I can see no way

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Cansado de ficar escondido no sombrio cemitério ao norte da cidade, Imohtep resolve sair. Na verdade, ele precisa sair e não pode esperar mais nenhum minuto. Ele não apenas sentiu a junção das sombras, como também visualizou toda a situação como se estivesse presente.

Ele viu o humano sendo puxado para dentro das turvas águas do rio, viu ele sucumbiu e viu nitidamente quando Amon-Rá vestiu o corpo do humano. Era um corpo velho, mas forte e, parecia que era importante para os planos de Amon-Rá.

Amon-Rá estava se fortalecendo e, agora que estava de posse de seu receptáculo, o plano se concretizaria em breve. Imohtep sentia e podia prever os próximos acontecimentos: noites cada vez mais longas, nevoeiro intermitente, pássaros morrendo em pleno voo e caindo sobre os transeuntes, pessoas saudáveis adoecendo e perecendo misteriosamente, crianças desaparecendo e todos os tipos de criaturas peçonhentas saindo da escuridão e tomando as ruas. Em breve não apenas a cidade teria sucumbido, como também todo o mundo.

Chovia e a noite estava chegando, ele conta com a proteção do escaravelho de Katbet para permanecer invisível às poucas pessoas que estão nas ruas. Ele precisa chegar à Amunet e parte rumo ao sul.

Incessantemente ele tenta invocar Amunet, ele sabe que uma hora ele conseguirá acessá-la, nem que para isso ele tenha que se encontrar com a humana pessoalmente.

Em Westminster, Ethan deixa a casa de Sir Malcolm. Ele precisa sair para pensar, o encontro com o Brona, que agora se chamava Lily, tinha o deixado abalado. Ele amou tanto aquela mulher, mas depois que ela o beijou aquilo não parecia certo. Tudo o que ele sentiu um dia ficou no passado. Ele não conseguia pensar em beijar ou em ficar com outra mulher que não fosse Vanessa. E Vanessa... o que tinha acontecido com ela? Ele sabia que ela não estava bem e que alguma coisa tinha acontecido naquela tarde, mas ele não iria insistir em perguntar. O que ele tinha aprendido nos seus trinta e poucos anos de vida era que a melhor coisa a se fazer quando uma mulher não queria conversar era deixar ela em paz com seus pensamentos.

A chuva caía fina, mas ele não se importava, a chuva sempre lavava os pensamentos.

No meio da caminhada ele se lembrou das conversas que teve com o seu pai Apache enquanto caçavam na relva. Depois de tudo o que aconteceu entre eles, Kaetenay realmente era alguém mais próximo de um pai que ele tinha agora. Esse seria um assunto interessante para uma noite longa tomando whisky no bar.

Da janela de seu quarto, Vanessa viu quando Ethan saiu na chuva. Ela ainda sentia uma explosão de sentimentos: raiva, ciúmes, decepção... Como ele podia fazer isso com ela? Será que ele iria trás dela de novo?

Quando Vanessa achava que ela podia respirar um pouco de normalidade, a vida vinha lhe dar um tapa na cara e dizer que felicidade era um lugar inalcançável para ela. Novamente ela foi abandonada, novamente ela se sentiu usada. Ela não queria chorar, mas as lágrimas rolavam pelo seu rosto sem que ela percebesse. Ela não queria mais lutar, nem contra as lágrimas, nem contra nada. Ela estava cansada.

Sir Malcolm cozinhava alguma coisa parecida com uma sopa. Desde que Sembene morreu eles precisavam se revezar para fazer o serviço doméstico. Sir Malcolm nunca pensou de fato em ter alguém para substituir Sembene. Seu homem era insubstituível e não seria fácil encontrar alguém com as características certas para trabalhar naquela casa. Por hora, era melhor deixar as coisas como estavam, não era indicado envolver mais ninguém, mesmo que para isso ele tivesse que fazer serviços domésticos, como cozinhar.

Imohtep se aproximava do centro da cidade e a movimentação de pessoas aumentava, mas ele ainda seguia sem ser notado, ele ainda estava protegido. Imohtep não desistia de invocar Amunet, ele sabia que lidar com a humana estava sendo mais difícil do que imaginava, mas mais cedo ou mais tarde ela cederia e deixaria Amunet no controle.

Amon-Rá ainda estava na margem no rio Tâmisa, à sudoeste da cidade, em um local com pouca movimentação de pessoas ou barcos, ali ele podia reconhecer o corpo que estava habitando. Um corpo não tão jovem, mas com características fisiológicas boas, ele tinha força e vitalidade, seria útil se houvesse algum conflito. Mas o mais importante era a aparência física. Este humano era especial. Este humano o levaria ao Lupus-Dei. O mais difícil era se adaptar a falar e andar como o homem e ser convincente o bastante para enganar o lobo. Depois, tudo seria mais fácil. Ele teria Amunet e eles governariam o mundo juntos. Finalmente a justiça seria feita.

Amunet.

Vanessa ouvia aquela voz insistentemente, bem ao fundo de seus pensamentos, bem longe de qualquer coisa que lembrasse Ethan. A voz ficava cada vez mais alta e ela tentava ignorar. Era como se fosse uma leve enxaqueca, no início era fácil de relevar, mas agora, cada vez ficava pior. Ela ainda era Vanessa, mas não responder àquele chamado estava sendo difícil.

Victor se sentia exausto da sessão com a Dra Seward. A medicina física era tão mais simples e fácil de ser praticada perto de todas as técnicas da psiquiatria. Ele entendia como o corpo funcionava, mas a mente era difícil de entender, principalmente quando a mente era a dele mesmo. Victor não queria ficar sozinho agora, não depois de ter a alma desnuda. Ele decide passar um tempo com Sir Malcolm. Ele se lembra da última conversa profunda que teve com o homem e como lhe fez bem. Além do que, poderia haver alguma novidade de Mr. Lyle, o que seria de grande utilidade para o momento. Ocupar a mente com o trabalho seria a melhor de todas as opções.

Ele estava quase chegando no número 8 de Grandage Place quando vê Vanessa tomando a carruagem. Ele a chama, mas ela não responde. Estranhamente ela entra na carruagem e parte sem nem olhar para ele.

Alguma coisa estava acontecendo e ele precisava avisar Sir Malcolm.

Após a escuridão abençoadaOnde histórias criam vida. Descubra agora