Is too easy being monsters

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Em Grandage Place Victor está conversando com Sir Malcolm.

Victor: Sir Malcolm, eu preciso de ajuda. Não sei mais o que eu faço.

Malcolm: Pode falar, Victor.

Victor: Digamos que no passado você fez um grande feito. Glorioso, até. Mas não soube lidar com as consequências e quando você achou que o passado estava resolvido ele volta de um jeito que você não imaginou. O que o senhor faria?

Malcolm: eu diria, Victor, que o passado nunca nos deixa. Nós que precisamos aprender a lidar com ele.

Victor assente.

Victor: e quando não sabemos o que fazer?

Malcolm: em algum momento a vida nos ensinará. Sabe, Victor, eu fui um homem muito ganancioso, sempre quis mais, sempre busquei grandes feitos e queria ser reconhecido por isso. Consegui o prestígio, mas hoje vejo que nada daquilo valeu a pena. De que adianta a glória se quem você ama não pode aprecia-la com você?

Victor pensativo assente. Talvez Sir Malcolm nunca o entendesse ou talvez ele fosse capaz de entende-lo como ninguém. Poucas pessoas tiveram a chance de realizar um grande feito.

Victor: Sir Malcolm. Eu fiz uma coisa, eu criei uma coisa. – Sir Malcolm, curioso, o olha diretamente nos olhos. – Eu consegui vencer a morte. Eu criei vida. Eu ressuscitei um homem. – Ele interrompe a fala, não sabendo como continuar. Contudo ele respira fundo e continua contando a sua história. – Mas não soube lidar com a vida que eu criei e eu o abandonei. Não me orgulho disso. Eu deveria ter ficado. Eu deveria ter lidado com ele, não fugido. Ele agonizou sozinho. Eu o vi sofrendo quando ele voltou à vida, mas fugi. Eu achei que ele não procuraria, mas ele voltou e me procurou. – Victor achou melhor não contar sobre suas outras criações. Preferiu não entrar em maiores detalhes e mostrar o quanto tinha sido cruel. – Não tivemos uma boa relação desde então, mas eu estava aprendendo a lidar com aquilo. Só que... – ele respira fundo tentando lembrar dos detalhes, foi uma cena inesperada, agora tudo parecia ser apenas flashes de um pesadelo. – Uma mulher apareceu na minha porta procurando por ele e por um garoto. Não entendi direito o que ela disse sobre o garoto. Acho que ela era mulher dele. Ela sabe o que eu fiz.

Era a primeira vez que ele falava aquilo com alguém fora da área médica. Apesar de conhecer Sir Malcolm há algum tempo e deles terem uma boa relação, Victor tremia. Ele achou que fosse chorar, mas nem lágrimas ele tinha mais para chorar.

Malcolm: Victor, entendo os seus temores. Sempre que você quiser conversar ou precisar de ajuda minhas portas estarão abertas para você. Mas você precisará aprender a lidar com a mulher, do mesmo modo que você aprendeu a lidar com o homem. Isso só depende de você.

Victor: eu sei, Sir Malcolm, mas é tão difícil.

Malcolm: não disse que seria fácil. Eu levei anos para lidar com meus monstros. Talvez seja isso que você precise. Tempo.

Vanessa e Ethan estão caminhando por Westminster.

Ethan: Vanessa, talvez eu não seja o homem que você pensa que eu sou.

Vanessa: eu sei...

Ethan: Não é disso que estou falando. - Ele a interrompe e balança a cabeça - Ethan Lawrence Talbot.

Vanessa: Talbot? - Ela sorri descrente.

Ethan: Meu pai me alistou no exército para lutar na guerra contra os índios apaches. Dizimamos uma tribo inteira. Destruímos a família de um homem. O Kaetany. Depois eu o implorei para que me matasse. Ele não quis me fazer o favor.

Vanessa: Ethan. – Ela segura suas mãos e o olha com compaixão. Ela entendia o que ele estava dizendo.

Ethan: Eu passei a lutar pelos índios, uma forma de me redimir, eu acho. – Ele falava olhando para o nada, não consegui olhar para Vanessa agora. – Precisávamos de armas e suplementos e eu sabia onde conseguir. Bolamos um plano de invadir as terras de meu pai. Eu dei as coordenadas dos galpões onde ficavam as armas. Eles entrariam, pegariam as armas e as munições e iriamos embora. Ninguém se machucaria. Mas... – sua voz embarga.

Vanessa: Mas...?

Ethan: Meu irmão, Paul, estava na capela rezando. Minha mãe e minha irmã caçula, Mary, estavam com ele. Os índios não pouparam a vida deles.

Vanessa: Oh, Ethan. – Ela passa a mão pelo o seu rosto e o abraça. – Sinto muito.

Ethan: Quando eu saí dos EUA, eu entrei em para um circo itinerante. Era uma forma de ganhar dinheiro, afinal de contas. E adotei o Chandler como sobrenome artístico.

Vanessa: Obrigada por compartilhar a sua história. – Ela sorri e o olha nos olhos.

Ethan: Desculpe por ter ido embora sem te dizer nada, mas eu precisava...

Vanessa: Shhh... – ela coloca um dedo sobre os lábios dele. – Eu te perdoo.

Ethan segura as mãos dela e a beija na testa.

VANESSA: Ethan?

ETHAN: Hmmm?

VANESSA: Posso continuar te chamando de Mr. Chandler?

ETHAN: Até de Cachorrinho de Madame você pode me chamar, Miss Ives.

Ela dá uma gargalhada.

John Clare está andando pela rua e vê Miss Ives caminhando em sua direção, acompanhada de um cavaleiro. Ela parece feliz. Ele queria desviar o caminho para não atrapalhar o momento dos dois, mas agora seria estranho demais se ele atravessasse a rua ou tomasse outro rumo. Decidiu pela aproximação direta.

JOHN CLARE: Miss Ives.

VANESSA: Mr. Clare! Gostaria de te apresentar Mr. Chandler. – Ela olha para Ethan. – E, Mr. Chandler, este é John Clare, um amigo de longa data. – Ela sorri para John Clare.

ETHAN: É um prazer conhece-lo Mr. Clare.

JOHN CLARE: Igualmente, Mr. Chandler.

VANESSA: Nunca te vi aqui por Westminster.

JOHN CLARE: Eu não costumo andar por este lado da cidade, senhorita. – Ele responde sem graça.

VANESSA: Deveria. Apareça para tomar um chá. Grandage Place, número 8. É onde eu moro.

JOHN CLARE: Vou me lembrar.

VANESSA: Vou espera-lo.

John Clare sorri com o modo carinhoso que as palavras de Vanessa são pronunciadas.

JOHN CLARE: Miss Ives, parece a senhora decidiu aproveitar a dança.

Vanessa sorri discretamente para ele, mas seus olhos estão brilhando.

VANESSA: Acho que estou dando os primeiros passos.

Ele sorri de volta, sem graça.

VANESSA: Acho que o senhor também deveria aproveita-la.

JOHN CLARE: Talvez minha música ainda não tenha começado. – Ele pensa com tristeza, imaginando se algum dia poderia amar e ser amado de volta. Embaraçado por ter atrapalhado o passeio de Miss Ives, ele pede licença para ir embora. – Miss Ives, Mr. Chandler, se me dão licença, preciso ir. Desculpe-me o incomodo.

VANESSA: Foi um prazer reencontra-lo, Mr. Clare. Te espero para o nosso chá.

JOHN CLARE: Claro. – Ele cumprimenta com a cabeça para Vanessa e Ethan. Eles retribuem o gesto. John Clare segue seu caminho olhando para o chão, evitando os olhares das pessoas.

Após a escuridão abençoadaOnde histórias criam vida. Descubra agora