18. O Encontro

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Naquela sexta, Henry não teve ânimo sequer para pôr em prática o discurso vingativo que ele fez para a Dra Charlatã. Ele estava anestesiado. Os últimos sete anos da sua vida foram uma total e completa mentira. Ele quis sumir do mundo. Estava no modo automático, vivendo com Lita como se fosse um maldito robô. Ela estava cada vez mais impaciente com ele e ele cada vez mais mórbido. 

Ele nem se barbeou naquela manhã, só queria deitar na cama, dormir e não acordar nunca mais. O sábado chegou e ele foi com Lita se hospedar no luxuoso hotel ao lado da galeria. Lita anunciou que Ben também estaria hospedado lá. Ele veio conferir suas obras e cuidar dos detalhes da exposição. Aquele cara... Henry não gostava da forma como ele olhava pra Lita. Quis perguntar a Lita qual tipo de relação ela tem ou teve com ele afinal de contas, mas ele não tinha coragem pra isso. Parecia absurdo fazer questionamentos a ela, sendo que ele estava atolado até o pescoço em um monte de merda que era o seu passado. Ele estava fazendo um esforço sobre-humano para parecer normal. 

Lita passou a manhã inteira com Ben ajustando os detalhes da exposição. Henry se encarregou de buscar um terno que ele mandou fazer pra ele e passou o dia inteiro olhando para o nada bebendo whisky de vez em quando. Lita passou a tarde se embelezando no salão. Ela chegou ao final do dia no quarto deles. Usando um vestido que deixava seus ombros nus e parte das costas também. Estava empolgada e sorridente, ainda mais linda e delicada parecia um cristal perfeitamente lapidado. Ele sorriu pra ela. Segurou o rosto dela com ambas as mãos.

– Você é tão linda... – Ele disse fazendo um carinho na bochecha dela. Vendo os lábios cheios se abrirem num sorriso preguiçoso. – Você é real. – Lita franziu a testa. –Eu queria ser merecedor... – Sentiu uma pontada forte no coração que o impediu de continuar a falar. Aquela sim era a garota que merecia toda sua devoção. Ele era um completo perdedor que não a merecia. Constatar isso o deprimia. Ele beijou a boca dela, ela sentiu o gosto do álcool.

– Você já começou? Não exagere, ok? A noite será longa. – Sorriu e beijou ele.

– Vai ser um sucesso. – Viu os olhos dela brilhando de expectativa. – Está nervosa?

– Muito! – Ela levou a mão sobre o estômago para aplacar o nó que se formava ali toda vez que pensava que ela estava prestes a entrar no mundo das artes num país tão exigente.

– Não fique, meu anjo. – Beijou a boca dela de novo. – Você vai se sair muito bem. E nós iremos embora daqui em breve. – Ele abraçou ela ao dizer aquilo. Queria afastá-la da bagunça que era aquele lugar. Mas quem ele queria enganar? A bagunça estava dentro dele. Ela respirou fundo, se deixando ser apertada pelos braços dele.

– Eu vou adiantando. Ben já está me esperando. Se arrume, ok? Te espero às 8hs. – Ela se afastou dele e antes de alcançar a porta se virou pra ele mais uma vez. – Tire essa barba. – Sorriu e foi embora. 

Henry a viu se afastar e logo voltou a se sentir mal. Ela era real. Ela era tudo que ele precisava. Chega de mentiras na sua vida. Ele deveria ter deixado o passado pra trás há muito tempo. Ele se sentia mal agora, mas com o tempo iria perceber que foi melhor assim. Descobrir que Louisa não passava de uma mentirosa, que não se importou em enganá-lo por anos, era o estalo que ele precisava pra seguir em frente com quem realmente valia a pena. 

Foi tomar banho, mas não se barbeou, ele se sentia derrotado e estranhamente também queria transparecer isso. Conferiu as horas, ainda eram 5hs. Estava cedo, mas ele ficaria pronto logo, quem sabe ele conseguiria dormir um pouco e acordaria só na hora de descer para a galeria... O álcool já estava ajudando ele a ficar sonolento. 

Um chamado na porta lhe arrancou dos seus pensamentos. Ele foi atender, era um funcionário do hotel. Estendeu-lhe um envelope e saiu. Henry pegou sentindo um peso afundar seu coração. Ele sentia que era dela, relutou em abrir o pacote. Mas acabou cedendo. Era uma chave em forma de cartão magnético e um endereço de hotel, não muito longe dali. 

Nothing Lasts ForeverOnde histórias criam vida. Descubra agora