21. O Confronto

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Eva está na cidade. Que péssimo! Típica atitude do Henry: correr para de baixo das saias da irmã. Isso sempre irritou um pouco Emília. Ela é filha única, não teve irmãos para começar a compreender a estranha amizade daqueles dois. Emília podia se lembrar perfeitamente do olhar avaliador de Eva sobre ela. Eva a fazia se sentir sempre em alerta. Agora mais do que nunca, Emília se sentiu em alerta. Eva com certeza lhe causaria problemas. A mulher já não gostava dela antes, imagina agora. 

Nada melhor do que partir para o ataque do que esperar por um golpe. Há uma coisa positiva na vinda de Eva: ela trouxe Kal. Emília sentiu seu velho coração endurecido pela amargura derreter um pouco. Será que ele se lembraria dela? Ela amava o cachorro, amava demais. Deixar Henry foi duro, mas deixar o Kal foi terrível. Mas ela amava Henry o suficiente para compensá-lo de alguma forma. De qualquer forma, seria apenas por uns meses, não é? Logo eles estariam juntos e dessa vez sem mentiras. Eles se amavam e com certeza a saudade falaria mais alto e poderiam superar qualquer coisa. Os três juntos. Como uma verdadeira família. Em breve, seremos quatro. 

O que era mais forte que o amor, afinal de contas? O ódio. O ódio que ela sentia do pai a cegou ao ponto dela colocar em segundo plano o amor que ela sente por Henry e por Kal. Percebeu um pouco tarde que o ódio não preenche o vazio, a vingança não aquece o coração. Ela não sentiu nenhuma satisfação por tomar a herança, que o pai já estava contando antes mesmo de poder usufruir. Por isso, ela queria mais. Queria deixa-lo na miséria. Embora já soubesse, que mesmo que consiga deixar o pai sem teto, isso não faria com que ela se sinta melhor. Nem faria ela voltar no tempo e desfazer a estúpida decisão de deixar o marido e seu amigo peludo. 

Ela precisava do Kal, ela precisava da pureza do amor daquele cachorro envolvendo sua alma. Só assim, ela deixaria de ser vil e voltaria ser a garota por quem Henry se apaixonou. Bom, se ela precisa do cachorro, então ela iria buscá-lo! Kal é dela afinal de contas. Nada mais justo do que poder ter a companhia dele também.

*

Lita se agarrou a porta para que não tombasse. Ela não podia acreditar que aquela mulher estava parada diante dela. Era meio chocante, embora ela já soubesse que ela estava viva. Quão desrespeitosa, atrevida e descarada aquela mulher era para estar ali diante dela e ainda querendo levar o cachorro do marido? Lita abriu a boca, mas não disse nada. 

Emília olhava pra ela profundamente, avaliando a garota que ela já havia visto mil vezes por fotos. Ela é bonita, jovem, parecia ser espirituosa. O tipo de garota leve como uma pena, que deixa tudo a sua volta mais descontraído, mais colorido, mais brilhante. A alma da garota estava ali, numa bandeja para quem quiser olhar. Definitivamente não é a garota certa para Henry. 

Ele precisa de profundidade, de sagacidade para não se acomodar numa vida monótona. Henry aprendia os jogos de Emília tão rápido quanto ela os mudava. Ele estava sempre buscando um novo nível para satisfazê-la. Era dela que ele precisava, era do seu tipo de amor medido, da sua loucura livre. Aquela garota podia até tentar, mas ela nunca conseguiria alcançar o nível de amor e de paixão que ela despertou em Henry.

Emília esperou pacientemente que Lita se recuperasse do choque. Lita engoliu em seco.

– Você não... V-você não pode. – Ela disse por fim.

– Não posso o quê? – Emília perguntou arqueando uma sobrancelha.

– Kal... – Lita respirou fundo para controlar o próprio nervosismo. Então, recomeçou tentando soar mais confiante. – Você não pode levar o cachorro do meu marido.

– Ahh... Seu marido? – Ela sorriu irônica e discretamente. – Na verdade, Kal é meu. – Ela disse. Lita sabia que Kal pertencia a ela, mas ela abandonou o cachorro igual fez com o Henry.

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