32- Confiança

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Você não lembra da primeira vez em que nos vimos, lembra? Você me protegeu do Benjamin!

Aquelas palavras continuaram martelando na minha cabeça como se estivesse no repeat.

— O ... quê? — questionei meio engasgada.

Alex pressionou os lábios ressecados um contra o outro como se tivesse se arrependido do que falou, no entanto seus ombros arriaram.

— Eu tinha acabado e me transferir para o Maximus — contou me olhando meio triste, com ose lembrasse daquela época. — Mesmo estando no nono ano, eu tinha cara de criança. Juntando isso com a minha timidez e não gostar muito de esportes, virei alvo fácil. O Benjamin e um grupo de amigos me encurralou no caminho para o ponto de ônibus, eles me arrastaram um prédio e me surraram. Foi bem feio.

Engoli em seco, sem saber o que falar.

Alex continuou em voz baixa, oso lhos em algum ponto da parede branca:

— Você e o Rafa apareceram e me salvaram — acrescentou com certa melancolia. — Quando eu olhei para cima, o sol estava atrás da sua cabeça como se fosse a auréola de um anjo. Então você se apresentou como Angel e tudo fez sentido.

Dei uma risada estrangulada. Anjo.  Aquela era a fonte do apelido que Alex me chamava. nada assustadora. Ok, talvez um pouco.

Ele continuou:

— Achei que você fosse se lembrar de mim, mas a gente nunca mais nem se viu na escola até começarmos a estudar juntos.

Franzi as sobrancelhas, tentando me lembrar daquilo que Alex narrava. Rafa e eu já tínhamos salvado algumas vítimas de bullying, mas se eu dissesse que lembrava de cada uma dela estaria mentindo.

Sempre fomos muito ligados à ideia de precisar proteger aqueles que são mais fracos, oprimidos e tal, já que ambos éramos minorias. Embora a minha família fosse privilegiada financeiramente, eu era uma jovem mulher negra e Rafa era um menino gay.

— Eu realmente não lembro disso — murmurei, chateada comigo mesma. — É por isso que você me desenhava? Por eu ter te salvado?

Ele assentiu suavemente.

— Eu nunca imaginei que um dia a gente fosse interagir, quanto mais namorar — comentou, meio ferido, meio maravilhado. — Eu nunca sairia do meu caminho para te procurar, mesmo se você se lembrasse de mim.

Eu quis dar um soco na minha própria cara. Se eu tivesse feito a ligação entre aquele menino que eu salvei e Alex, então talvez não tivesse surtado com ele no sábado de madrugada, não teria fugindo ele e provavelmente ele teria me acompanhando para a missa de Rafa e não estaria ali, prostrado em uma cama de hospital.

— Me sinto tão idiota — sussurrei com um nó obstruindo a garganta. — Eu deveria ter te ouvido em vez de sair surtando, mas tinha tanta coisa acontecendo...

Alex forçou um sorriso.

— Então você ainda é a minha namorada? — questionou. A ansiedade no seu tom não me passou despercebida.

Deus, Alex era um fofo.

Dei risada e beijei seus lábios secos, correndo os dedos pelos seus fios emaranhados.

— O que você acha? — murmurei contra a sua boca.

Alex sorriu e entrelaçou os dedos nos meus.

— Eu te amo — sussurrou.

— Eu também te amo, meu nerdinho — respondi sinceramente, acariciando seu rosto machucado com delicadeza.

Um som veio de trás, de onde a mão dele estava, e me sentei de forma mais comportada, ainda segurando a mão do meu namorado.

Química Imperfeita [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora