2- Jogo

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**AVISO: esse capítulo pode conter gatilho de suicídio**

O resto da primeira semana de aula transcorreu tranquilamente, apesar do incidente de segunda-feira.

Na sexta, finalmente era dia de Educação Física e me vi ansiosa para alguma coisa naquele inferno de escola.

Eu não era a melhor jogadora de futebol do mundo, mas adorava correr, pular e ter motivo para xingar meus colegas, era muito melhor que ficar trancada em uma sala de aula ouvindo cochichos sobre como eu precisava de Elisa para me ajudar com o que eu já deveria saber.

Fui ao lado da minha irmã para o campinho de futebol onde nossa turma faria Educação Física junto com o terceiro ano B. O pessoal das turmas C e D faziam a matéria juntos na quarta-feira.

— Elisa! Angel! — Miyuki, a melhor amiga da minha irmã gritou jogando os braços em cima de nós e nos esmagando em um abraço apertado assim que passamos pelo portão que separava o campo do resto do campus. — Que saudade!

Me desvencilhei dos seus braços dando um passo para trás e coloquei a mão diante do rosto para proteger meus olhos do sol.

A grama sintética parecia reluzir sob a luz do sol de verão e uma brisa suave tornava o dia perfeito para esportes.

Miyuki vestia uma camiseta larga e shorts jeans, mas ela tinha um dom de parecer extremamente bem vestida mesmo usando o básico.

— Não é como se a gente tivesse se visto ontem ou coisa assim — zombei pegando um elástico de cabelo para amarrar meus cachos volumosos.

A garota sorriu e seus olhos quase desapareceram.

— Um minuto sem vocês é como uma eternidade, imagina um dia inteiro — declamou de forma dramática, levando a mão à testa, me fazendo rir e Elisa balançar a cabeça para a amiga. — Alex, oi!

O garoto magrelo que tinha um crush na minha irmã parou ao nosso lado, erguendo o óculos que escorregava para a ponta do nariz.

— Oi — disse baixinho olhando de mim para Elisa e dela para a garota com fortes traços japoneses. — Vocês vão jogar?

— Eu vou — garanti ao mesmo tempo em que Elisa dizia "não" e Miyuki dizia "Deus que me livre" fazendo o sinal da cruz. Dramática.

— Eu já faço esporte todo dia — Elisa se defendeu antes que eu pudesse argumentar todos os benefícios dos esportes na vida de uma pessoa. — Ballet é um esporte, sabia?

Ergui os olhos para o céu azul. Ela era impossível.

— Verdade. — Miyuki concordou solenemente sem nem piscar. — E eu tenho atestado que me isenta de atividades físicas.

— Não foi o seu tio que assinou o atestado? — perguntei como quem não quer nada, desviando olhar para as árvores do outro lado da cerca de arame e ouvi as risadas baixas de Elisa e Alex.

A garota estreitou os olhos já estreitos na minha direção e ergueu a perna para me dar um chute, rindo.

— Cala a boca, Angel.

Eu ri, erguendo as mãos na altura do ombro como se estivesse me rendendo.

— Ei, é uma pergunta válida!

Minha amiga riu empurrando meu ombro. Era conhecimento público que Miyuki não tinha nenhum problema de verdade no joelho, mas ninguém tinha coragem de confrontá-la, afinal, confrontar Miyuki era confrontar um dos maiores empresários da região: seu pai.

De toda forma, Miyuki, Elisa e as demais pessoas que não faziam os esportes receberiam trabalhinhos para compensar a nota. Como se alguém ali precisasse de mais estudo. Eu me sentia em uma universidade com o tanto de dever de casa que aparecia toda noite no portal do aluno.

Química Imperfeita [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora