22. O ultimato

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As duas se encararam por alguns segundos. Emília não esboçou nenhuma reação. Então Eva colocou novamente um sorriso no rosto e se dirigiu a porta.

– Au revoir, chérie.* (Tchau, querida)

Emília acompanhou a mulher com os olhos e ficou parada um bom tempo encarando sua sala, enquanto ouvia o carro dela se afastar. Ela não estava preocupada com a cadeia em si. Mesmo que Eva levasse adiante sua ameaça, o crime foi cometido na Inglaterra e ela teria que responder lá. Emília era advogada e conhecia todas as brechas da lei e com certeza sairia ilesa. No máximo, ela não poderia voltar à Inglaterra nunca mais. Isso atrapalharia seus planos de ir lá uma vez por mês visitar seu cachorro. Então, ela teria apenas duas alternativas: convencer Henry a deixar Kal com ela ou abrir mão do Kal de vez. Já não bastava abrir mão do Henry? Emília suspirou. Hoje definitivamente não foi o dia dela. Era exaustivo ser tão odiada. Também era exaustivo ser tão odiosa.

No dia seguinte, ela não quis ir trabalhar. Preferiu passar mais um dia na companhia do seu cachorro já que não sabia por quanto tempo mais poderia desfrutá-la. Ele lhe fazia tão bem... Ela estava mesmo precisando de um carinho gratuito. Ao pensar nisso, se lembrou de Jason. Tão disposto a conquista-la e ela o repelindo por alguém que a desprezava. Talvez ela devesse lhe dar uma chance. Ela sabia que não o amaria como amava Henry, estava convencida que aquele tipo de amor só acontece uma vez na vida. Mas ela poderia amá-lo de alguma forma, não é? Henry aprendeu a amar de novo, então, ela também poderia conseguir. Só precisava parar com essa maldita obsessão por ele. 

Jason é completamente diferente de Henry, completamente diferente dela e isso é bom. Às vezes era difícil se achar merecedora do amor de quem quer que seja. Ninguém a conhecia de verdade para gostar de quem de fato ela é. Só Henry a conhecia profundamente e sabia do que ela era capaz. E quando a conheceu de verdade, ele a odiou. Ela não fingiria mais ser quem ela não era. Se ela é podre por dentro, que seja. Ou gosta de quem ela é de verdade, ou cai fora. Simples assim. Quando Jason souber quem é ela, cairá fora. Ela não poderia culpa-lo. Mesmo assim, a partir de hoje ela seria como ela é verdadeiramente. Até hoje ela fez o que era necessário para sobreviver. Ela atropelou pessoas, atropelou sentimentos sem se importar com nada além de conseguir o que queria. Não seguiu nenhuma regra que não fosse imposta por ela mesma. Agora estava na hora de encarar os resultados de todos os seus atos questionáveis e não de tentar moldar esses resultados a seu próprio gosto.

Emília foi ao salão onde tratava dos seus cabelos e fez o processo de reversão para voltar aos seus fios castanhos. Demorou a ficar pronto, mas valeu a pena. Ela sorriu para ela mesma com o resultado. No dia seguinte, voltou a trabalhar apenas por meio período. Sua "nova" cor de cabelo, não passou despercebida. Ganhou um elogio cheio de segundas intenções de Jason. Ela ignorou. Pobre coitado. Você não faz ideia de onde está querendo se meter.

– Jason, é sério. Fuja enquanto pode. Enquanto eu não tenho interesse em você. Acredite em mim. A pior coisa que pode acontecer na vida de um homem é despertar o interesse de alguém como eu.

– Vou ignorar a parte que você disse que não tem interesse em mim. Por que eu acho que você tem sim. – Ele disse de modo brincalhão. Emília riu. Os dois estavam na pausa para o café antes de começar o trabalho de verdade. – Me explique melhor essa história. Quero entender quão ruim você pode ser. – Emília o encarou, não pretendia bancar a misteriosa, mas ali não era lugar para despejar o monte de lama que era seu passado.

– Algum dia te conto minha história. – Ela sorriu e foi se dirigindo para sua sala.

– Vou cobrar, hein? – Ele disse. Ela acenou com a mão enquanto se afastava.

Nothing Lasts ForeverOnde histórias criam vida. Descubra agora