Após a escuridão abençoada

Things become other things

A noite chega e a lua aos poucos começa a surgir no céu de Kent. A relva aos pés de Ethan e Kaetenay começa a se iluminar com a luz do luar. Eles sabem que a qualquer momento a transformação ocorrerá, era questão de instantes até tudo se iniciar.

O processo começava com uma coceira na pele, quase despercebida que aumentava rapidamente. Então iniciavam as dores, os ossos doem insuportavelmente, o uivo de dor é impossível de segurar. A face muda, os membros se transformam, as mãos se tornam patas. Cada osso que se alarga causa uma amargura diferente. Os pelos crescem repentinamente rasgando a pele. A mudança violenta causa confusão mental. Nenhum pensamento fica claro, prevalece apenas o desejo de atacar e devorar carne. Caçar presas vivas, morder a jugular, quebrar alguns ossos com a força da mordedura, sentir o gosto da carne fresca e do sangue quente que jorra da vítima. Hormônios são descarregados na corrente sanguínea e fazem as dores diminuírem, mas deixam os instintos mais apurados. É quando o homem deixa de ser homem e a fera se liberta para satisfazer seu desejo.

Kaetenay já tinha se acostumado com o processo. Décadas de transformação o fizeram entender como tudo acontecia. Ele conseguia controlar a fera. Ele ainda tinha consciência do homem que era. O monstro estava lá, mas também estava o homem e os dois deveriam chegar a um consenso sobre os atos.

Ethan ainda não tinha controle seu corpo e assim que virou lobo sua vontade era correr e caçar. Ele sentiu o vento em seus pelos e ao longe farejava algum animal, ele queria ir atrás dela, mas o lobo Kaetenay o impediu.

Kaetenay entrou na frente de Ethan e o olhou nos olhos. O lobo Ethan sabia que Kaetenay era o líder da alcateia e deveria respeitá-lo. Lobos não falam com palavras, mas usam uma complexa linguagem corporal. Mas Ethan e Kaetenay não eram lobos comuns, eram homens que viravam lobos, eram lobisomens. Além da linguagem corporal eles conseguiam se comunicar quase que telepaticamente.

Apenas com um olhar Ethan conseguia entender o que Kaetenay queria dizer. O Apache dizia para ele ficar calmo e sentir tudo o que estava acontecendo ao seu redor. Qual era a consistência da grama sob suas patas? Qual era a intensidade do vento que batia em seus pelos? Quais cheiros prevaleciam? O que ele conseguia ver? Que sons vinham da natureza que os cercavam?

Ethan segue as orientações do velho apache. Ele respira fundo e fecha os olhos, tenta sentir todos os cheiros. Fareja o ar tentando identificar todos os cheiros. Mexe as orelhas para apurar os sons que ouve. A princípio tudo parece silencioso, mas ele conseguia ouvir o som da respiração dos dois lobos, do seu coração batendo, de alguns insetos que se movimentavam, conseguia ouvir o som do vento.

Após sentir tudo ao seu redor Ethan tornou a olhar para Kaetenay que o encarou mais uma vez e o olhou ainda mais fundo. Dessa vez Ethan ouviu claramente quando o apache disse "não esqueça quem você é."

Ethan piscou. Ele não era um lobo. Ele era mais do que isso. Ele também era um homem.

Quando Kaetenay percebeu que Ethan compreendeu o que ele quis dizer, indicou para que podiam caçar. E os dois saíram correndo, seguindo o cheiro das presas que estavam longe. Um casal de cervos não estaria vivo pela manhã.

Catriona acompanha Mr. Lyle ao Museu Britânico. Depois da invasão ao departamento egípcio a presença do egiptólogo é mais requisitada e Catriona aproveita a oportunidade para estudar um pouco mais sobre a mitologia egípcia.

Na saída do museu eles encontram com Dorian Gray, que estava chegando ao local. Dorian fica completamente fascinado pela aparência de Catriona. Que mulher audaciosa vestindo calças como um homem. Catriona sim que deveria começar uma revolução, não aquelas prostitutas comandadas por Lily.