Tired with all these, from these would I be gone

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Mr. Lyle chega em Grandage Place e conta a todos o que ouviu de Arthur Taylor.

Vanessa anda de um lado para o outro com o cigarro na mão, refletindo sobre o que acabara de escutar.

SIR MALCOLM: Pelo o que o senhor Taylor contou, essa criatura se parece com uma que encontramos há alguns anos. A criatura que raptou Mina.

ETHAN: Será que um homem comum conseguiria distinguir a criatura no escuro?

SIR MALCOLM: Não duvide das habilidades das pessoas, Mr. Chandler.

VANESSA: Sendo uma criatura parecida com aquela que já vimos, ou não, o que ela queria com essa múmia específica?

MR. LYLE: Katebet foi uma cantora de Amon-Rá, ela cantava em todos os rituais realizados nos templos. Ela, podemos assim dizer, conhecia Amon-Rá como poucos. Ela e Imhotep tinham uma grande ligação com Amon-Rá. – Vanessa assente com a informação e dá um trago no cigarro. – Mas ainda não consegui entender o que essa criatura estava querendo com o escaravelho de Katebet...

CATRIONA: O escaravelho não é uma proteção mágica para quando ela fosse julgada pelos deuses depois da morte?

MR. LYLE: Bien sur, minha cara, como pude me esquecer? Alguém ou algo deve estar querendo proteção extra, só não sabemos para que.

Do outro lado da cidade, Mr. Clare encontra Marjorie caída na sarjeta. Quando ela ficou com a ideia fixa de ter o filho de volta ele resolveu se afastar. Sabia que a vida eterna era um fardo e não queria isso para o seu menino. Saiu com o corpo de seu filho no colo e decidiu não olhar para trás. Percebeu que sua vida jamais poderia ser a mesma, percebeu que não poderia conviver com Marjorie. Mas naquele momento ele não a via como ex-esposa. Mr. Clare via um ser humano doente, precisando de amparo e ele faz o seu coração pede.

Marjorie está ajoelhada na calçada tossindo. A tosse é incessante e ela expele sangue a cada tossida. Ela está exausta. Não apenas da doença que lhe tirou as forças, mas da vida ingrata que tinha. Marjorie ainda tinha uma pequena esperança de reencontrar o marido e o filho. Queria que eles voltassem a ser uma família. Mas agora, com o doutor indo embora, ela não tinha mais nada. Só queria que o fim chegasse logo. Queria que aquele sofrimento acabasse.

Mr. Clare se aproxima cuidadosamente de Marjorie e em um tom sereno a chama.

MR. CLARE: Marjorie?

MARJORIE: Marido? Achei que... – ela tosse ofegante. – Nunca mais te veria.

Mr. Clare sorri. Ele senta-se no chão do lado dela. Ajuda-a a se sentar e com delicadeza a acomoda em seu colo. Ela olha para ele com a respiração entrecortada. Ele tira os cabelos que estão caídos e acaricia o rosto da mulher suavemente. Com um lenço, ele limpa o sangue que escorre por sua boca.

MR. CLARE: Eu também, Marjorie. Mas estou aqui agora.

MARJORIE: E o... – Ela tenta falar, mas Mr. Clare a interrompe. Ele balança a cabeça em negação. Ele sabe que ela quer perguntar sobre o filho, mas explicações não devem ser dadas agora.

MR. CLARE: Shhhh. Não diga nada, está bem? – A respiração dela é ofegante e o frio da madrugada faz os sintomas piorarem. – Ficarei com você. Não tenho remédio para aliviar as dores do seu corpo, mas posso alimentar sua alma com poesia. Tranquiliza-la nesse momento. Gostaria de ouvir?

Marjorie tosse novamente, sentindo os pulmões queimando e doendo a cada inspiração. Ela assente e no meio da dor consegue esboçar um sorriso.

MARJORIE: Nunca gostei dessas coisas, mas adoraria te ouvir.

MR. CLARE: Pensei em algo de Keats ou John Clare, mas talvez o soneto 66 de Shakespeare seja mais apropriado para o momento. – Ele então, tranquilamente, começa a recitar os versos, fazendo pausas mais longas que o necessário para secar o suor, o sangue e as lágrimas que molham o rosto da mulher.

Farto de tudo, a paz da morte imploro
Para não ver no mérito um pedinte,
E o nulo se ostentando sem decoro,
E a fé mais pura em degradado acinte,

E a honra, que era de ouro, regredida,
E a virtude das virgens violada,
E a reta perfeição ser retorcida,
E a força pelo fraco subjugada,

E a prepotência amordaçando a arte,
E impondo regra o tolo doutoral,
E a verdade singela posta à parte,

E o bem cativo estar do ativo mal:
Farto de tudo, a morte é o bom caminho,
Mas, morto, deixo o meu amor sozinho.

Ao final do último verso, Mr. Clare percebe que Marjorie não está mais tossindo e seu peito não faz mais o barulho angustiante do excesso de secreção. Ela agora descansa em paz e finalmente poderá se encontrar com o filho.

Uma lágrima silenciosa escorre pelo rosto de Mr. Clare, ele abraça a mulher que um dia amou e a beija na testa como sinal de despedida.

Ao norte da cidade, em Highgate, Victor desperta no chão de uma catacumba egípcia do cemitério. Apesar de ainda ser noite e tudo estar escuro onde ele se encontra, pelos sons externos ele percebe que o alvorecer está próximo. Aos poucos ele vai recuperando os sentidos. Sente o chão duro e frio sob o seu corpo, o ar pesado e o cheiro de mofo misturado com terra, de um local que nunca viu a luz do sol. Victor sente a cabeça latejando e a boca seca, efeitos da bebida, ele tem certeza.

Ele tenta se lembrar do que aconteceu na noite anterior, mas tudo parece confuso e a cabeça doendo não ajuda. Ele tenta se localizar, mas a memória falha. Ele não se lembra de ter entrado em nenhum lugar escuro, nem que em Hyde Park existia lugares tão sombrios.

Aos poucos ele vai despertando e começa a mexer os músculos tentando se levantar. Ao esticar a perna ele chuta uma massa disforme.

Mesmo com a escuridão ele percebe a massa tomando forma e se virando em direção a ele. Victor então se lembra vagamente de ter encontrado uma criatura estranha no parque, ou talvez tenha sonhado? Antes de conseguir organizar seus pensamentos, a massa que ele chutou, aproxima-se dele. Ele sente uma lufada de ar quente e cheiro fétido em seu rosto e o som que sai de sua boca o faz estremecer.

CRIATURA: Leve-me a Amunet.

Após a escuridão abençoadaOnde histórias criam vida. Descubra agora