I do believe

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Ao chegar no Museu Britânico, Mr. Lyle encontra um cenário devastado. A área egípcia está totalmente revirada. Objetos quebrados e espalhados pela sala. Alguns sarcófagos estão abertos e outros foram danificados. As luzes foram quebradas na bagunça e a iluminação que chega à sala não é tão boa, além disso, uma vidraça da janela estava quebrada e um ar gelado invadia o ambiente, deixando o local com uma aparência fantasmagórica.

Parecia que alguém estava procurando por algo e causou todo aquele estrago.

Um funcionário do museu, que estava fazendo a vigília noturna, presenciou a cena e ficou bastante transtornado.

A polícia não foi chamada de imediato, pois a ideia de um assaltante vasculhando o museu não teria uma repercussão favorável nos jornais. A equipe preferia abafar o caso e tentar resolver antes de envolver alguém de fora, em último caso, se fosse necessário.

Antes de Mr. Lyle chegar ao local, os funcionários já haviam começado a contar o inventário e procurar por algum objeto desaparecido. Até o momento, nada estava faltando, só mesmo a bagunça no lugar preocupava.

Os outros vigilantes que faziam a ronda em outras áreas do museu caçoavam do homem assustado que chegou primeiro ao local da cena. O homem dizia que viu uma figura estranha, não humana deixando o local, mas os colegas de trabalho não acreditavam. Em primeiro lugar, o homem não tinha o histórico de funcionário do mês e já foi visto bebendo em serviço em momentos anteriores e em segundo, seres sobrenaturais não existiam.

Ao que tudo indicava, apenas um vândalo invadiu o museu e resolveu "brincar" um pouco. Mr. Lyle também conferiu o inventário e não sentiu falta de nada importante.

Ele se retirou da cena enquanto os funcionários limpavam a área e tentavam deixar tudo arrumado para a abertura do Museu na manhã seguinte. Enquanto todos estavam ocupados, Mr. Lyle decidiu conversar com o vigilante e tentar obter novas informações.

MR. LYLE: Excuse-moi, meu amigo. – Com a aproximação de Mr. Lyle o homem se assustou e pulou da cadeira onde estava sentado. – Posso conversar com você, senhor...?

TAYLOR: Arthur Taylor, senhor. – Responde ainda assustado.

MR. LYLE: Prazer, Ferdinand Lyle. Senhor Taylor, pode me dizer o que o senhor viu por aqui?

TAYLOR: O senhor não acreditaria em mim, Mr. Lyle. Dizem que estou louco, que é efeito da bebida. Mas eu não bebo em serviço, senhor. Estou sóbrio.

MR. LYLE: Eu entendo. – Mr. Lyle olha bem nos olhos do homem assustado, querendo demonstrar ser de confiança. – Sei que há coisas em nosso mundo que vão além da nossa compreensão. Mas não gostaria de contar? Pelo menos para desabafar e se sentir mais calmo?

O gesto de Mr. Lyle acalentou o homem, que decidiu contar sua versão dos fatos.

TAYLOR: Eu estava no andar de baixo quando ouvi o barulho da janela se quebrando e corri para cá. Eu era o que estava mais próximo da ala egípcia, o senhor sabe. Conforme eu me aproximava mais o barulho aumentava e eu ouvia objetos sendo arrastados, jogados e quebrados. Foi uma barulheira e tanto. Mas quando eu cheguei... – o homem precisou tomar fôlego antes de continuar a contar a história. – Eu vi um homem, alto, muito alto. Nunca vi um homem daquele tamanho. Ele estava abaixado perto daquela múmia lá – e apontou para um local no canto do salão. – Só quando ele levantou que eu vi o tamanho todo dele. E ele andava curvado. Um ser estranho. O mais estranho era que ele não usava roupas e sua pele era acinzentada. O senhor pode falar que estava escuro e eu não vi direito, mas eu sei que aquela não era a cor normal de uma pessoa. E quem andaria sem roupas por aí? Em uma noite fria como essa? Os garotos ficam rindo, falam que é uma múmia que foi tomar banho e largou as bandagens, mas não era múmia, senhor. Não era nada parecido como as que temos aqui. E nenhuma bandagem está pelo chão, o senhor mesmo pode ver. Não sei que criatura era aquela, mas não era humano, isso eu sei. – Conforme ia contando a história, mais nervoso o homem ficava. – Por um momento eu achei que ele tivesse me visto, porque ele olhou bem na minha direção. Senti como se ele tivesse me olhado nos olhos, mas agora não tenho tanta certeza. Ele tinha os olhos vermelhos. Não vermelhos como ficam quando a gente fica de ressaca, mas vermelhos acesos, como um farol. Ele olhou em minha direção e fez um movimento com a boca, talvez pudesse estar sorrindo. E os dentes dele eram estranhos, não eram do jeito normal, sabe? Pareciam pontudos. O senhor deve achar que eu estou inventando isso tudo, mas não estou. Eu vi. E estou sóbrio também. Este é meu horário de serviço eu não vou beber em horário de serviço. Tenho uma família para sustentar, o senhor sabe. Eu não posso me dar o luxo de perder o emprego agora. – Ao fim da narrativa o homem tremia. Mr. Lyle não sabia se era de frio, de medo da criatura ou o receio de perder o emprego. Talvez um pouco dos três.

Após a escuridão abençoadaOnde histórias criam vida. Descubra agora