A última sexta-feira de março veio como um caminhão na minha direção, trazendo consigo as notas do meio de semestre.
O dia estava perfeito, nem muito quente e nem frio, ideal para ficar de bobeira no gramado bem cuidado da escola com a minha irmã e Miyuki, tomando suco de laranja e rindo. Infelizmente, o dia foi arruinado pelas minhas notas.
Continuei encarando a tela do meu celular, muda, enquanto as duas riam e brincavam sobre o quão bem tinham ido no primeiro bimestre do último ano delas na escola.
— Três em física? — Elisa sussurrou, olhando por cima do meu ombro enquanto eu encarava os resultados diante de mim com um nó preso na garganta.
Desviei o olhar para o prédio principal, se destacando com suas linhas retas contra o céu de um azul bebê sem nuvens.
Minha irmã tomou o aparelho da minha mão para olhar as notas e se sentou ao lado de Miyuki no gramado da escola com uma mão sobre o coração.
Elisa passou os olhos pela lista de notas e soltou um suspiro vendo as notas em química e física. Ambas muito abaixo da média.
— Isso não pode ficar assim — Miyuki disse ao nosso lado batendo o pé na grama, olhando as próprias notas com uma expressão entediada. — Você fez todas as atividades e foi muito bem nos nossos estudos em grupo.
Elisa fez que sim fielmente.
— Talvez o professor simplesmente tenha corrigido errado — acrescentou levando um dedo sob o queixo, pensando todas as possibilidades para justificar aquela nota ridícula.
— Ou o papai estava certo e eu sou uma burra — murmurei sentindo meus lábios tremerem vergonhosamente.
Dei as costas para as meninas e mordi o lábio inferior com força suficiente para tirar sangue.
Pisquei alguma vezes para afastar as lágrimas estúpidas dos olhos.
Minha irmã me abraçou com força contra o seu corpo quente e macio e respirei o seu perfume delicado.
— Ah, Lili... — sussurrou acaricando o meu rosto.
Continuei encarando o prédio das salas, mas a vontade era de sair correndo e gritando.
Minha irmã me entregou o meu celular com os olhos baixos.
Olhei outra vez para a tela como se ela fosse mudar e revelar que aquilo era uma grande pegadinha, mas o aplicativo continuou exatamente como estava. Eu tinha ido muito bem na maioria das matérias, mas as notas de e química e física estavam horríveis, eu precisaria suar para recuperar.
Mordi o lábio inferior, considerando as minhas opções.
Eu precisaria tirar pelo menos oito e meio na próxima prova e me manter na média no próximo semestre para não pegar recuperação, para provar ao mundo que eu não era apenas uma encrenqueira burra.
Ou eu podia deixar para lá, desistir de vez e fazer um supletivo... e dar razão ao meu pai no que dizia respeito ao meu intelecto.
Escondi a cabeça nas mãos, tentando pensar em alguma coisa para consertar aquilo. Eu não queria dar razão a ele, mas a verdade era que eu não tinha ideia de o que fazer.
Rafa era o bom de exatas e ciências da natureza. Quando eu não conseguia entender o conteúdo o meu melhor amigo repassava comigo de todas as formas possíveis até que eu entendesse e pudesse explicar para ele.
Mas Rafa não estaria ali para me ajudar mais.
Minha irmã voltou a me abraçar e respirei fundo o seu cheiro doce que lembrava frutas frescas e flores.
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Química Imperfeita [CONCLUÍDA]
Novela JuvenilElisa Bernardi é a filha perfeita: ela tem boas notas, dança ballet, ajuda em um abrigo de animais e tem um exército de pretendentes atrás de si. Mas essa não é a história de Elisa. Angélica Bernardi cresceu sendo comparada com a irmã mais nova e, d...