10. DIFÍCIL DE EXPLICAR.

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O prédio do depósito era amplo, alto e com duas janelas no topo. A fachada era simples, pintada em cor de chumbo com um grande portão de ferro daqueles comerciais que sobem e descem fazendo um barulho ensurdecedor. Parecia mais uma espécie de celeiro de concreto ou algo do gênero.

Hazel tentou secar os pés em um capacho na entrada e logo viu uma placa que proibia a entrada de animais.

"Eu não posso te abandonar aqui, não é?" disse olhando nos olhos amarelados do seu pequeno amigo.

E então, torcendo para que ele ficasse em silêncio, colocou-o quietinho dentro de sua mochila, em cima de seus livros.

Transportando a mochila com cuidado, seguiu rumo ao interior do local. Era uma espécie de pequena recepção, mas ficava vazia. Um pouco mais à frente, havia uma parede com uma porta dupla que anunciava que o estabelecimento estava fechado. Ao lado havia um quadro de avisos e propagandas e uma empilhadeira manual com caixas vazias estava abandonada num canto.

Quando ela entrou pela porta pôde ver que a estrutura do prédio era realmente grande.

À sua frente havia um amplo e largo caminho, onde caberia perfeitamente uma loja de conveniências, ladeado por muitas portas de correr amplas, algumas abertas, revelando garagens alugáveis com muitas caixas, algumas malas e até uma motocicleta.

As janelas ficavam no topo, se projetando em diagonal sobre o local, o teto muito alto com uma claraboia para ajudar a iluminar. Mesmo assim, tudo parecia um pouco escuro. Havia lâmpadas fluorescentes penduradas lá e cá, mas estavam apagadas.

Ao fundo havia um balcão com um computador e algumas estantes altas de ferro, com escadas apoiadas. Mais ao fundo havia um amplo portão que, aberto, revelava um pavilhão escuro com estantes e estruturas ainda mais altas visíveis.

Agora ela sabia por que o tal gerente estava esperando funcionários mais robustos.

Sentados em bancos na frente do balcão estavam Lily e Max, que a encaravam surpresos.

– Hazel, o que houve? Você está vinte minutos atrasada e está pingando água por tudo! – exasperou-se Lily.

– Se eu te contasse você não acreditaria – e, virando-se para Max – Desculpe, Max. Eu sei que foi você que me recomendou e eu...

– Hazel, está tudo bem! Meu amigo pode ser um pouco chato com atrasos, mas você só precisa explicar o que aconteceu que ele vai entender. Você deve ter sofrido algum acidente, a julgar pelo estado de seus sapatos ensopados.

Ela suspirou.

– Tudo bem, claro, eu explico. Mesmo que eu não possa... – olhou para dentro da mochila e o gatinho já dormia, enroladinho.  – Ah, eu explico depois. Melhor não me demorar mais.

Max assentiu e a guiou até uma porta que ficava à esquerda nos fundos do balcão. Hazel ajeitou seu rabo de cavalo e a gola de sua camisa, entrando na sala e abraçando a mochila com cuidado. Fechou a porta.

Seu coração batia muito rapidamente, pois já estava nervosa por não saber o que esperar, mesmo antes do incidente esquisito com a água, o atraso e o gato. O rosto de seu paquerador lhe veio à mente e ela corou, lembrando o que lhe disseram sobre ele ser uma "pessoa diferente".

Sua dúvida sobre estar querendo ou não que ele lembrasse dela a estava consumindo.

A sala era pequena, com uma porta lateral que parecia dar para o exterior e uma janela ao fundo. As persianas estavam entreabertas, mantendo o ambiente tão escuro quanto o resto das dependências do prédio. Era uma espécie de escritório, com uma mesa de pinho surrada com muitos papéis. O resto do ambiente era ladeado por arquivos altos.

Sentado do outro lado da mesa, apoiado na bancada e virado de costas, estava um rapaz magro vestindo uma camiseta cinza básica. Parecia estar lendo algo.

Ela pigarreou.

– Com licença, senhor. Vim me apresentar para a entrevista.

O garoto já a ouvira entrar, mas apenas virou-se após sua introdução, ajeitando-se de braços cruzados.

Era ele mesmo, mas ao mesmo tempo não era: sua pele ainda reluzia pálida em contraste com seus cabelos pretos e seus olhos ainda eram castanhos muito escuros e intensos, mas eles a encaravam muito sérios.

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