Após a escuridão abençoada

Know yourself

Sir Malcolm e Ethan estão na sala conversando sobre a situação ilegal de Ethan no país.

Sir Malcolm: Ethan, tenho alguns contatos na Scotland Yard, acho que poderíamos resolver sua situação.

Ethan: Como?

Sir Malcolm: Tenho uma reunião marcada com o investigador que substituiu o Rusk hoje à tarde. Gostaria de ir?

Ethan: Você vai se encontrar com a pessoa que possivelmente vai investigar o desaparecimento do homem que morreu ao me extraditar?

Sir Malcolm: Exato.

Ethan: E me pede para ir junto? Você deve ser louco.

Sir Malcolm: Talvez, mas eu conheço as pessoas certas. E tenho alguma influência sobre elas.

Ethan balança a cabeça em descrença.

Sir Malcolm: A reunião é às 15h.

ETHAN: Às 15h então.

Em casa, Dorian se sente entediado olhando para as pinturas e ouvindo ópera. Desde a revolução de Lily que sua vida se tornara uma repetição de fatos irrelevantes. Sempre a mesma rotina sem graça.

Os convites para eventos sumiram. Quem iria convidar alguém envolvido com prostitutas revolucionárias para eventos sociais? Nem ele mesmo se convidaria para eventos.

Ele se encantou por Lily desde o primeiro instante, desde quando ela era Brona. Lily o vislumbrara, ele acreditou que juntos eles exerceriam sua supremacia. A supremacia dos imortais. Mas Lily iniciou uma revolução tola, infrutífera, sem objetivos e o pior de tudo: o excluiu de tudo.

Assim que o exército de prostitutas foi formado, Lily o abandonou completamente. Logo ele, Dorian Gray, excluído de todo frenesi e movimentação em sua própria casa.

Mas desde que ela se fora tudo estava tão monótono. Nem se dar ao luxo de reclamar das mulheres chatas de Lily ele podia.

Em momentos assim ele se perguntava se teria valido a pena seu envolvimento com Lily. Era quando ele sentia falta de Angelique. Pobre Angelique, ele gostava da autenticidade dela e de como ela o aceitava. Pena que ela teve que descobrir seu segredo. Infelizmente ela viu algo que nunca deveria ter visto.

Angelique lhe trouxe tanta alegria. Ela o ajudou a esquecer Miss Ives. Ele era grato a ela por isso. E Miss Ives? Ainda continuava a ser a criatura mais misteriosa de Londres. Ele não pensava mais em Vanessa como antes, mas o mistério que envolvia a áurea dela o fascinava. A única pessoa a resistir ao seu charme e sensualidade. Miss Ives era única.

Relembrando os bons momentos Dorian resolveu que era hora de ditar o próprio ritmo. Chega de dias monótonos e sem vida. Chega de se envolver com pessoas insignificantes e cansativas como o dr. Jekyll. Dr. Jekyll era o seu último arrependimento. Deveria ter matado o petulante médico quando pode e não deixar o idiota arrogante sair por aí com ar de superioridade e um título inútil de lorde. Mas isso agora era passado. Dorian não se preocuparia mais com fatos irrelevantes.

Ele voltaria à vida social. Ele traria os bailes de volta à sua casa. Traria música, dança e pessoas interessantes àquele salão.

Os bons tempos estavam de volta e ele celebraria. Um baile para comemorar a nova fase de sua vida. Era tudo o que ele precisava naquele momento.

E pensando nos detalhes de sua comemoração ele começou a planejar.

Já passava da hora do chá quando Vanessa abriu a porta em Grandage Place.

CATRIONA: Vanessa. – Disse cumprimentando- a com um sorriso.

VANESSA: Cat. Em que posso ajuda-la? – Vanessa estava surpresa, não a esperava em casa. Pelo menos não naquele momento.

Catriona entrou e as duas foram andando em direção à sala.

CATRIONA: Seu namorado não está?

VANESSA: Ethan sa... – ela interrompe a frase tossindo e reformula o pensamento. – Mr. Chandler não é meu namorado.

Catriona levanta uma sobrancelha em descrédito.

CATRIONA: Eu não sei se ele sabe disso, mas como você quiser. Eu não vim falar sobre sua vida afetiva de qualquer modo.

Vanessa lhe dá um sorri sincero.

VANESSA: Então. Descobriu alguma coisa?

CATRIONA: Mr. Lyle ainda está trabalhando nas imagens e outras coisas que ele trouxe do Cairo. Então não, nada novo. Mas andei pensando sobre uma conversa que tivemos antes das coisas terem fugido do controle.

Vanessa apenas assente.

CATRIONA: Ninguém que lutou contra o Drácula sobreviveu para contar. – Ela começa a falar tranquilamente. – Exceto você. Por que?

VANESSA: Ele nunca quis a minha morte. Você sabe. E... Bem, eu tenho essa condição particular.

CATRIONA: E ainda assim você o teme?

Vanessa balança a cabeça em negação.

VANESSA: A vida inteira eu vivi atormentada e caçada. Nunca tive paz. Eu tinha medo de me perder, de deixar de ser quem eu era.

CATRIONA: E agora?

VANESSA: Eu tenho medo de libertar quem eu sou.

CATRIONA: E isso já aconteceu. – Era uma constatação.

Vanessa assente.

CATRIONA: E como conseguiu controlar?

VANESSA: Não sei.

CATRIONA: Vanessa, pessoas comuns não sobrevivem a um encontro com o Drácula, elas não enfrentam Lúcifer em pessoa e sobrevivem. Exorcismos não são eficazes.

VANESSA: Eu não sou uma pessoa comum.

CATRIONA: Não, nem um pouco.

VANESSA: Então?

CATRIONA: Acho que você ainda não se deu conta do poder que tem, nem de como usá-lo.

VANESSA: Poder você diz, eu chamaria de outra coisa.

CATRIONA: Use o nome que quiser. Você não sabe a força que tem. Mas eles sabem. Você é perigosa.

VANESSA: Eu sei... – Ela sabia. Ela odiava ser um perigo para as pessoas, principalmente para aqueles que ela gostava. Ela odiava ter sido tocada pelas trevas e odiava ter que lutar contra isso diariamente.

CATRIONA: Para eles. Você é perigosa para eles.

Vanessa a encara assustada. Ela não estava entendendo. Ela não havia pensado que poderia ser uma ameaça. Ela sempre se sentiu perseguida, ameaçada, vítima. Ela sempre foi a presa. Era estranho ser vista como o predador da história.

VANESSA: Como? A profecia...

Catriona a olha nos olhos e segura sua mão.

CATRIONA: Mr. Lyle ainda está trabalhando nela. Por hora, concentre-se em você. "Conhece-te a ti mesmo e..."

VANESSA: "conhecerás os deuses e o universo." Sócrates.

Vanessa sorri em cumplicidade para Catriona Ela passaria a ver a situação de outro modo e encontraria uma solução.