Blessed or cursed?

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O dia amanheceu ensolarado em Londres. As nuvens cinzas se dissiparam e o céu está em uma tonalidade azulada que destacam ainda mais os olhos de Vanessa. Ela está andando pelo Hyde Park. Os jardins estão floridos e a grama nunca pareceu tão bem cuidada. Ela não saberia dizer se essa mudança é recente ou não. Há muito tempo ela não deixa a vida urbana. Nem ela tinha percebido como sentia falta da natureza.

Ela fecha os olhos e vira o rosto para cima, deixando o sol esquentar sua face pálida. Ela respira fundo e sente uma paz que nunca sentiu. A vida não era perfeita, mas ela estava feliz. Finalmente as coisas pareciam estar dando certo.

Quando ela finalmente abre os olhos um homem está parado encarando-a. Ela o observa com curiosidade. Ela não sente medo, pelo contrário. Parece que ela já o conhece de algum lugar. Ele tem a pele branca, quase translúcida. Cabelos igualmente brancos e os olhos mais claros que ela já viu. Albinismo. Ela nunca tinha visto uma pessoa albina na vida, mas já tinha lido sobre.

Era estranho ela se sentir familiarizada com um rosto que ela não se recorda de ter visto na vida.

HOMEM: Oi, Vanessa. – Ele cumprimenta.

Vanessa? Como ele sabe meu nome? Sua mente busca em todos os lugares qualquer tipo de imagem ou recordação, mas não encontra nada.

HOMEM: Não precisa se assustar. – Mas ela não estava assustada. Apenas curiosa – Eu te conheço há muito tempo, mais tempo do que você imagina.

VANESSA: Há quanto tempo?

HOMEM: Sempre.

Vanessa franze a testa, sem entender.

HOMEM: Naquela noite que você se ajoelhou e rezou com toda a sua alma pedindo que Deus a ouvisse. Eu estava lá. Eu te ouvi. Você não ouviu, mas eu te respondi. Sim, Vanessa, eu sou Deus, ou Altíssimo, ou Redentor, ou Cristo, ou Todo-Poderoso. Como você quiser.

VANESSA: Como?

DEUS: Por que eu nunca te encontrei antes? – ela assente – Porque sua fé era tão forte e tinha tanta luz em você que eu nunca precisei te encontrar. Eu sabia que você confiava em mim. Mesmo quando você achou que a fé tinha te abandonado, que eu tinha te abandonado eu sabia que você não acreditava nisso. Dentro de você, dentro do seu coração, você nunca deixou de confiar em mim. Você nunca deixou de ter fé. E eu nunca te abandonei, Vanessa. Não desista, criança.

Com essas últimas palavras tudo ficou escuro. Vanessa estava em seu quarto. Era noite, as luzes estavam apagadas e ela estava deitada na cama. Tinha sido um sonho? Mas parecia tão real. Ela piscou algumas vezes tentando se adaptar à baixa luminosidade. Quando ela virou para a porta viu uma pequena figura entrando no quarto.

VANESSA: Mr. Lyle? – Ela senta na cama e o observa melhor.

MR. LYLE: Minha querida, Vanessa. Fico feliz em saber que você está em segurança. – Vanessa sorri.

VANESSA: Quando o senhor voltou de viagem? Não é tarde para uma visita?

MR. LYLE: Nunca é tarde para uma visita, amada.

Os olhos de Mr. Lyle ficam negros e ela sabe que se trata apenas de um expecto. A paz que Vanessa sentia foi embora e uma onda de pânico a atingiu.

VANESSA: O que você está fazendo aqui?

MR. LYLE: Senti sua falta. E não gosto que você receba outras visitas. Fico com ciúmes.

VANESSA: Você não é o Mr. Lyle. Você não está aqui.

MR. LYLE: E mesmo assim você me deixou entrar, não é mesmo?

VANESSA: Não. – Ela se levanta. Nunca sentiu tanto ódio na vida. Ela quer ataca-lo e fazê-lo voltar de onde nunca deveria ter saído.

MR. LYLE: Não se esforce ainda, querida. Ainda teremos tempo.

Vanessa acorda assustada. Seu rosto e seu cabelo estão molhados de suor. Suas roupas estão grudadas no corpo. Seu coração está acelerado e ela nunca achou que poderia sentir tanto pânico na vida. Não de novo. Não agora.

Ela se levanta chorando e vai correndo para o único lugar onde ela sabe que pode ficar em segurança.

Vanessa abre a porta do quarto de Ethan e praticamente se joga na cama, abraçando-o encolhida como se fosse uma garotinha.

Ethan se assusta com a chegada repentina de Vanessa e o modo como ele foi acordado, mas a abraça forte.

ETHAN: Shhhh. Tudo bem. Eu estou aqui, você está a salvo agora.

Ela o abraça ainda mais forte e solta um soluço no meio do choro. Em uma respiração profunda ele aspira o cheiro dela. Mistura de rosas, colônia e tabaco. Inconfundível cheiro de Vanessa. Ela a beija na testa e com a mão tira o cabelo dela do rosto. Passa os dedos pelo rosto delicado dela, agora molhados de lágrimas. Gentilmente, ele seca uma lágrima e acaricia suas bochechas. Como ele sentia falta de toca-la.

Com o toque suave de Ethan, Vanessa consegue relaxar um pouco e suspira de alívio por saber que pode contar com ele.

VANESSA: Ele me respondeu.

ETHAN: Ele?

VANESSA: Deus.

Ethan ficou confuso. Vanessa não estaria apavorada se tivesse visto Deus. Ou estaria?

VANESSA: Eu estava passeando por Hyde Park e Ele apareceu. Disse que nunca desistiu de mim e eu nunca senti tanta paz em minha vida. Mas depois. – Ela não quer lembrar do que aconteceu depois, mas precisa contar tudo para Ethan. Só ele pode ajuda-la. – Depois tudo ficou escuro, eu estava em meu quarto e o Demônio me visitou. Ele voltou, Ethan. Ele voltou.

ETHAN: E como era Deus? – Ele perguntou tentando mudar o foco da conversa e deixar Vanessa mais calma.

VANESSA: Paz. – Ela se aninhou no peito de Ethan e fechou os olhos. – Paz, Ethan. – Lembrando da tranquilidade que sentiu e ouvindo as batidas do coração de Ethan ela sabia que poderia finalmente dormir.

Ethan acariciou os cabelos de Vanessa até ela adormecer.

Após a escuridão abençoadaOnde histórias criam vida. Descubra agora