Após a escuridão abençoada

We defy them

Na casa dos Ives, Vanessa e Ethan estão procurando o escaravelho. Ethan examina as caixas que Vanessa derrubou na noite anterior e Vanessa verifica a antiga caixa de madeira (a culpada pela bagunça do quarto). A caixa não tem nenhum objeto, apenas papeis e cartas antigas. Várias cartas de Sir Malcolm para Claire Ives. Vanessa sente asco ao ver as cartas guardadas junto com as coisas de seu pai. Pensar que sua mãe guardava provas de seu pecado do lado de objetos pessoais de seu pai lhe causavam repugnância, mas também curiosidade. Ela passou os olhos por algumas delas e as poucas palavras que leu continham mais química do que via no relacionamento dos pais.

Vanessa guardou as cartas de volta na caixa e a colocou no lugar onde encontrou. Esperava que ninguém nunca mais olhasse para aquelas coisas. A reputação de seus pais não deveria ser manchada.

Ela deixa Ethan ainda mexendo nas coisas que estão no chão e vai para o pequeno quarto de vestir, onde lembrava de ver a mãe guardando alguns objetos mais valiosos.

Ela encontra um antigo porta-joias trancado com chave. Ela não sabia onde encontrar a chave, mas isso era nenhum impedimento. Vanessa se lembrou de quando era criança e costumava abrir porta-joias com grampos de cabelo. Se tivesse sorte, não teria dificuldades em abrir a caixa.

Ela retirou um grampo do cabelo e começou a mexer na fechadura cuidadosamente. Ela ouviu um "clique" e a tampa se abriu relevando uma bailarina dançando ao som de uma valsa. Ethan a observava de longe, incapaz de acreditar que a todo momento aquela mulher podia lhe surpreender.

Vários colares, brincos e anéis estavam na caixa. Vanessa se lembrava da mãe usando cada um dos acessórios e chegou a acreditar que só encontraria objetos comuns ali, mas então passou a mão no fundo da caixa e sentiu um pedaço de papel.

Embrulhado em papel pardo estava o pequeno escaravelho. Vanessa desembrulha o papel com cuidado e segura o objeto na mão com muita atenção. Mesmo guardada há décadas, a joia em formato de besouro ainda reluzia. Era uma peça admirável e de beleza ímpar.

VANESSA: Ethan! Acho que encontrei.

Vanessa, levanta e vai até o quarto, que está com uma luminosidade melhor. O azul da pedra reluz destacando o objeto na mão de Vanessa. Ethan se aproxima dela para ver melhor o item.

Vanessa não é uma mulher comum de se admirar com joias e essas futilidades, mas ela ficou entusiasmada com o escaravelho. Sentou em frente à penteadeira que pertencia à sua mãe e pediu para que Ethan a ajudasse a colocar o colar no pescoço. Ele tinha que admitir, a joia não apenas combinava com os olhos dela, como também os destacava.

Ao aproximar o objeto do colo de Vanessa, Ethan sente uma vibração estranha na atmosfera. Ele olha para Vanessa através do espelho tentando notar alguma diferença na mulher, mas nada tinha mudado. Ela continuava olhando para ele em expectativa enquanto ele termina de atarraxar o colar no pescoço dela.

Então ela também sentiu. Não uma vibração ou uma mudança no ar. De repente tudo ficou escuro e ela perdeu a consciência.

Ethan a segura antes que ela caia no chão, a pega no colo e a coloca na cama. Ele dá leve palmadas no rosto dela tentando fazer ela acordar.

ETHAN: Vanessa?! Vanessa? – Mentalmente ele implora por todas as forças do universo para que ela esteja bem. Em silêncio, ele faz a oração do Pai Nosso ajoelhado na cama.

Parece uma eternidade para ele, mas alguns instantes depois ela abre os olhos.

ETHAN: Vanessa! Como você está? O que aconteceu?

VANESSA: Mr. Chandler. – Ela olha em volta confusa e pergunta para ele. – Onde estamos?

ETHAN: Na casa dos seus pais. Viemos procurar a joia de sua mãe, lembra-se?

VANESSA: É mesmo. O pequeno presente do pecado. Deve ter sido realmente glorioso encontra-lo, não acha?

Ethan fica confuso.

ETHAN: Não estou entendendo.

VANESSA: O escaravelho. O meu escaravelho. Do que mais estaria falando?

ETHAN: Vanessa?

VANESSA: Sim?

ETHAN: Você está bem?

VANESSA: Por que não estaria?

Ele olha desconfiado. Algo estava errado.

VANESSA: Só porque você viu sua antiga amante e marcou um encontro com ela achou que eu sentiria ciúmes. – Ela dá uma gargalhada. – Coisas assim não me abalam.

ETHAN: Quem é você?

VANESSA: Quem você quer que eu seja?

ETHAN: Onde está Vanessa? – Vanessa ri. – ONDE ESTÁ VANESSA?

Vanessa (ou o corpo dela, pelo menos) segura o rosto de Ethan com força.

VANESSA: Eu não gosto que gritem comigo, Lupus Dei. Talvez eu deixe Vanessa sair para brincar, talvez eu deixe você brincar com ela, mas quem manda aqui sou eu. Amunet!

Ethan sacode Vanessa pelos braços.

ETHAN: VANESSA! EU SEI QUE VOCE ESTÁ AÍ! RESISTA! VOLTE PRA MIM!

Amunet/Vanessa ri do desespero de Ethan.

Ele queria ter consigo a medalha de São Judas para novamente exorcizar aquele demônio, mas o objeto estava no quarto de Vanessa, em Londres. Olhando de relance ele vê um pequeno terço em cima da mesa de cabeceira. Aquilo deveria servir.

Ethan pegou o terço e posicionou o crucifixo na testa de Vanessa e com toda sua fé orou em latim. Continuou repetindo o Pai Nosso, a Ave Maria e a oração de São Judas mesmo com Amunet rindo e zombando dele.

Alguns intermináveis minutos depois a risada cessa. E Vanessa dá um grito de desespero.

VANESSA: ETHAN!! – Sons brutais saem de sua garganta. Ela estava lutando contra Amunet para retomar o controle de seu corpo.

ETHAN: VANESSA! – Ele se assusta com seu nome sendo chamado e grita o nome dela em retorno.

VANESSA: O... ASHHH GAAAASP!! Esca... AHHHH ra GAAAASP ASHHHH velho! Escaravelho!

Ethan entende o recado e abruptamente arranca o colar do pescoço de Vanessa. O objeto voa longe. Vanessa senta na cama ofegante e abraça Ethan com força. Eles tinham conseguido. Ela tinha conseguido voltar mais uma vez.

Lágrimas escorrem de seu rosto em um choro compulsivo e se misturam no sangue que escorre do corte aberto no pescoço manchando a camisa de Ethan. Ele apenas a abraça com mais força. Torcendo para que seu abraço seja o bastante para mantê-la em segurança. Pelo menos por enquanto.