7- Um novo amigo

9.2K 1.3K 1K
                                    

Na quarta-feira eu finalmente voltei para a escola depois da minha suspensão eterna.

Elisa tinha me deixado copiar o conteúdo do seu caderno de modo que não acabei perdendo tanto nos dois dias em que faltei, mas ainda assim eu tinha perdido um trabalho.

Os corredores estavam ligeiramente vazios já que tínhamos ido mais cedo para que eu pudesse conversar com a professora de Redação para ver sobre o trabalho que eu tinha perdido graças à minha suspensão.

Bati à porta da sala dos professores e esperei com o coração aos saltos. A professora de Educação Física abriu a porta e me olhou, surpresa. A sala bem iluminada atrás dela estava uma leve algazarra de voxes adultas conversando e rindo. O cheiro de café fresco fez meu estômago roncar e cruzei as mãos sobre ele.

— Bom dia -- cumprimentei a mulher mais velha. —, a senhora pode chamar a professora Sheyla, por favor?

Ela me olhou com a testa encrespada como se tentasse entender o que eu estava fazendo ali tão cedo. Pois é, até eu queria saber. A verdade, aquela que eu não ousava admitir nem para mim mesma, era que eu não queria dar razão àquele homem horrível que se dizia meu pai. Eu não iria reprovar mais um ano.

A mulher assentiu e foi buscar a professora de Redação.

A professora Sheyla tinha um metro e meio e cabelos pretos bem curtinhos. Seus olhos escuros e penetrantes sempre me lembrava de um passarinho.

O colar de pérolas reluziu sob a a mudança de luz quando ela fechou a porta atrás de si, abafando as conversas dos seus colegas.

— Angélica — cumprimentou, confusa. — Sua irmã disse que você viria me procurar, mas admito que achei que não viria.

Desviei o olhar. É, eu não era exatamente conhecida por procurar professores para correr atrás do prejuízo.

— Imagino que sim, mas eu vim — repliquei baixinho. — Sinto muito por ter perdido o trabalho, professora — acrescentei. — Será que tem como eu refazer?

Os lábios da professora se curvaram para baixo.

— Eu sinto muito, mas não — respondeu.  — Você foi punida pela escola. Se eu te ajudar agora essa suspensão não vai ter efeito algum.

Engoli em seco. As palavras do meu pai voltaram para mim como um tapa na cara: Você sempre estraga tudo, Angélica.

Estendi a mão na direção da mulher miúda.

— Mas, professora! — quase implorei sentindo as lágrimas queimarem nos olhos.

Ela pressionou os lábios.

— Vai ter um segundo trabalho esse semestre — contou cravando os olhos penetrantes no meu rosto. — Se você o fizer direito, eu vou considerar só ele para a sua nota de trabalho.

Soltei o ar, aliviada.

— Sério? — duvidei.

Ela assentiu.

Mas você não pode mais se meter em encrenca na escola — acrescentou com os olhos pretos faiscando. — Nada de brigas ou atrasos injustificados, ouviu?

— Isso é injusto!

Ela não se deixou abalar.

— É pegar ou largar, Angélica.

Qual outra opção eu tinha?

— A senhora poderia ser advogada, com esse tanto de cláusulas...

Ela riu e sua expressão se suavizou.

— Eu só estou pensando no seu bem, Angélica — disse em voz baixa. — Você não tem se comportado muito bem desde o... incidente.

Química Imperfeita [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora