16. Emília

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Henry não teve muito o que explicar a Lita depois do episódio com a carta. Falou que se tratava de uma brincadeira de mau gosto. Lita não ficou satisfeita, mas o que ela poderia fazer? O seu marido não estava traindo ela, disso ela tinha certeza. Pelo menos não fisicamente. Já em pensamento... Ela já não poderia garantir. Queria muito perguntar se ele ainda desejava estar com Louisa, queria detalhes de tudo que eles viveram para que tirasse suas próprias conclusões sobre suas inseguranças. A verdade era que não sabia se gostaria das respostas, provavelmente não.

Um novo atrito aconteceu, quando Henry precisou se ausentar para realizar um reparo na casa de Louisa. Soube pela funcionária que ia limpar a casa uma vez por mês, que havia um vazamento no primeiro andar que ela não conseguiu conter. Henry contratou encanadores e acompanhou o serviço que levou uns dias para ser reparado. Depois que o serviço foi feito, ele contratou obreiros e pintores para que dessem o acabamento necessário onde havia sido quebrado e refeito. No geral, ele passou cinco dias seguidos indo diariamente à residência que ele dividiu com Louisa. 

Não escondeu o que fazia de Lita, mas isso não diminuiu a chateação dela. Por que ele se preocupava em consertar uma casa onde ninguém morava? Aliás, por que ele perdia tempo e dinheiro mantendo uma casa para absolutamente ninguém? Para um fantasma? Quando ele chegou em casa e anunciou que os reparos haviam sido feitos, Lita comentou:

– Fico feliz que a casa esteja devidamente consertada. – Henry desviou do olhar dela ao notar a ironia. Pegou uma cerveja de garrafa na geladeira, abriu e bebeu um gole. – Acho que está em perfeitas condições para ser vendida. – Ela notou o baque das suas palavras no semblante do marido. Henry digeriu as palavras dela, tomando mais um gole de cerveja para ajudar a descer. Lita tamborilou os dedos na bancada da ilha esperando uma resposta.

– Não está a venda. – Ele disse sabendo que agora estava em zona de guerra.

– A casa vale um bom dinheiro no mercado hoje em dia. Há corretores a sua procura. Eles ligam o tempo todo pra cá querendo fazer uma oferta pela casa.

– Eu não estou precisando de dinheiro. – Disse enfaticamente. Lita se enfureceu.

– Verdade, você não precisa de dinheiro. Vc precisa de uma casa para manter seu fantasma de estimação. – Disse com desdém.

Henry largou a cerveja e saiu de perto dela. Ela queria magoá-lo e conseguiu. Henry respirou fundo quando alcançou a área externa da casa. No fundo, ele sabia que Lita havia magoado ele por estar magoada também. Mas o que ele poderia fazer? Todos os dias ele acordava pensando que esse dia seria diferente, que esse dia era especial, seria o dia que ele deixaria o passado pra trás e seguiria em frente. Mas só de pensar em se desfazer de algo que Louisa havia tocado... Era como apagar a presença dela do mundo e ele não queria isso. Ele precisava senti-la de alguma forma. Por que era tão difícil para os outros compreenderem isso? Por que era tão doloroso pra ele e pra Lita também? Ele nunca quis magoá-la. A culpa sempre o consumia ao constatar que ele era a causa da desilusão que Lita pintava nas telas. Ele queria proteger a garota dele mesmo, porém era difícil visto que ele mesmo ainda estava em pedaços. Pessoas doentes acabam por adoecer tudo ao seu redor...

*

Lita sentiu seus ombros doloridos quando finalmente baixou o braço ao terminar de pintar um quadro. Olho para a sua mais nova obra, tentando entende-la a partir de um olhar desconhecido. O que um desconhecido sentiria ao olhar aquela imagem? Largou o pincel para pegar seu telefone que estava vibrando no bolso da calça.

– Posso ir até aí? – Ben perguntou.

– Desde quando você precisa de autorização para vir até mim? – Lita tinha uma voz divertida. Desde que ela voltou da lua de mel, encontrou com Ben pouquíssimas vezes. Sentia de verdade a falta de trabalhar com ele, da sua conversa, da sua companhia... Enfim, sentia falta dele.

Nothing Lasts ForeverOnde histórias criam vida. Descubra agora