On the hill

4 0 0
                                    


 Ethan acabou de posicionar a bagagem e ajudou Vanessa a subir na carruagem. Ele deu uma última olhada na vizinhança e consultou o relógio: 4h00. Faltava pouco para o horário que marcou de se encontrar com Lily. Ele sempre fora pontual e não faltava a um encontro, principalmente quando uma dama estava esperando, mas isso era mais importante. Vanessa precisava dele agora, Lily podia esperar. E se ele nunca mais a visse, talvez fosse melhor assim.

VANESSA: Algum problema, Mr. Chandler? Podemos ir?

ETHAN: Nenhum problema. – Ele pulou dentro da carruagem e deu a ordem para o cocheiro partir. – Vamos embora.

Vanessa olhou intrigada para ele. Ela sabia que Ethan estava preocupado com alguma coisa, estava pensando em outra coisa, mas achou melhor não comentar.

Já tinha anoitecido quando eles chegaram à casa da colina. Da porta da frente Ethan podia ver a residência dos Malcolm. Um grande labirinto dividia as duas propriedades. Ethan imaginou quantas aventuras a pequena Vanessa viveu naquele lugar. Ao longe ele podia ouvir o som das ondas do mar, a praia não ficava longe.

Ethan percebeu que Vanessa não se sentia confortável em estar ali. Era a casa dela, onde ela cresceu, mas ela não parecia se sentir à vontade. Ele entendia aquela sensação: estar em casa, mas se sentir desconfortável, como se aquele lugar não mais lhe pertencesse. Foi exatamente assim que ele se sentiu quando chegou à casa de seu pai, na América.

Assim que chegaram serventes vieram ajudar a carregar as bagagens e receber sua senhoria. Vanessa não tinha se acostumado com a ideia de que era patroa daquelas pessoas, nem de que aquilo tudo a pertencia. Desde o falecimento dos pais, ela tinha deixado tudo por conta do contador amigo de seu pai.

Era estranho voltar para aquela casa e ver aquelas pessoas esperando que ela lhes desse alguma ordem. Ela não tinha a menor noção de como funcionava a casa. Como saberia dizer o que as pessoas que moravam ali deveriam fazer?

Vanessa apenas pediu para a governanta arrumar os quartos e providenciar algo simples para o jantar.

A casa continuava do jeito que ela se lembrava. Tudo era mantido no mesmo lugar, as cortinas nas janelas estavam limpas, o chão estava encerado e até as flores que a mãe gostava de ter pela casa estavam lá nos vasos. Se ela não soubesse que seus pais não estavam mais vivos era capaz de ter certeza de que encontraria o pai sentado na sala, perto da lareira relendo algum processo e a mãe na cadeira em frente lendo poesias de Shelley.

Nada fica sozinho neste mundo;

Tudo, por uma lei divina,

Entre si se mistura e se confunde: - Por que eu não consigo?

Ethan observava a casa com admiração e curiosidade. Ele sabia da origem abastada de Vanessa, mas entre saber e ver de onde ela vinha tinha uma grande diferença. A atmosfera da casa dos Ives era estranhamente acolhedora.

Vanessa subiu as escadas sem pressa e Ethan a seguia observando os detalhes dos quadros na parede. Ela parou em frente à porta de seu quarto e hesitou em abri-lo.

VANESSA: Este era o meu quarto. O quarto de hóspedes fica no fim do corredor. – Ela apontou a direção, mas Ethan não fez nenhuma menção de sair do lugar. Ela imaginou que ele queria ver o que estava atrás da porta, então o convidou para entrar. – Não ria.

Ele olhou curioso para ela e deu um sorriso.

ETHAN: Nunca.

Ela abriu e entrou. A cama estava arrumada com uma colcha floral, cheia de travesseiros e almofadas. Como o resto da casa, a cor escura da madeira prevalecia pelo quarto. A metade debaixo da parede era de um tom rosado, a outra parte tinha um papel de parede bege com arabescos em tons terrosos. A roupa de cama, os tapetes e as cortinas combinavam com as cores do quarto. Luminárias, vasos e castiçais estavam arrumados sobre a lareira, a penteadeira e as mesas de cabeceira. Uma pequena coleção de livros de poesia estava empilhada em uma mesa no canto. Quadros com pinturas de paisagens, bonecas e crianças enfeitavam as paredes. Em cima das cadeiras algumas bonecas marcavam a presença indicando que ali já dormiu uma garotinha.

Após a escuridão abençoadaOnde histórias criam vida. Descubra agora