4- Família

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O lado bom de morar perto da escola era que podíamos fazer o trajeto a pé e isso significava ter um pouco mais de tempo para pensar em todos os acontecimentos do dia.

A caminhada de volta para casa ao lado de Elisa foi tão tranquila quanto sempre. Minha irmã não tocou no assunto da minha suspensão ou da briga e nem eu, mas não pude deixar de pensar em tudo o que aconteceu.

Eu estava surpresa com os acontecimentos do dia, com o fato de a diretora ter ficado do meu lado, assim como a professora. Minha irmã e Miyuki não foram surpresas, mas o comportamento de Alex foi uma surpresa.

No último período ele tinha se sentado ao meu lado para a aula de biologia e passado um bilhete com sua caligrafia bonita: precisa conversar?

Balancei a cabeça. A verdade é que sim, eu precisava. Mas não com ele. Precisaria marcar um horário extra com a doutora Anahí para despejar todo aquele dia horrível na minha psicóloga.

Ela foi a única pessoa que realmente parecia entender o que eu estava passando depois da morte do meu melhor amigo, enquanto os meus pais só se importavam com a reputação da família e minhas irmãs se preocupavam que eu pudesse acabar seguindo os passos de Rafael.

Alex trocou um olhar muito significativo com a minha irmã e pude jurar que vi coraçõezinhos voando dentro dos seus olhos castanho-esverdeados. Elisa, como sempre estava alheia a tudo isso.

Ergui as sobrancelhas na direção do nerdinho e suas bochechas ficaram vermelhas como dois tomates. Um sorriso minúsculo surgiu nos meus lábios e ele ficou ainda mais corado.

Me inclinei na cadeira pronta para acudí-lo caso o garoto tivesse um derrame ou coisa assim.

Zayn, sentado ao lado de Alex, ergueu uma sobrancelha na minha direção e eu dei de ombros antes de me voltar para o meu caderno, mas senti o meu rosto ficar quente.

Fui tirada desses pensamentos quando Elisa deu risada ao meu lado, olhando para o seu celular.

Revirei os olhos para a minha irmã, mas ela não viu pois estava entretida demais com os fones de ouvidos enfiados nas orelhas e os olhos na tela.

Tirei o cartão magnético da bolsa e passei no leitor do portão de metal branco do prédio em que vivíamos.

— Ugh — Elisa suspirou quando passamos para o pátio arborizado e bati o portão com força atrás de mim, fazendo a estrutura de metal tremer. — Nem acredito que sobrevivemos à primeira semana.

— Só mais umas catorze dessas até as férias — concordei solenemente, fazendo que sim com a cabeça.

Minha irmã gemeu cravando os olhos escuros no meu rosto e afastou os cabelos com um gesto delicado da mão.

— Isso era para me animar, Lili? — criticou.

Dei risada e a abracei pelos ombros respirando seu perfume floral e fresco.

— Não animou? — questionei mordendo o lábio inferior para não acabar sorrindo e estragando a minha expressão falsamente preocupada.

Ela negou com a cabeça parecendo desolada e suspirou ao ver a imensa placa diante do elevador social informando que ele estava quebrado. Como se o dia já não estivesse ruim o suficiente.

— Aff — reclamou checando o seu celular. — Vamos pelo de serviço.

— Ou podemos ir pela escada — indiquei inocentemente a porta ao lado do elevador prateado.

Minha irmã me lançou um olhar feio. Ou tão feio quanto ela era capaz de parecer.

Sem uma palavra ela marchou para o fim do hall de paredes claras com quadros abstratos estrategicamente posicionados e mini palmeiras dentro de vasos pesados e horrorosos.

Química Imperfeita [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora