a mãe que eu não consegui prestar atenção. Meus olhos estavam no seu rosto e corpo machucados como se eu fosse incapaz de prestar atenção em qualquer outra coisa.

Minutos depois o resgate chegou, assim como a polícia. Graças a Deus.

A enfermeira informou o que tinha deduzido aos socorristas ao mesmo tempo em que eu falava com a polícia.

Química Imperfeita [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora