And they become one

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Drácula e Lúcifer ainda estão na antiga construção abandonada, eles começam a unir seus poderes. As duas massas escuras começam a se juntar. A construção se abala, paredes vibram, pedaços de madeira apodrecida e telhas desgastadas pelo tempo caem do teto, uma onda de poeira toma conta do lugar, mas apesar do tremor de terra ter ocasionado alguns danos no lugar a estrutura continuava de pé. As duas massas disformes agora formam uma massa ainda maior e com total ausência de luz.

Contudo, para ficarem ainda mais fortes e conseguirem exercer seus poderes para dominar Amunet, eles precisam de um receptáculo, um corpo para ser usado por eles. De preferência um corpo humano e um humano que já conhece Amunet. Lúcifer e Drácula, agora unidos como Amon-Rá iniciam a busca pelo humano perfeito e já sabem por onde começar.

Imohtep sente a junção de Drácula e Lúcifer, mesmo em seu esconderijo ele sabia que a atmosfera da cidade estava diferente e começava a se perguntar se os mundanos também não tinham sentido. A mudança de energia era muito forte, mas alheios a tudo o que estava acontecendo, as pessoas continuam sua rotina, nenhum humano pressentia o perigo ou sabia o que estava por vir. Mas Imohtep via tudo claramente e sabia que Amon-Rá viria até ele. Ele não tem tempo a perder. Imohtep vem tentado invocar Amunet, mas não consegue. Alguma coisa está impedindo ela de ser contatada. Alguma coisa com a humana a quem chamam de Vanessa, mas agora ele não pode mais se dar ao luxo de esperar por Amunet, ele precisa ir atrás dela. A proteção do escaravelho de Katbet terá que ser suficiente, pelo menos até que ele encontre Amunet. Ele precisa de Amunet mais do que nunca agora. Ele está decidido. Assim que anoitecer, ele sairá de seu esconderijo no cemitério e irá encontrar Amunet.

Ver o minúsculo desenho inscrito na joia que Vanessa e Ethan trouxeram da casa de campo não acalmou os ânimos. O registro de uma mulher com os braços abertos e asas de falcão na joia só provava que o escaravelho era de Amunet. A solução ainda não tinha sido encontrada. Se livrar da joia não teria sentido, Vanessa passou anos longe dela e isso ainda a afetou.

VICTOR: E se destruíssemos?

CATRIONA: Haveria o risco de Amunet ficar para sempre presa em Vanessa.

SIR MALCOLM: Então basicamente é isso? Amunet e Vanessa coabitam o mesmo corpo?

MR. LYLE: Em termos leigos e sucintos pode-se dizer que sim.

ETHAN: Tem algum modo de separar isso?

VICTOR: Eu vi um experimento em que isso foi possível. Separar completamente o lado bom do lado mau de um homem, mas não aconselho o procedimento para Miss Ives.

VANESSA: Esse procedimento era médico?

VICTOR: Sim, um amigo meu estava aperfeiçoando...

VANESSA: Não funcionaria.

SIR MALCOLM: Mas se ele estava aperfeiçoando, será que não houve alguma evolução?

VANESSA: A vida inteira médicos tentaram arrancar isso de mim e não conseguiram. A medicina ainda não tem meios para compreender.

MR. LYLE: Miss Ives está correta. Precisamos buscar a solução em outros lugares.

CATRIONA: Li alguma coisa sobre mitologia egípcia nos meus livros. Acho que ainda tenho em casa.

MR. LYLE: Voi là! Já temos um primeiro passo.

ETHAN: E o que nós podemos fazer?

MR. LYLE: O bárbaro da mitologia é que nem tudo é mito. Todas as culturas, todas as religiões, todos os costumes são baseados em fatos reais. Continuamos as buscas, qualquer coisa em comum, qualquer pista que acharmos pode ser válido.

CATRIONA: Mut, Lilith, Atenas... todas as semelhanças, qualquer informação que possa parecer relevante. – Catriona, já decidida do que fazer, se levanta e se despede de todos. – Bom, irei para casa ver o que posso encontrar. Façam o mesmo. E Vanessa, posso falar com você um momento?

Vanessa a acompanha até a porta.

CATRIONA: Lembre-se do que te falei, você é mais forte do que pensa. Use essa força. – Antes de sair ela aperta a mão de Vanessa. – Cuide-se.

Pouco tempo depois Mr. Lyle e Victor também saem. Mr. Lyle vai revirar os antigos arquivos do museu em busca de qualquer pista que possa ter ficado despercebida.

Victor segue para o consultório da Dra. Seward. Ele ainda era cético quanto aos métodos da médica, não se sentia melhor, mas gostava dos momentos em que passava conversando com ela. Era bom ter alguém para conversar, mesmo que precisasse pagar para isso.

Na sala, ficaram apenas Vanessa, Ethan e Sir Malcolm. Desde que Catriona saiu Vanessa não tinha falado nada. Estava pensando sobre o que ela disse. Vanessa sabia que era forte, lutava há tanto tempo e, mesmo cansada, tinha vencido todas as batalhas. Agora, mais que tinha, ela tinha encontrado sua força. Ela não sabia quando a guerra terminaria, mas tinha a esperança de que conseguiria vencer.

Sir Malcolm e Ethan conversavam sobre alguma coisa que ela não estava prestando atenção, mas ouvir a voz deles enchendo a sala era tranquilizadora. Depois de muito tempo, ela se sentia segura ali.

Sem ideia do que fazer e sem conseguir ficar sem fazer nada, Ethan achou melhor sair para esfriar a cabeça. Ele se sentia inquieto e não queria atrapalhar Vanessa com sua ansiedade. Ela não deveria saber de seu desespero, lidar com os próprios problemas já era mais do que suficiente para ela.

Vanessa estava tão imersa em seus pensamentos que nem percebeu que Ethan tinha saído. Ela só percebeu que estava há muito tempo olhando para o reflexo do fogo em sua xícara de chá quando foi tomar um gole e sentiu a bebida gelada. Ela fez uma careta e pousou a xícara na mesa de canto e notou que a sala em silêncio. Apenas o crepitar do fogo produzia ruídos.

Do outro lado da sala, Sir Malcolm examinava o escaravelho com a lupa. Vanessa se levantou e foi até ele. Ele percebeu sua presença pela sombra que ela fazia.

SIR MALCOLM: Eu o encontrei nas margens do Nilo, sabe? Naquele momento não pensei que combinaria com ninguém além da Claire. Esse lápis-lazúli não era tão brilhante quanto agora. O joalheiro que o deixou assim, mesmo após anos guardado, continua belo.

Vanessa olhou de relance para a joia e desviou o olhar. Ela se lembrou da última vez que se aproximou dele e a lembrança não era boa. Um calafrio percorreu sua nuca.

SIR MALCOLM: Às vezes eu acho que a culpa é minha, mas na maioria delas, eu tenho certeza.

Vanessa balançou a cabeça em negação, mais para espantar o pensamento do que uma resposta ao que Sir Malcolm estava falando. Ela não queria ouvir ele falando do relacionamento extraconjugal que teve com sua mãe. Aquela conversa não parecia certa.

VANESSA: Todos temos nossa parcela de culpa nas consequências de nossas ações. Ninguém é totalmente culpado, ou totalmente inocente.

SIR MALCOLM: Você deve estar certa.

Vanessa assentiu calmamente. Ela não estava com vontade de conversar. Talvez devesse sair um pouco também. Ela se despediu de Sir Malcolm, vestiu o casaco que estava no cabideiro próximo à porta e saiu para o ar frio e úmido da cidade.

Após a escuridão abençoadaOnde histórias criam vida. Descubra agora