O dia tinha se transformado em noite. Trevas estavam por todo lugar. Criaturas da noite emergiram. Frio e nevoeiro invadiram a cidade. Nuvens pesadas com raios e trovões se formaram. Corpos de animais se amontoavam. Cavalos, cães, raposas, pássaros. Nem mesmo os ratos e os morcegos estavam livres.
Pessoas se protegiam em casa e nos porões, com medo. Qualquer barulho do lado de fora era aterrorizante. A qualquer momento algo poderia entrar e fazer mais uma vítima. O lar não era seguro, mas sair na rua era uma sentença de morte.
Não existia mais divisão de classe. Todos eram iguais, todos eram vítimas.
Na casa das criaturas das trevas ela era a soberana. Seus filhos e súditos faziam o que ela pedia. Fiéis escudeiros. Uma palavra ou um gesto e sua vontade era atendida. Quem não se curvasse aos desejos dela sucumbia, virava alimento de seus amados filhos.
Ela reinava sozinha, não precisava de ninguém, não queria ninguém. Sua alma e seu corpo pertenciam a ela mesma, a ninguém mais. Serpente? Dragão? Ambos tolos querendo poder, querendo o seu poder. Ela não precisava de um consorte para dominar o mundo. Ela não precisava de nenhum deles para derrubar o Trono. Sozinha ela transformaria toda luz em escuridão e faria o Céu se curvar à sua magnitude.
Havia um. Ele era um mero mortal, mas tinha a missão de detê-la. Um homem audacioso, mas apenas um homem.
Ela aceitou recebe-lo. Ninguém deveria toca-lo. Ele pertencia a ela e a ninguém mais. Ela conhecia todas as suas fraquezas não seria difícil. Um pouco de encenação, faze-lo acreditar que venceria e então ela daria o golpe final. Uma presa sendo brinquedo de seu predador, nada além disso.
Ele se aproximou e, como ela esperava, falou gentilmente o nome que ele conhecia. Vanessa. Por ironia o nome também simboliza felicidade, mas seu corpo mortal nunca conheceu este sentido. Agora não importava mais, ela não era mais Vanessa.
Ela deixou ele conduzir a conversa, o fez acreditar que poderia mudar, que poderia ser a luz que ele queria que ela fosse. Como era fácil engana-lo. Ele chegou mais perto dela, ela deixou que ele segurasse em suas mãos, que a abraçasse. Ela inclinou a cabeça para beija-lo. Ele estava perto demais, vulnerável demais. Seria fácil. Muito fácil.
Ela pronunciou o nome dele. Ethan. Soava familiar, como um sussurro, mas ela não deu atenção. Aquela parte dela não existia mais. Ele disse o nome dela novamente, murmurando, quase gemendo. Vanessa.
Ela se afastou e o olhou nos olhos. O azul cintilante dera lugar a sombras negras. Íris, córnea e pupila da mesma cor da noite. "Vanessa? Quem é Vanessa?". Ela respondeu. Ele se assustou. O momento era agora. Sem que ele tivesse tempo de pensar e reagir ela tirou a adaga que estava escondida no vestido e o atingiu no meio do abdome. O golpe o chocou, além da dor ele não acreditava no que estava acontecendo. Ele não teve como reagir. Ela o atingiu de novo, no ponto certo entre as costelas, direto no coração.
Ele caiu morto, com os olhos abertos, incrédulo com o que aconteceu. Ela ria. Soltou a adaga e lambeu os dedos sujos de sangue, como uma criança ao terminar de comer uma sobremesa. Agora nada mais podia detê-la.
Todos estão sentados em frente à lareira. Victor, Catriona, Mr. Lyle, Ethan e Sir Malcolm ouvem com atenção o relato. Vanessa chora sem parar, além do crepitar do fogo, seu choro é a única coisa que quebra o silêncio. Ela está encolhida no sofá, abraçando as pernas.
Ninguém sabe direito o que falar. O whisky no copo parece uma bebida fraca demais.
Mr. Lyle toma um gole profundo da bebida e é o primeiro a se pronunciar.
MR. LYLE: Ma chérie, eu sei que as coisas devem estar confusas para você, mas não seria apenas um sonho?
Ainda chorando Vanessa responde.
VANESSA: Mr. Lyle, eu sei o que eu vi, não era um sonho. Eu vi claramente, eu vi o que o futuro me reserva.
CATRIONA: Se isso não foi um sonho... – ela não consegue terminar a frase.
VANESSA: Isso não foi um sonho! – Responde nervosa. Ela não queria ser rude, mas depois de tudo o que contou estava sem paciência. Catriona não continuou.
SIR MALCOLM: Apesar de tudo, talvez essa visão nos possa ser útil.
MR. LYLE: Sir Malcolm está certo, podemos encontrar um jeito de impedir isso de acontecer.
VANESSA: Só há um jeito. – Ela olha diretamente para Ethan. – E você sabe qual.
ETHAN: Não! – Ele sabe o que ela quer dizer. – Deve haver outra forma, tem que haver outra forma.
Vanessa não responde, apenas se encolhe no sofá. A ideia o fazia sofrer, ela sabia, mas era a única coisa que conseguia pensar. Ele deveria ter acabado com o sofrimento dela há anos, mas algo o impedia e ela não conseguia entender se era piedade ou crueldade.
VICTOR: E se não tiver? E se não houver resposta na ciência nem na religião, nem nos mitos?
ETHAN: Vamos encontrar uma.
MR. LYLE: Mr. Chandler pode estar certo. – Afirma tendo uma ideia. – Se encontrarmos Imhotep antes dele encontrar Amon-Rá talvez ele possa ser de alguma utilidade.
VICTOR: E onde vamos encontrar uma múmia em Londres?
CATRIONA: Não vamos, ela vai nos encontrar. – Todos param e observam Catriona falar. – Bom, se Imohtep saiu para encontrar Amon-Rá o jeito mais fácil dele encontra-lo seria ir atrás de Amunet. Afinal de contas, Vanessa, você foi a última que se encontrou com os irmãos.
SIR MALCOLM: Faz sentido o que você diz, Miss Hartdregen. Se os irmãos vieram até a Vanessa, Imohtep também virá.
VICTOR: E o recebemos com boas-vindas e convidamos para um chá? Oferecemos biscoitos e pedimos ajuda para deter o mestre dele?
MR. LYLE: Dr. Frankenstein, Imohtep não considerava Amon-Rá um mestre. Ele o adorava e conhecia seus segredos, mas sempre teve vontade própria. Ele não seguia Amon-Rá cegamente. Podemos ter esperança de que ele nos ajude.
VANESSA: E até ele aparecer?
ETHAN: Fazemos o que sempre fizemos. Ficamos juntos e protegemos nosso bando.
SIR MALCOLM: Sem piscar.
MR. LYLE: Sem descuidar.
Todos concordam.
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Após a escuridão abençoada
FanfictionTalvez houvesse luz após a escuridão abençoada. Talvez o amor ainda pudesse ser vivido. Ethan Chandler apertou o gatilho naquela noite sem fim, mas o alvo não foi Vanessa. Sou fã de Penny Dreadful e fiquei desolada quando a série acabou. Assisti tan...