15. A Carta

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Chegamos a segunda parte da história.

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Nesse exato momento estava acontecendo um daqueles momentos que Henry descobriu que amava. Ele havia chegado do trabalho e subiu direto para o estúdio de Lita. Ela estava usando um jeans surrado, o cabelo num coque frouxo no alto da cabeça, pintando uma tela. Ele se esgueirou na porta do estúdio e ficou lá observando ela pintar. Ela cantarolava enquanto pintava parecia perdida em pensamentos. De vez em quando se afastava da tela pra vê-la como um todo. Depois se aproximava e voltava a pintar sempre cantando, sempre em espanhol. Não sabia dizer o porquê amava vê-la trabalhar. Talvez fosse a doçura que transbordava dela e ia parar nas telas, ele só sabia que era um dos seus momentos preferidos no dia.

*

Henry lamentou quando percebeu que Kal não estava muito feliz com a nova moradora da casa. Lita bem que tentou ganhar a confiança do cachorro, mas ele se recusava a ser simpático com ela, como ele era com o resto do mundo.

– Ele me ignora. – Lita disse infeliz quando tentou dar um petisco que o cão adorava, mas se recusava a receber um dela. Henry observou o cachorro se afastar da sala onde eles estavam sentados no sofá bebendo vinho.

– É a mudança de ambiente. Ele ainda está se adaptando a essa casa. – Henry disse tentando colocar panos quentes na situação. 

Embora soubesse que não era verdade, Kal era o cachorro mais adaptável do mundo. Já havia morado em dois apartamentos (um minúsculo e outro enorme), em duas casas diferentes (de Louisa e Eva) e sempre se adaptou rápido. Sem falar nas inúmeras viagens que ele fez com Louisa e o cachorro simplesmente adorava viver de hotel em hotel. Ele parecia feliz, simplesmente porque estava ao lado de Louisa. Exatamente como eu. Ele afastou esse pensamento rapidamente. Henry chamou Kal e ele voltou para junto dos seus pés. Ele fez carinho no cachorro. Sabendo que ele sentia falta dela. Eu também, amigo.

– Quero vê-la. – Lita disse depois de ver a interação do marido com o cachorro. Ela sabia que os dois estavam pensando na mesma mulher.

– Ver quem? – Henry disse sentindo o coração dar uma fraquejada.

– Louisa. Eu não a conheço ainda. Não há uma foto dela aqui. – Comentou curiosa.

Henry não entendia por qual motivo ele não queria dividir Louisa com Lita. Porém, não podia negar um pedido dela, era normal a curiosidade de Lita. Então, ele pegou o celular do bolso, procurou lentamente pela galeria de imagens uma foto de Louisa, ela não tirava muitas fotos. Não gostava de aparecer, costumava evitar as câmeras. A maioria das fotos que ele tinha, eles dois estavam juntos, ele sorrindo bobo e apaixonado e ela tentando se esconder ou sorrindo timidamente. Foi inevitável não sorrir com uma foto da comemoração deles de cinco anos de casados. Na foto em questão, Louisa estava nua tomando sol no deck de um iate que ele havia alugado para aquela comemoração. Quando percebeu que tirava fotos dela, Louisa jogou a parte de cima do biquíni em sua direção, acertando-o na cabeça do marido. Ela gargalhou e ele capturou esse momento. Ela raramente ria assim tão abertamente. É uma das coisas que ele mais amava nela: a risada. Ela não entregava seu lindo sorriso tão facilmente, Henry precisava lutar para obtê-lo. Ela estava tão linda, feliz e despreocupada... Só os dois no meio do mar que banha a Inglaterra. O mar do Norte. O mar onde dra Kate havia jogado as cinzas de Louisa... Henry assumiu uma expressão de dor. Provavelmente ela havia escolhido aquele lugar por causa daquele dia. Porque naqueles dias eles foram felizes. Estavam da forma como Louisa mais gostava: Só os dois cercados de água, comida pronta, cerveja gelada e muito amor. 

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