21. Vingt-Et-un ✓

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   Me deixa um pouco nauseado, amor
Sinto que estou preso em uma realidade que parece um sonho
Isso me tonteia e me deixa louco
Sinto como se eu fosse a Lua no meio do dia

Se eu estivesse sozinho, se eu não te conhecesse
Talvez eu tivesse desistido, perdido no meio do mar
Mas meu coração ainda está em chamas, com um desejo ardente
Vou te encontrar de novo, como destino

Eu queria que você me (me) amasse (amasse)
Como amou ontem, não solte minha mão
E toda vez que meu coração (coração) bater (bater)
Mova seus pés no mesmo ritmo, para que você nunca mais se perca " Heartbeat, BTS


Roselyn Chamarlét-Leclerc

   Monte-Carlo, Mônaco.

   
  Limpei o canto da boca, sentindo minha cabeça girar, após mais uma manhã com o estômago ruim. Estava morrendo de preocupação por conta do meu histórico de doenças e não me sentia nada bem.

  Lana me entrega minha escova com a pasta de dente, tocando meu ombro com uma careta de nojo.

— Você está péssima — Sussurra me fazendo rir concordando ao terminar de enxaguar a boca. -- Precisa ir ao médico. Estou ficando preocupada, Rose.

Mordi o lábio inferior, concordando com a minha melhor amiga. Tinha algo errado comigo, e não era de agora.

     Faz exatamente um mês desde a audiência para tratar do caso do Jules e não tenho estado bem desde a ocasião. Charles nem mesmo desconfia, não quero preocupa-lo logo no início da temporada.
 
  — Lucca está com a vó? — Alana concorda confusa, dei um suspiro — Pode ir ao hospital comigo? 

— Você sabe que sim, não se preocupe com Lucca. Lewis vai passar e pega-lo com a madrasta dele — Fala, carinhosamente tocando minha testa com o cenho franzido — Rose, você está febril. 

Suspirei, começando a tirar a roupa, Alana franze a testa, preocupada.

— Vou tomar um banho rápido, e aí saímos. Pega meus documentos na segunda gaveta do closet, lado do Charles — Declaro com ela concordando, saindo do banheiro, apresada.

  Tem algo errado.

....

  Dr. Louvier analisava meus enxames com atenção, sua expressão é impenetrável. Senti a mão de Ana apertando a minha, em sinal claro de conforto.

  —Tenho duas notícias; uma boa e outra péssima — Engoli em seco, trocando olhares nervosos com Alana.

  Respiro fundo.

—Conte a péssima — De uma vez, como um esparadrapo. O doutor, suspirou. 

Encontramos vestígios de tecidos cancerígenos em seu pulmão esquerdo — Mordi o lábio inferior, sentindo meus olhos encherem de lágrimas. Lana me puxou para um abraço forte, mas, me neguei a chorar. Após me recompor, minutos depois, Olive continuou — e a boa, mas, não tão boa no seu quadro atual, é que você está grávida, Rose.

....

  O papel pardo em minhas mãos, me faziam sentir o nervoso subir pela espinha e aquilo não me agradava de modo algum. Estava nervosa demais.

Entrei na garagem sorrindo fraco para Javier que retribuiu.

— Bom dia, Javier. Como vai? — Pergunto, tentando soar gentil, mesmo preocupada. Mas, acho que minha expressão não era das melhores.

— Bom dia, Rose. Estou bem e você? — respondi ele gentilmente, para perguntar de Leclerc — Charles está no aquecimento com o fisioterapeuta.

  — Vou espera-lo na sala dele, por favor, avise ele — Pedi com ele concordando suavemente, após sorrir gentilmente.

  
Na sala de Charles, fiquei sentada mexendo no celular cuidando de algumas partes da minha documentação para meu afastamento definitivo da ESPN.

  Tinha outras prioridades. 

— Meu amor, achei que estava de folga -- Charles entra na sala vindo até mim, beijando minha testa. Sorri, beijando-o calmamente.

—E estou, mas, precisava falar com você depois da corrida — Falei nervosa com ele concordando após franzir a testa. Tinha medo da reação de Charles.

— Está tudo bem, Rose? -- Antes mesmo de responder, Nicolas entra na sala após breves batidas na porta.

— Rose, como vai, garota? — abracei o homem, sorrindo fraco para ele.

— Vou bem, Nico, e você? — e logo iniciamos um assunto aleatório.

   ...

Charles estava em terceiro, seu desempenho estava péssimo após problemas no motor, e o clima na garagem estava horrível. Charles estava em primeiro, mas, após um toque de Ricciardo, Leclerc perdeu desempenho na corrida.

  Mordi o lábio inferior, olhando o monitor com nervosismo.

  Ele tinha que ter esse pódio.

Faltava apenas uma volta e meia para terminar a prova. Apenas isso. Mas, o carro não estava bom o suficiente e logo Vettel ultrapassou Leclerc com facilidade após ceder a vaga ao companheiro de equipe.

   Merda.

  ...

  Charles estava sentado tomando café na varanda com uma expressão angelical. Após o fiasco da corrida de ontem, Leclerc ficou muito puto, mas, se conteve. Conheço ele o suficiente para saber que ele estava se culpando pelo ocorrido, mas, era notável que ele não era culpado, ao menos não totalmente.  

Charles era simplesmente irritante neste quesito. Ele odiava errar.

— Vai ficar me olhando? Achei que tínhamos passado dessa fase — sua voz me fez dar um pulo com ele sorrindo ao me olhar — Está linda, Vie.

  Estava horrível. Meu cabelo de quem acordou e tomou um choque, e um roupão escondendo uma camisa de Charles que usava para dormir.

— Mentiroso — falei fazendo ele rir, olhando-me com os olhos verdes intensos e brilhantes.

  — Sou realista, amor — Fala me fazendo rir, revirando os olhos.

  A culpa me corroía de modo que nem sabia explicar. Eu iria contar a ele que escolhia a vida do meu filho, ao me salvar de um câncer que me mataria antes mesmo de ter nove meses de gestação. 

  — Precisamos conversar, Leclerc — estava nervosa após um breve silêncio. Charles apenas me olhou calmo. 

  Me aproximei, sentando em seu colo, suspirando, e começando a dizer.

Expliquei o que havia acontecido, mas, não contei minha decisão de manter a gestação, e não me tratar.

— Merda, Roselyn —Sua voz perdeu-se entre um soluço preso e outro. Abaixei meus olhos, cansada dessa luta toda. Eu estava esgotada.

— O que faremos, Leclerc? Eu estou grávida e com uma doença que vai me matar, não sei mais o que fazer, como aguentar — minha voz falhou a medida que falava, quase que em desespero.

— Vamos dar um jeito, Rose — Beijando minha testa com seus olhos cheios de lágrimas não derrubadas. 

  O que faria? Não sabia mais que rumo tomar nessa situação. Antes, poderia ser um pouco mais óbvio, me trataria, mas, tinha um bebê. Um bebê meu e de Charles, na minha barriga.

Tenho duas opções claras segundo o médico. Raspagem do tecido cancerígeno, quimioterapia e radiografia, mas, teria de abortar. Ou a segunda, ter um bebê, sangue do meu sangue e desistir dessa luta incansável que está sendo nestes três anos. Mas, não aceitaria fácil nenhuma das duas opções, tinha que ter um meio termo sem abrir mão desse bebê.

  Eu não sabia o que fazer.

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